Conteúdo

O blog atém-se às questões humanas. Dispensa extremismos ou patrulhas. Que brilhe a sua luz. Bem-vindo e bem-vinda!

sábado, 30 de outubro de 2010



Casa na enseada

Sobre o monte fez uma mansão. Obra faraônica ao lado de uma reserva de floresta. Os quatis passeavam pelos corredores, a noite já pensara ouvir miados de onça, abaixo um riacho ou veio de água também era ouvido. Pelos enormes vidros do corredor interno ao lado do quarto viam-se macacos saltitando pelas árvores próximas.
Dentro da mansão-casa, nos seus domínios mantinha um angorá de estimação, posudo, doméstico e acomodado. Os vidros lhe davam a visão do pôr-do-sol e o amanhecer mais lindo do monte, a ver o mundo como Zeus, mas os quatis que passeavam fora não via o gato – as janelas tinham vidros especiais. Via-se de dentro para fora, mas não de fora para dentro.
Numa manhã o dono acordou com um tóc-tóc de leve. De inicio não se incomodava, virava e dormia, sonolento. O que era? Não, não tinha forças para levantar, cansado. As crianças viram - Papai, é um lindo pica-pau! Os filhos admiravam-se de ver um pássaro arisco e tão próximo – os vidros especiais permitiam. Eles o viam, mas o pássaro via a si mesmo. Estava medindo força com um rival, seu reflexo. A casa ali era perfeita, mas o guarda florestal advertiu, era próxima de uma reserva e o invasor eram eles. As crianças desciam pelas trilhas e voltavam com os olhos brilhando ante a diversidade e exuberância. A esposa e as crianças adoram a moradia, mas nas primeiras horas do dia aquele tóc-tóc e com o passar do tempo a ave estava mais insistente. É a fase de acasalamento, estão no cio – explicava o policial do IBAMA – e matá-lo é crime inafiançável, heim! Dá cadeia mesmo, é pior que sonegar imposto. O amigo biólogo o acalmava – é um casal, não vê? Ela fica lá na árvore comendo bichinhos e ele vem até ao vidro para defender o território. O dono limitou-se a pôr um mourão para atrair os batuques daquela ave topetuda, ia enganá-la, mas pica-pau não pica pau morto, desiludiu-lhe o guarda.
Cansado e de olheiras, não estava a fim de discutir o sexo das aves, mudou-se de quarto, para o lado oposto da casa, onde seu gato perambulava com maciez e miava sutil, era um recuo estratégico, até que as aves findassem as sessões de acasalamento. Mas qual o quê?
Por estranho motivo, na manhã seguinte a ave bicava a janela de seu novo quarto e mais intensamente. Parecia que seus hormônios afloravam de vez e lutava com um bando na janela. O gato o viu, mas o intruso só via o oponente empenado. O felino subiu sobre um móvel e batia a pata no vidro para afugentar o intruso. O pica-pau voltava com manobras e loop de voo e atacava a vidraça como esquadrilheiro, mas de susto o gato perdeu o equilíbrio, caindo se agarrou num xaxim da parede que se esfarelou no chão e caiu em pé rosnando. Miava feito uma onça, a predador, voltou sobre o móvel saltando e arranhando as paredes e tentava revanche contra o bicudo que enchia a janela de tóc-tóc desesperados.
Se as crianças abrissem a janela para a ave entrar, o outro lado da realidade seria mais fatal ao pássaro. Mal sabia a ave nervosa que lutava com um pica-pau imaginário, podia ser comido por um gato invisível e morto numa toca de humanos.
Meu voto:
Boas eleições e votos de uma feliz decisão, não vamos acabar com raça de ninguém, respeitemos a democracia e todos os partidos constituídos e devidamente legalizados. Devemos acabar sim é com o preconceito, esse não produz benefícios a ninguém, porque é medo; prudência tem-se na Lei e na democracia, hoje constituída num estado de direito. É o meu voto.
O blogueiro. (sábado, 30/10/10)

sábado, 23 de outubro de 2010

















Publicação do blog:
Amigos, este texto refere-se à múmia verdadeira encontrada em Tirol e que muitos programas e notícias já se fez sobre a mesma. Espera que divirtam-se com o vovô Patusko. Se (não) gostarem da abordagem deste ou de algum outro texto, façam suas críticas. Postei várias imagens de Tirol e do suposto patrulheiro. Um abraço.
O blogueiro.
Aproveito para agradecer pelos acessos e aos compradores de O Efeito Espacial e pelos e-mail sobre o livro. Abraço a todos e estamos abertos a qualquer questão que possa nos ajudar mutuamente.

Múmia tirolesa (Ficção)

Vovô Patusko viajou à Itália. Passeios pela cidade entre as pombas da praça. O dinheiro ia escasseando, arrumou “bico”. Lavador de carro, garçom, lenhador até e polícia rodoviária italiana na região próxima ao Tirol, em rondas noturnas.
Numa das rondas com Giuseppe até a fronteira da Áustria em que tremia de frio, seus neurônios estavam quase a zero grau, queria voltar. No acostamento viam os carros que passavam trazendo o ar frio neles. Entraram mais adentro do acostamento, quase na geleira e viram um indigente morto pelo frio, quase encoberto pela neve, a alguns metros da fronteira.
O companheiro ia fazer uma ocorrência, mas Patusko o impediu, queria voltar logo para casa. O indigente? Já estava morto e tinha de ser tirolês. Era só repatriar o infeliz além fronteira. Que fosse recolhido pela ronda Austríaca. O frio manteria o indigente morto e incorruptível, mas na Áustria. E antes que o companheiro puxasse suas anotações
, sem mais olhar o corpo, vovô empurrou com a bota o defunto estrangeiro e voltaram para casa.
Na manhã seguinte, Giuseppe o acordou e quase deu um soco no brasileiro. Perdia-se nas frases de tão ansioso. Falava de patriotismo, honra, e por fim acrescentou que “o indigente italiano que você jogou para a Áustria tinha cinco mil anos!”. Pat
usko pensou que o colega estava bêbado. O indigente pareceu-lhe velho, mas cinco mil anos! Naquela neve todo mundo parece ter cinco mil anos. Então ligou a TV e a notícia corria pelos jornais de TV e impresso. O mundo já soubera nas primeiras horas. A Áustria divulgara o achado pré-histórico deles, que desbotou a amizade dos patrulheiros. Então Patusko lavrou a ocorrência com data retroativa, inserindo um “deslizamento acidental” do corpo sobre a fria neve até o país vizinho onde foi recolhido pelo serviço que recolhia múmias, mas a múmia era italiana, frisou em negrito. Passou as anotações ao chefe e começou a celeuma internacional. De quem era a múmia? Quem a recolheu, suas impressões digitais, a indumentária, a bolsa que portava? Apareceu até uma dona que queria usar o DNA dele para ter um filho ancestral. Os austríacos reivindicavam o achado. Já tinham o corpo recolhido num laboratório para estudá-lo com escâner, sem bisturis para não ferirem o morto ilustre. A notícia e os boatos fervilhavam em todos os jornais. E a múmia, vovô?
Patusko tentou consertar o desatino da noite anterior e entrou furtivamente no laboratório de dessecação disfarçado de cientista, todo de branco e
de óculos escuros. Lá jazia o corpo esquelético onde se lia numa tabuleta: Múmia de cinco mil anos. Podia ser seu antepassado, ter brigado com dinossauros, sabe-se lá. Conheciam-se somente há algumas horas atrás, na fronteira, chutara aquele corpo estranho. Olhava para ele e parece que ia falar. As mãos ainda com carne e uma luva tosca parecia repousar do frio exterior. Os maxilares impressionavam pela força e determinação. Sem conhecimentos específicos daquele gélido cadáver ancestral, cuja aparência conjecturava.
Patusko falava por um celular e pegou a bolsa de couro do infeliz:
- folhas de chás, sementes, canivete, êpa! Essa múmia não é italiana não, ói, uma pamonha mordida, uma foto do Salto de Piracicaba! - Mas antes de acabar alguém se levantou e:
-Devorve meu celular aí, meu; num dá nem pá tirá um cuchilo, vô te contá, viu!

sábado, 16 de outubro de 2010

Como sempre, agradeço aos acessos e leitores de O Efeito Espacial, restam poucos e estão à venda na Libral e Nobel do centro de Piracicaba ou por e-mail. Apressem-se antes que o natal chegue.
Como siempre, agradezco a los lectores de los accesos y efectos espaciales, hay pocos y están a la venta en Libral y Nobel Piracicaba Center o por correo electrónico. Prisa antes de que llegue esa Navidad.

Divulgação:

Tudo o que não invento é falso é uma peça teatral dirigida por Márcio Abegão e com vários prêmios. Vejo que nesta frase de Manoel de Barros, cuja referida peça trabalha o textos dele, mostra que o conhecimento passa pela fantasia, e se não invento ou reinvento, as coisas me são falsas. De fato, ele é um poeta essencial. Aproveito para refletir sobre a percepção que temos das pessoas ao nosso lado. Cada um olha para si mesmo, numa psicologia defensiva e nada sabe do outro até o momento que adoece, que morre ou ganha ou tem um fato notório. Daí sim, tem de ser noticiado globalmente e entra no panteão de santos da mídia. Não é o caso desse desnobelizado poeta dos fundos dos rincões, onde "os bois o criaram". Parabéns ao Abegão e ao grupo e assistam.

Divulgación: todo no invención es false es una obra de teatro dirigida por Márcio Abegão y con varios premios. Veo que esta frase de Manoel de Barros, cuya pieza funciona los textos que se refiere a él, muestra que los conocimientos se pasa a través de fantasía, y si no invención o reinvento, las cosas son falsas. De hecho, es un poeta esencial. Aprovechar esta oportunidad para reflexionar sobre la percepción que tenemos de las personas a nuestro lado. Cada uno de ellos un vistazo para usted, una psicología defensiva y nada sabe el otro hasta el momento en el que enfermo, antes de morir, gana o tiene una bien establecida. Sí, debe ser notificado en el mundo y entra en el Panteón de los Santos de los medios de comunicación. No es el caso llega de fondos de la poeta desnobelizado, donde "creado el bois". Enhorabuena a Abegão y grupo y asistencia


Quase gêmeo (quase ficção)


Nasci depois de vinte meses dele. Perdi a carona com a cegonha branca ou estava num ninho distante, talvez na Itália setentrional, mas cheguei meio sem jeito. Minha mãe menstruou durante toda a gestação e não me esperava mais. Quando nasci, depois da tapa na bunda, minha mãe quis me batizar logo e por o nome do santo dos doentes, Camilo de Lellis, mas meu pai - já que eu tinha vindo mesmo - não me queria tão santo e trocou o de Lellis pelo Irineu. Conseguiu contornar a esposa, tendo em vista que o segundo nome era variação de Irene, a mãe dela. Escapei das honras do altar pela primeira vez, inda bem! Obrigado, pai. Mais tarde saí do seminário antes de pôr a batina e hoje sou casado. Não me vão pegar tão fácil à carolice.
Voltando ao início, dei-me por nascido. Depois de doente por anos devido a um desmame precoce, não mamei mais e até hoje tenho problemas com os sons bilabiais. Mas na família que Deus me deu identifiquei o quase gêmeo, o apressadinho. As pessoas se referiam a nós como tais, gêmeos; eram dois pintinhos, eu amarelo e o outro preto. Por incrível que pareça era mais franzino, minha mãe temia pela saúde dele. Eu, depois da doença à quase morte, de magro revigorei e já cantava de galo, mas o outro era lépido, mesmo franzino. Tinha coisas que eu não sabia fazer e nem tinha a esperteza necessária. Família pobre, as roupas, presentes dos tios e avós, eram de uso comum, dos mais velhos aos mais novos, eu ficava com as dele.
Mas o primeiro triciclo! Eu andava atrás, corria e não chegava a minha vez de montar e pedalar. Era eu! Eu já era...a bicicleta passava num nhéque, nhéque pela sala, pela cozinha, pelo corredor, ufa! Aquela bicicletinha azul, miniatura que nos fazia importante, uma simulação do mundo dos adultos e do nosso mundo de criança. Por vezes, parece que ainda estou correndo atrás daquela bicicleta pela casa, onde o espaço era nosso; mas quando a via estacionada num canto, com os pedais parados no quarto e podia pegá-la, sentia que precisava de mais alguém para brincar, o meu irmão quase-gêmeo. Sozinho não tinha graça.
Porém, cheguei um pouco atrasado ao mundo. Verifico isso hoje, muito se passou sem que eu tivesse consciência ou a consciência que se tem. Pus-me a estudar História e no final a gente se vê reinventando o passado, o que existe é o presente. Se eu nascesse hoje não seria diferente, não seria gêmeo de ninguém. Mesmo no útero, eu era como os jogadores que antes de chutar dão uma paradinha. Fui educado, tinha de me preparar, olhei, pensei e acabei nascendo pelado mesmo. Mesmo antes de vestir eu quero saber da bicicleta azul, das azedinhas que colhíamos no mato, da água do vaso de flores que bebi, do arame que enfiei no canto dos olhos, da cicatriz de faca nos meus dedos, da lapa do dedo que tirei numa pelada de rua, dos meus sapatos furados, da alma do outro mundo, da porquinha que escapou do chiqueiro, da mulher que beijava bunda de neném, do seu João que tomava pinga na mamadeira, de mim mesmo. Aquela bicicletinha azul com os pedais parados são recordações, como um sonho que se sonha a só, por isso o texto e o mundo de muitos outros significantes e textos que lanço. Vão brincá de bicicreta, Baso?

casi gemelas (casi ficción)
Nació después de veinte meses de ella. Perdida el Paseo con la cigüeña blanca era un nido o distantes, quizás en el norte de Italia, pero conseguí la mitad torpemente. Mi madre está menstruando a lo largo de la gestación y yo más esperados. Cuando yo nací, después de la bofetada en el culo, mi madre quería que me a bautizar el logotipo y por el santo nombre de pacientes, Camilo de Lellis, pero mi padre ya había sido incluso-no me quería como Santo y intercambiaron el de Lellis por Ireneo de Lyon. Podría eludir a la esposa, como el nombre del segundo fue la variación de Irene, su madre. Escapó honra el altar por primera vez, inda bien! Gracias, papá. Más tarde dejó el seminario antes de poner la sotana y hoy estoy casado. Recogerá tan fácil a carolice. Volviendo al principio, me ha dado nacido. Después de enfermos durante años debido a un temprano destete, no mamei más y aún hoy tengo problemas con el bilabiais de sonidos. Pero en la familia que Dios me dio la identificados casi gemelos, apressadinho. Las personas a que refiere la letra a nosotros como tal, gemelos; fueron dos polluelos, I amarillo y el otro negro. Sorprendentemente fue más delgadas, mi madre temía por su salud. Después de la muerte, enfermedad revigorei casi bajita y ya cantó de Cock, pero el otro fue Lépido mismo delgado. ¿Había cosas que no sabía que hacer y ni la inteligencia necesaria. Familia pobre, ropa, regalos de tíos y abuelos, eran de uso común, de antiguo a más reciente, estuve con él. Pero el primer triciclo! Yo caminaba detrás, corrió y no alcanzado mi tiempo para montar y pedalear. Estaba yo! Ya estuve... la moto fue un nhéque, nhéque por habitación, cocina, corredor, ver! Ese bicicletinha de miniatura azul, hemos hecho importante, una simulación del mundo de los adultos y los niños de nuestro mundo. A veces parece que todavía estoy ejecutando detrás de esa bicicleta alrededor de la casa, donde el espacio era nuestro; pero cuando la vía estacionado en una esquina, con los pedales se detuvo en la sala y podría conseguir, sintió que necesitaba alguien a jugar con mi hermano casi-gemelos. Por sí solo no era libre. Sin embargo, llegó un poco tarde para el mundo. Veo esto hoy en día, mucho ha ocurrido sin que he tenido conocimiento o conciencia que tiene. Pus me estudiar historia y al final todo el mundo ve reinventar el pasado, lo que es esto. Si fueron nacido hoy no sería diferente, no sería el doble de cualquier persona. Incluso en el útero, estaba como jugadores antes de patada dan un paradinha. Fui educado, tenía que prepararme, miré, pensamiento y terminó siendo nacido sin pelo. Incluso antes de vestir que me pregunto azul, la moto que azedinhas colhíamos Mato, agua del jarrón de flores que bebía, de alambre que se inició en la esquina de los ojos, cicatriz cuchillo en mis dedos, da lapa dedo que tomé una calle desnuda de mis zapatos atascado, el alma del otro mundo, porquinha que escaparon el Orzuelo, las mujeres que lograron a culo bebé, John quien tomó pinga en botella, de mí mismo. Ese azul con pedales bicicletinha detenido son recuerdos, como un sueño sueños sólo, por lo que el texto y el mundo de muchos otros significativos y textos que transportar. ¿Vaya brincá de bicicreta, Baso?
Em respeito aos seguidores de língua Hispânica traduzo, grato.

Comente abaixo, abraços

sábado, 9 de outubro de 2010

Vargas > .......... Guerra de Canudos > ....o canudo do ...... NOBEL

VIDE APÓS O TEXTO DO BLOG, ABAIXO, antes uma Piadinha: Não vou deixar não. Vai uma piadinha: “Se dessem-me o Nobel de Literatura (que pretensão!) como deram o Nobel da Paz ao OBAMA para implantar a paz no mundo – como incentivo pela sua eleição, quem sabe eu faria uma literatura melhor, mas ele implantará a paz?” Não riam, não em graça. Todo prêmio traz um castigo, não é de graça. A boa literatura vale pela sua expressão de realidades e não por estética simplesmente, por isso vide Guerra de Canudos que Vargas se debruça. Euclides da Cunha não se curvou e seguiu a essência, contrariando a política do época com chavões contra e a favor à monarquia, mas o que estava em jogo era a vida daqueles pobres do sertão tão bem retratados como Hercules-quasímodos. Os governos passaram, o registro ficou no povo e no livro e no Peru. Comento após o texto O chapéu do nono.

(O Seminário)

Grato aos leitores que adquiriram os quase 300 exemplares de (O Efeito Espacial) e pelas manifestações de apreço e de crítica. Você também pode fazê-lo pelo e-mail camilo.i@ig.com.br. Os desenhos abaixo é um estudo meu para o próximo projeto de livro, O Seminário. Depois de trinta anos na gaveta, fui seminarista em 82-85, criei um romance mas não publiquei. Se o fizer agora, mais volumoso que O Efeito Espacial o farei em poucos exemplares devido ao preço e sob encomenda. Você poderá ter o seu, tem várias pessoas que o querem ler de qualquer jeito, até no prelo, mas o quero bem acabado e sem rasuras em quem quer que seja.





O CHAPÉU DO NONO




O chapéu do nono (ficção)

O nono tinha um chapéu que sempre pendurava ao chegar. Sempre gostei daquele chapéu, mas com o respeito que impunha, nunca tive a liberdade de pegá-lo ou alcançá-lo no cabide. Hoje o nono é morto, o chapéu ficou por lá sem a cabeça dele. Uma lembrança de quem o usou. Um belo chapéu. Nunca usei chapéu algum, bonés sim, chapéus nos envelhecem, pensava e velho era o nono e outras pessoas da sua geração.
Num desses dias de sol e de sábado, vendo o chapéu à-toa resolvi pô-lo à minha cabeça. Ademais estava careca como o vovô. Era meio incomodo, deslocado usar um chapéu de alguém falecido, mas era alguém do meu DNA. Até via o nono rindo em seus bigodes grisalhos vendo o neto ridículo pelas ruas. Tomei emprestado para ir ao trabalho e voltar, socorrendo-me do sol de verão. Como medito e até viajo em pensamento, as lembranças dele me tomavam as idéias.
Depois do trabalho, quando estava à só em casa, aproveitava para ir às compras com o mesmo chapéu. O centro novo da cidade. Lembrava-se segurando em suas mãos o mercado velho, o pastel e as imensas ruas de calçamento de pedras. Subia na carroça e o cavalo ia raspando as ferraduras. A sombra do homem de chapéu o conduzia.
Eu subia as ruas agora a pé e a carroça ia na minha memória, flores nas janelas das casas, um portão que bate, o cheiro de comida caseira e vozes das pessoas lá dentro. A vida urbana era assim. Aos poucos tudo ficava para trás e o silêncio ia mudando as coisas, o cavalo já trotava e a carroça já ia chegar a casa.
Outro dia sai com o chapéu. Passei tranquilo por uma casa antiga, mas tive a impressão que alguém me olhava. Podia também ser uma mancha do vidro, isso acontece. Mas mancha não se mexe. Quem mora aí? Perguntei à vizinha. Ninguém desde que a antiga proprietário faleceu, foi a reposta. Sim, agora me lembrava, o nono viúvo andara por aqui e tinha uma paquera. Emilia, esse era o nome. Noutro dia passei e quis entrar, pulei o portão de madeira e estava dentro do casarão de assoalho e um cheiro de velharia. Subi a escada para o andar de cima até a sacada. A janela de vidro manchado. Alguém mais esteve ali e escreveu bem tosco no vidro “Emilia”.
Desci meio sem jeito e fingi que era o proprietário aos transeuntes. Se soubessem que era invasor ia pegar mal. Num minuto ganhei a rua e o casarão ficou lá atrás. Cheguei à minha casa, almocei a comida de minha amada e relaxei no sofá. Vai sair à tarde, bem? Perguntou-me. Claro, preciso exercitar-me, respondi. Levantei-me, mas cadê o chapéu?! Nunca mais o vi nesse mundo.
Vargas Llosa:
Vargas Llosa sofreu a influência do Existencialismo de Jean Paul Sartre. Muitos dos seus escritos são autobiográficos, como "A cidade e os cachorros" (1963), "A Casa Verde" (1966) e "Tia Júlia e o Escrevinhador"(1977). Por A cidade e os cachorros recebeu o Prêmio Biblioteca Breve da Editora Seix [Barral e o Prêmio da Crítica de 1963. Casa Verde narra a vida das personagens em um bordel, cujo nome dá título ao livro. No Conversa na Catedral publicado o próprio Vargas Llosa caracterizou como obra completa, narra fases da sociedade peruana sob a ditadura de Odria em 1950, é um um encontro na Catedral entre dois personagens: o filho de um ministro e um motorista particular. O romance caracteriza-se por uma sofisticada técnica narrativa, alternando a conversa dos dois e cenas do passado. Em 1981publica A Guerra do Fim do Mundo, sobre a GUERRA DE CANUDOS que dedica ao escritor brasileiro EUCLIDES DA CUNHA autor de OS SERTÕES. Neste ano de 2010 foi agraciado com o por sua "por sua cartografia de estruturas de poder e suas imagens vigorosas sobre a resistência, revolta e derrota individual". Esse é do Peru.

sábado, 2 de outubro de 2010

Divulgação:
“Teteco teco nos tamancos
Cocola cola no sapatão
Ziguezague a linha
Agulha na mão.”

TECO TETECO é um poema de Luzia Stocco. Joga com som e repetições de palavras e ações numa vivência criativa e consciente, publicado na íntegra no seu blog http://literarteluziastocco.blogspot.com/




Grato aos leitores que adquiriram os quase 300 exemplares de O Efeito Espacial e pelas manifestações de apreço e de crítica. Você também pode fazê-lo pelo e-mail camilo.i@ig.com.br.
Os desenhos abaixo é um estudo meu para o próximo projeto de livro, O Seminário. Depois de trinta anos na gaveta, fui seminarista em 82-85, criei um romance mas não publiquei. Se o fizer agora, mais volumoso que O Efeito Espacial o farei em poucos exemplares devido ao preço e sob encomenda. Você poderá ter o seu, tem várias pessoas que o querem ler de qualquer jeito, até no prelo, mas o quero bem acabado e sem rasuras em quem quer que seja.


Cidade dos mendigos

Gotículas que molham o mendigo lá embaixo na calçada e não sabe que o jardineiro anônimo sou eu. Não pode me alcançar, o vi quando saí pela portaria e lhe dei duas moedas de cinco centavos, que me incomodavam frias no bolso. Em troca agradeceu ao “seu dotô”. Tenho roupas boas, “algum” no banco, títulos não, mas moro lá no meio de gente rica e vejo o crepúsculo. Nem olho mais, de tanto que vejo nem olho. Pra quê? Isso sempre me deu tristeza e minhas flores não precisam de sol, comprei numa lojinha logo ali embaixo na esquina, paguei barato e têm outras, de todas as cores e tipos, imitam Holambra, vou dar algumas de presente e o regador fica por conta de quem ganhar.
Todos os dias antes de sair rego plantas. Do meu prédio, da cobertura, minhas flores plásticas e verdes, sempre verdes sem pragas ou borboletas, sem beija-flores e insetos. A água é limpa, clorada e filtrada de um regador limpo, mas não tenho tempo de vê-las crescer.
Mas essa gente não sai da calçada. Esse
mendigo insiste em ficar aí. O pior é que um morreu e noutro dia já tem alguém marcando território com as palmas estendidas. Sou religioso sempre contribuo com algum na mão deles. Dizem que lá nos países ricos, de primeiríssimo mundo, não é assim. Meu vizinho passa as férias por lá e me conta. Lá, onde tem dinheiro tem os mendigos clow, têm os parados como estátua, os de mãos espalmadas e “têm glamour” – usam jeans ou roupas sociais, tudo combinando com um mendigo de primeiro mundo. Mendigos não, imigrantes de onde os países empobreceram.
Outro dia, só por curiosidade, pus-me a seguir o mendigo manco. Todo mendigo é meio manco ou anda esquisito com um saco quase vazio às costas e, na maioria das vezes, tem um cachorro que vigia a gente que passa ou mesmo caridosos como eu. Todos meio iguais, como as minhas flores de loja.
Como tossia o homem! Devia sair da marquise aberta, se os pingos do meu regador o molham. Que tolo! O sol já o seca, só alguns passos já toma o ônibus, se quiser. O coletivo passou e ele nem se deu ao trabalho de estender o braço! Vai a pé? Sim, vi o tal outro dia com minha luneta, ele mora distante, aliás, tive de parar de olhar porque a vizinha do outro lado estava incomodada.
Mas foi assim que cheguei a um punhado de casas amontoadas umas sobre as outras e ele desapareceu no meio das pessoas. Eram todos assim. Havia mulheres mendigas também. Mas que ousadia! Flores de verdade no parapeito de janelas velhas, tristes e baldias - nada escrito, mas era um lar. Eram catadores. Meu Deus! Foi isso! Esse mendigo que eu segui catou meus sonhos que caíram da cobertura. Pior, o mendigo era eu catando meus sonhos, e você? Mora na cobertura?