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O blog atém-se às questões humanas. Dispensa extremismos ou patrulhas. Que brilhe a sua luz. Bem-vindo e bem-vinda!

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009


Eta, cavalo bão! – Publicada na tribuna Piracicabana em 19/12/08

Um cavalo bom de tração e montaria. O bater de patas na cocheira, o olhar de mansidão daqueles olhos enormes e redondos, mastigando ração. Conhecia o dono. De manhã, após um assobio ouvia-se o bater de cascos pela invernada. Parava imponente, mas abaixava humilde a cabeça ao laço do destino. Puxar carroça ao mercado. O cavalo fugira algumas vezes e logo fora achado por vizinhos. Ia comendo o capim da beirada do sitio e logo passava a cerca sem se dar conta da demarcação humana. Vinha humilde e com ar de inocente pela rédea de algum tropeiro, separando dos outros perdidos em busca da liberdade.
Quando morreu o sultão, o dono não quis comprar cavalo ali, porque os ciganos tinham fama de pintar os animais com carvão e vendê-los à noite. Não conseguia achar outro animal igual ao seu. Cavalo de saudosa memória. Bonito, imponente, forte, com uma marca branca na testa, sinal de sorte. Virava-se com um burro mesmo, que empinava arredio na carroça e fazia o cocheiro valer-se do chicote, quase em desuso, devido à obediência do cavalo de outrora. Era um burro empacador e nem o látego o tirava do lugar. O dono lhe oferecia alface, cenoura e irado, acabava lhe dando o chicote no lombo mesmo, sem nenhum resultado.
Saiu à procura de outro animal numa montaria emprestada. Passou pelos ciganos e foi em frente. Chegou a um sítio de um caboclo. Foi abrindo a porteira sem desmontar. Antes que passasse no caminho de serventia, um homem apareceu acompanhado de um menino armado de espingarda. Teve de parar ali mesmo sob a mira inocente de um mau atirador. O pai veio ter com ele. Para seguir tinha de pedir permissão, aquilo era propriedade privada. O menino de chapéu atolado na cabeça mirava o estranho e perguntava ao pai se já podia atirar, como quem pratica tiro ao alvo. O estranho se escondia na sombra do mourão e se explicava até que o pai mandou o menino baixar a arma.
Entrou no sitio e o dono da propriedade lhe foi gentil, dizendo que se estava a negócios não precisava ir mais longe. Tinha ali mesmo um cavalo de primeira. Foi negociando e enredando o estranho, o filho o acompanhava com a arma abaixada. Uma conversa simpática foi tomando conta dos dois. As lembranças do cavalo morto, suas façanhas, os préstimos dele. O velhaco serviu um café ao visitante ameaçado, fê-lo sentir em casa e já à tardinha, escurecendo, foi com ele para cocheira junto com o menino à socapa. Ali estava o cavalo. Na verdade, um pangaré cansado e velho, à sombra da cocheira e visto à silhueta. Mas a caboclo ia dizendo que era bonito, altivo. Igual ao seu sultão. Olha os dentes, a pelagem, o rabo, as patas. O trote dele é belíssimo, forte e marchado, as orelhas bem formadas, era um cavalo de filme mesmo. Puxava toras, carroções de milho, montaria para mulher e com pouca comida, com pouca água, tinha a resistência de um camelo.
O filho seguia a conversa com os olhos pra lá e pra cá, já sem o ímpeto do primeiro alvo, admirado com as palavras do pai. O dono do Sultão, ainda sentido pela morte recente de seu cavalo, com pouco dinheiro, ia transferindo o seu afeto pelo novo animal. Aquele quadrúpede ali mexia com o seu coração. Eta, cavalo bão! Sentiu. O negócio estava quase fechado, mas o menino se interpôs: - Paiê, se o cavalo é bão ansim, vamo ficá cum ele, ué!
Da contribuição verbal de Alessio Quartarollo

3 comentários:

  1. Gostei da participaçao do menino! Será que seria você quando pequeno? Sabido!! E o Seu Alessio, contadô de história...

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  2. Agora sim Camilo. Vou me divertir com isso. É bem mais fácil. Valeu. Abraço!!!

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  3. MARIA HELENA QUARTAROLO4 de abril de 2009 às 14:03

    nossa MUITO LINDO ADOREI BJUSSSSSS

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