Conteúdo

O blog atém-se às questões humanas. Dispensa extremismos ou patrulhas. Que brilhe a sua luz. Bem-vindo e bem-vinda!

sábado, 30 de abril de 2011

Olá, amigos. Por falar em Bom aluno, hoje reecontrei por e-mail o amigo Dejalma Scotton, este menino, na época, lia um livro por semana e eu, vagabundo de carteirinha, lia algumas folhas no mês; todavia, ele conseguia comentar todo o texto e eu era o tipo que ouvia, tímido num canto, enquanto as meninas passavam e, que tempos! Elas queriam chamar a nossa atenção, falar de seus mundinhos e nóis, falavamos de outros mundos... Bem, verdade é que reencontrar amigos é uma graça Divina.

Anoto que o texto Bom aluno publicado há semanas trata-se de um pai "normal" que não conhece o filho e o pre-julga pelo tipo, mas este menino denuncia o espancamento à mãe, pelo que o pai fica preso. Não sei se o texto ficou claro ou se deu para se entender, se necessário, mexerei no texto.

Abç


Divulgação

Grato aos meios de comunicação, que nos estão dando espaço para divulgar O Seminário e mostrar as várias nuances do romance. Nesses dias estarei no yotube falando dele. Veja a entrevista concedida ao programa Sala de Star no yotube nesse endereço a seguir http://www.youtube.com/watch?v=T7XhJSfNjas


texto do blog: Folha de rostos
O jornal chegara a porta, mais precisamente, um forte vento de chuva rolou para o seu jardim aquela página de um vizinho dorminhoco. A vista de enormes nuvens escuras pegou o matutino e entrou. Sentou-se junto à mesa. Proclamas. Ah! O obituário. Quantas fotos e agradecimentos, sétimo dia, um mês, um ano de falecimento. Casa-se acima e morre-se ao pé da página. Tantos casamentos e mortes, pensou o velhinho. O neto puxava-lhe a perna sob a mesa, mas estava entretido com os mortos. “O que foi meu neto, estou vendo jornal, para ver se não morri durante a noite, ah, ah...”.
A vida também lhe era singular, mas algo o inquietava naquela ordem de coisas. De qualquer forma, a morte já era um fato, mas ao ver no obituário alguns rostos conhecidos, como o dono da venda, o bilheteiro, o padre da matriz e alguns que até poucos dias lhe davam bom-dia, decidiu que era contra. Não, não tem graça. Seus amigos morreram todos, seus pais e irmãos também e “Jesú non vem me buscá”, dizia para si pela imagem que tinha da morte e já não o assustava. Não sabia para onde, mas se foram queria ir também.
Curara-se de uma doença antiga. As dores desapareceram, os movimentos voltaram ao normal. Ria-se de uma doença que não pode com ele, mas a idade já lhe era muito avançada e o neto lhe puxava a perna. As crianças são assim mesmo, não compreendem que os velhos querem paz. A esposa velha passava com a travessa de arroz, tigela de feijão e outros quitutes, era uma boa cozinheira, mas era como não o visse, por certo cansara de seu rosto de rugas e das rusgas do cotidiano. Ia e vinha e ria somente para o neto que se escondia ali embaixo da mesa. A filha vinha, estava sempre um pouco chorosa de alguma perda que tivera. Mas essa é a atenção que se dá a um velho?!
Levantou-se da cadeira, o neto o acompanhou, foi até a porta, tentou abri-la, mas não conseguia abrir portas. Suas mãos como que passavam sobre o ferrolho e não o tocavam, estranho!? Voltou à janela, para ver os carros passar. Quanta gente tem nessa terra! Não pode ficar muito, porque o neto puxava-lhe os punhos para ver também. A filha chorona bem que poderia pegar o menino, mas parece que não o via ali o incomodando.
Lá os passantes sob a janela alta, guarda-chuvas e a corridinhas até o ponto de ônibus. A rotina deles. Naquela janela também era um invisível, apesar de seu sorriso e simpatia. O neto ainda lhe incomodava na barra das calças, ia levantá-lo para ver a rua, mas não conseguia carregar aquele barrigudinho, que fosse brincar com seus cavalinhos de madeira. O céu estava bem nublado, talvez fosse melhor fechar a janela. Mas antes que o fizesse a esposa a fechou, sem dizer uma palavra. Voltou à cadeira de balanço e o neto sentou no chão, olhando para ele.
A campainha tocou. Por fim alguma visita nesse domingo. A esposa abriu a porta um pouco triste, a filha olhou de longe lacrimosa e jogou o jornal velho no lixo. Ao passar a porta, as visitas já vieram perguntando a que horas se deram os óbitos. “Óbitos?! Que leiam os jornais, afinal, quem morre são os outros, não é meu netinho?”

sábado, 23 de abril de 2011

Feliz Páscoa,

gratos aos leitores de O Seminário e deste blog.


Charadinhas

Quem já leu o livro sabe quem é o narrador final?

Há duas pessoas com o mesmo nome no livro, quais?


Ainda no clima de sexta-feira posto um texto reflexivo sobre a morte e a crença cristã, vide abaixo. A pintura ao lado é de El Grecco que tinha o estilo de figuras altas e esguias, como a enunciar a mística; os tons de azul e amarelo, os contrapontos de cores opostas e complementares fazem os quadros monumentais.


Agonia de Pedro

Lá fora, depois do sepultamento, sons quaisquer de crianças brincando perto. Foragido, a vida lhe pega num assombro, nessas brincadeiras de criança. Que sabem elas? Acordando um velho medroso. O mestre fora morto, mas elas não têm medo das centúrias de Roma, nem tecem nenhuma ideologia, a vida floresce atrás de qualquer distração.
A noite cai e desde a manhã Pedro não sai, sucumbido e chororô. Quer ficar ali apegado em suas memórias boas, quer que passe logo esse tempo de luto, de sexta da paixão. Viu de longe, às escondidas, o sepultamento e lá jaz o corpo santo, mas um frêmito de morte lhe assusta em seu esconderijo e a vida o embaraça, um cavalo veloz levanta o pó na noite e some no galope. Um passante assobia pela ruela e vai distante, deixando solitário o caminho. Pode sair e ver a pedra que fecha a tumba, mas está guardada por soldados romanos. Jerusalém dorme.
Que juízo fazer desse mundo? Um tribuno incapaz, Pilatos O entregou à morte, mas ele O negou por três vezes. Roma, sempre esse nome inconveniente nos seus ouvidos - não, é ele mesmo. O muito pensar e o falso juízo tornam a vida pesada. A morte veio a quem mais amava e a vida lhe foi deixada como um sopro passageiro. O mestre disse que ressuscitaria no terceiro dia, até disso Pedro duvida. Mas um dia perante Deus é como mil anos e mil anos como um dia.
Então Pedro foi ao sepulcro, João corria na frente, corria e o velho chegou depois, viu roupas elegantemente dobradas com cuidado, mas o Corpo...
Até aos presentes dias não foi encontrado e as mais variadas versões surgem dos crentes e não crentes sobre o fenômeno cristão. Uma cilada da própria vida, crer pela fé. Eu não sei e bem provável que leitor não me peça explicação. Um cronista não tem resposta para isso, prefiro crer que o poder de Deus está naquelas crianças, às quais não podemos pôr impedimento ao encontro com a espiritualidade.

sábado, 16 de abril de 2011

O Bom aluno

Bom aluno

Este texto foi publicado em 26/04/10, há quase um ano na Tribuna Piracicabana e ontem, sexta-feira 16/04/2011, na E.E.Catharina Casale Padovani, de Santa Teresinha, estava dentre os dos escritores piracicabanos, o que muito me honrou. Faço menção também da solenidade comandada pelo professor Valmir com apresentações mui apropriadas e elegantes de declamações e canto, no qual não faltaram a sensibilidade e a ciência obtida nas aulas de espanhol, língua portuguesa e outras. Agradeço minha esposa Luzia Stocco, declamadora e escritora que se encarregou de enviar meu trabalho e eu de partilhar com outros ícones da literatura piracicabana no mesmo livro dessa escola.


Bom aluno (ficção)

Ligaram ao pai da D.P. Meu Deus, Juninho é um ladrão! Não dava para acreditar, mas hoje em dia? O menino andava querendo um tênis importado, daqueles que usavam na escola. Caríssimos. Não podia comprar. Passava pelas vitrines e ficava seduzido ante o vidro, o seu boné vermelho logo repercutia alguma coisa no segurança. Aquele garoto vivia rondando a loja e não entrava, ia dar uma incerta nele. Aquela mochila devia até conter tóxicos. Não o Juninho, meditava o pai. Sempre fora bem orientado. O celular pré-pago já preenchia o seu ego. Falava com os amigos e brincava com os jogos nele. Aproveitava todas as promoções da operadora, até dera um de presente à mãe. Mas agora o Juninho está lá embaixo no D.P. com seus dois pulsos miúdos algemados. Tinha os olhos negros da mãe, mas herdara o seu nome todo e um sufixo de confirmação: Junior. Tinha de livrá-lo, buscaria algum advogado, mas como pagar? Percebera nos olhos dele quando viu o dito “pisante”, mas quando a lojista falou o preço, meu Deus, eram os olhos da cara, coisa para rico mesmo. Tinha de comprar outras coisas, alimentação e roupas para o restante da família, mas o tênis ficou. O que dera em Juninho, nunca fora dado a luxo, calçava chinelas hippies, algumas medalhinhas no pescoço, quando brigou foi para por piercing no nariz, vestia com singeleza e portava uma velha mochila com acrósticos. A mochila? Com um revolver talvez, meu Deus! – ia preparando-se psicologicamente para o pior o pai a beira do desespero. Nem tanto. Lá estava sereno o menino, quando entrou o pai assustado pelo estabelecimento público de segurança. Passou desarmado por alguns guardas e uma viatura, olhando baixo e tropeçando nos paralelepípedos e dizendo para si mesmo que era uma pessoa honesta. Via naqueles homens a Lei, tinha um respeito pela força repressora do Estado e sentia-se seguro em seus princípios éticos. Um homem corpulento e cordial mantinha o jovem sentado numa cadeira macia. Os olhos vermelhos do menino demonstravam o choro e o desabafo, mas o policial cumpria com seu dever, prensando o chão com o seu grosso coturno. Chegou à sala com medo e vendo a cena do desamparo, mas lá veio a pergunta. O senhor é o pai? Sim, não havia dúvida, ao apresentar-se o nome era quase homônimo e as feições batiam. O delegado virou-se de costas, com muitos crimes para desvendar e foi ditando ao escrevente coisas a serem perquiridas ao pai. Sem responder ainda, via todo o quadro do questionário frio em sua cabeça. Com um olhar e lance de mão o delegado ordenou que liberassem o menino, para não perder a primeira aula. Pegaram o marido covarde e ciumento. Sim batia na mulher, deixando hematomas. FIM

Aos leitores de O Seminário meus agradecimentos e que Teófilo lhes dê um bom caminho de reflexão dentro do seminário e fora dele.

Abçs

Camilo

sábado, 9 de abril de 2011



Divulgação: Quero parabenizar a Leda Coletti pelo aniversário de ontem e pelo lançamento do livro Eu, educadora. Um livro de importância ímpar, palmilhando pelo ofício da educação, Leda é uma estrela de luz que ilumina sem ofuscar, porque com seu brilho vai iluminando a todos indistintamente, é a educadora, não a performance de transitório espetáculo, imprime caráter. Sou grato a sua correção e discrição ao comentar por escrito, a pedido de minha esposa, meus primeiros textos.

Agradecimento: Agradeço aos adquirentes de O Seminário. Se posso comentar o que fiz, é que esta obra traduz a espiritualidade em todos os sentidos que pude apreender, até nos momentos em que não há o parâmetro religiosidade presente, o espiritual se manifesta na vida em momentos inusitados e assim que coloquei Teófilo.

O texto que posto hoje é algo que passávamos na escola e hoje tem outros nomes e medições, mas nós tivemos de enfrentar como veio. O tema não é deboche e lamento a violência ocorrida no Rio de Janeiro, pois algo vai mal na sociedade. Com este lamento, vamos a uma crônica humorada que podia ter acontecido com você, ou não...


Kid bostinha

Era um menino da pesada, terrível. Mexia com todos da escola, a fama dele corria pelos corredores. Logo nos primeiros dias já me avisaram, “cuidado com esse menino!”. Muito bláblá, achei, nunca tinha apanhado na escola, eu sempre batia, os murros dos meus desafetos me faziam cócegas e quando eu descia meu pulso avantajado os punha para correr ou a chorar. Mas briga é briga e no outro dia éramos amigos. Criança é assim. Quem era o tal? Olhava nos grupinhos no intervalo das aulas, via alguns meninos contando das ruas com seus gestuais e gingas, outros rindo, as meninas... bem, nessa idade eu só pensava em ser o galo e nem desconfiava que elas podiam gostar de um pintinho pelado como eu. Vasculhei as filas para retorno às classes, nada; mas, por final, no banheiro masculino me apresentaram o tampinha, o “grande” Kid bostinha não chegava à altura do meu peito. Aquela turma de medrosos! Ele era o único que tinha namorada na escola naquele tempo, diziam ao menos. Se ele tinha eu também ia ter uma. Logo achei uma no pátio toda sorrisos e fui, e era a namorada do Kid bostinha. Descobri no primeiro beijo, porque o kid viu, queria tirar satisfações, fazer uma cena antes de me bater. Olhei de cima, ele sentiu a provocação e chutou-me a canela, eu revidei, ele mandou um cruzado, segurei fácil; então o demoniozinho usou a arma secreta dele – me encheu de dentadas. Cheguei a casa em trapo, apanhei da minha mãe por brigar na escola; mas no outro dia, eu e o Kid bostinha éramos amigos, mas a namorada nos deixou por um terceiro que assistia a briga. Então fui aprendendo a não subestimar os outros, fiz muitos amigos, mesmo sem brigar e arrumei outra namorada mais discreta, embora só conversássemos mesmo. Namorar naquela idade...se minha mãe soubesse?

Publicado na Tribuna Piracicabana de 09/04/11

sábado, 2 de abril de 2011




Divulgação: Hoje ainda a peça Lugar onde o peixe para, com apresentação no teatro municipal de Piracicaba. É a história daqui e mudam os atores, mas a peça é imortal. Se puderem, vejam-na. Já escrevi vários textos sobre e ainda há muito conteúdo a explorar.


Posto Tartaruguinhas para espairecer um pouco, pois meus dias contados pelos olhos fechados de meu pai me são difíceis, o pobre dorme acamado e fala aos sopros fracos. Meu Deus, louvado seja, sofremos pelo derradeiro neste flagelo e as letras me fogem, mas Deus supre o humor e oxalá tenha para dar aos meus escritos (texto sem humor é ruim).


Fotos: Polyana Stocco (filha da Luzia) - a força do feminino; Alessio Quartarollo, meu pai, precisa dizer mais, meus textos sempre o terá nas entrelinhas ou insconcientemente; quem? dona Luzia quebrano cana pra chupá, minha esposa peralta no cenário do Peixe; e esse cara aí, um devoto, eu, ara.






Tartaruguinhas


Eu tinha um tempo danado. Nada para fazer. Lá fora um sol quente rasgando as frestas da janela, já bem rachada. Que preguiça! Ia deixando para amanhã todas as coisas por fazer. Sempre se tem alguma coisa para fazer e fazer o quê? Quando não se sabe o que fazer, nada se deve fazer – alguém disse isso, mas não vou pesquisar não. Vez ou outra me assustam esses flash dos turistas, gostam de fotografar essa decadência e diz que preservam a minha cultura brasileira, só porque bato as cordas de uma violinha dentro de casa. De mim não, foto minha eu cobro. Não sou bonito, mas minha feiúra tem preço, ara. Que dia preguiçoso! Era uma repetição do anterior, que não saí de casa. Sair prá quê? Vejo TV e dou umas voltas por aqui mesmo, depois descanso outra vez. Dizem por aí que o tempo voa. Voa não. Hoje mesmo vi dois elefantes passarem feito nuvens, nuvens eram, e se aninharam bem longe, do outro lado do céu, talvez na Índia. Mas aqui em casa também me divirto. Ôh! Tenho duas tartaruguinhas que correm sem parar pela casa. Já falei prá mulher “benhê, esse barulho de tartaruga”, elas correm e a gente não vê. Nesses dias mesmo quase esmaguei uma debaixo do meu dedão e ainda ela olhou para mim e disse algo em sua língua de quelônio. Quando vi elas balançavam o rabinho curto e sem pelos, credo, esses bichos falam com a gente – minha mulher acredita. Usei de minha autoridade e as pus para fora, mas no outro dia estavam dentro do meu sapato e quase morderam o meu dedão. Vi os dentinhos delas, mostravam para me atiçar e gritar para minha mulher; resisti detrás da cadeira com as chinelas do banho. Dizem que se batê-las no liquidificador a gente toma aquele caldo amarelo pardo cremoso e vai viver muito, vai crescer cabelo e perder barriga, mas tem que bater com o casco e tudo. Pra que viver tanto? Deixa elas aí pela casa, assim a gente distrai. Os turistas ainda não viram elas, rsrsrsrss.

Publicado no A Tribuna Piracicabana em 02/04/11