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O blog atém-se às questões humanas. Dispensa extremismos ou patrulhas. Que brilhe a sua luz. Bem-vindo e bem-vinda!

domingo, 24 de fevereiro de 2013

Amigos, grato pelos acessos a este singelo blog. Um amigo me trouxe a história do Chiquinho, mas coloquei o contador como personagem também; embora no texto não apareça o nome do cãozinho, depois me contou o amigo muitas outras particularidades, detalhista e perceptivo como é. Seria um bom cronista se quisesse escrever e me deu várias dicas deste animal particular e de suas manifestações de amizade, acho mesmo que o Ângelo queria pentear o cachorro (brincadeira). Obrigado, Ângelo.
O blogueiro
O cão desgrenhado
Tinha um cão e um gato bem cuidados. Banhados e penteados diariamente, cão e gato não se desgarravam ou brigavam, cada um com seu cocho ornamental e ração própria, um não mexia na do outro nem no prato de porcelana do Ângelo, um comedor frugal e de saúde indelével, dele nem espirros se ouviam, se os tivesse os fazia discretamente num lenço dourado escuso. O homem era de uma polidez intocável. No ambiente de casa nada destoava da organização e do bem-estar. Tudo combinava ao bom gosto, os móveis, os vasos chineses que ninguém ousava derrubar, os quadros dos avós, que o homem cuidava com esmero, observando o lugar, a cor e a sombra. Tinha uma percepção pródiga, ouvia ruídos antes de o cão ladrar, discernia o perfume e odores de transeuntes na rua e de alguma dama exagerada e até... sentia o aroma de flores que nasceriam em seu bem cuidado jardim. Neste não deixava estátuas de anões ou lago artificiais, mas eram gramas pedras, flores multicores e chamariscos para borboletas e beija-flores.
Um móvel, no entanto, o incomodava. Era um presente nefasto, nada condizente com o bom gosto e ordem da mobília. Ia desfazer-se. Chamou um carreto, tratou com o homem por telefone e que este desovasse onde quisesse, mas ali não queria mais. Seu Celso veio com o caminhão de carreto para levar a velharia. Ao chegar a casa, esperavam na porta Ângelo, o gato penteadinho, o cachorro de botinhas. Celso estacionou na frente da casa e deixou lá alguma coisa sob a lona - outra entrega, pensou o dono da casa, que foi abrindo portão e portas para passagem do móvel sem lascar nada. O homem ia fazendo força com o móvel e conversando com um português de dialeto. Tivera também cachorro, mas sem possibilidade de cuidar deixara este em uma instituição. O cão de Celso, todavia, voltava todas as noites dormir com o dono. Ângelo sentiu cheiro de cachorro e olhou para a garagem e viu um cachorro de rua, sujo, desgrenhado, com pelos há muito sem tosa, um focinho proeminente e a cara escondida entre fios. Assustou-se, quis tocá-lo dali, bateu o pé, levantou a mão para espantá-lo e Celso protestou:
- Eh! Esse cachorro é meu! Ele num fica sem eu, vem atrais.
Carregou o imóvel como um hércules e ainda faltavam muitos outros pelo caminho. Pôs sobre o caminhão sob o olhar de alívio do dono da casa e foi. Ao descarregá-lo percebeu algo dentro do móvel. Abriu uma das portas trancadas e um pente com cabo de marfim.
Aos interessados, Crises do filho do meio é meu quarto livro lançado e a aquisição é comigo pelo e-mail camilo.i@ig.com.br. O valor é de 20,00 pela obra de 184 páginas. O pagamento é a gosto do cliente.

sábado, 16 de fevereiro de 2013

Amigos, muito tem se falado na renúncia deste papa atual, muito se cogitou; mas antevendo o futuro, a eleição, somente por um milagre ou acaso será surpresa, mas pode ocorrer como vespa  em formigueiro. A borboleta azul deposita seu ovo em folha e a lagarta cai no chão onde formigas a carregam para o ninho, cuidando dela como suas, devido ao cheiro do feromônio igual, pensam que é sua. Então a vespa entra no formigueiro e fecunda essas lagartas ou parte delas, de forma que de umas nascem borboletas, de outras as terríveis vespas que distinguem o cheiro do feromônio e os biólogos não sabem como ainda, assim como não sabem os analistas políticos e vaticanistas. Então peço que apreciem meu texto, que não vai acrescentar nada, mas tem o cheiro de ex-seminarista. Rsrsrs
O blogueiro
             Vespa ou borboleta
 A diferença entre uma renúncia num governo autocrático com a de um democrático tem proporções inversas. No Brasil, Jânio renunciou para ser levado de volta nos braços do povo e deu no que deu, queria apoio. Na renúncia do papa a coisa é outra. Ele, além de descansar, pode nomear quantos cardeais quiser para eleger quem ele quiser, então daí já se sabe o que vai sair. Essa renúncia é como uma lagarta de borboleta e vai ter a cara de Ratzinger.
Eu esperava alguém progressista para tocar o concílio vaticano II, não alguém para ressuscitar língua morta como o latim. Desse casulo, contudo, pode sair uma vespa e não borboleta e somente então, quem sabe, o concílio continue.
O concílio Vaticano II começou com Roncalli, o João XXIII, e para reforma da Igreja Católica, se não estaríamos rezando em latim ainda hoje. Ele não pôde terminar o concíio, morreu antes. Mas havia nomeado Giovanni Batista Montini cardeal de Milão, que se tornou seu sucessor como Paulo VI e tocou as reformas e presidiu o final dos trabalhos do Concílio. Antes do papa bom como era chamado João, estaríamos rezando em latim até hoje (SEMPRE FOI ASSIM!) e ao se eleger João XXIII, que escolhe o nome do pai João – não de santo, disse que queria que abrissem as janelas e portas para arejar a Igreja, abri-la ao mundo, mas parece que alguém com resfriado ou medo de assalto as fechou. Os estudos de Roncalli o levaram a deduzir que o concílio de Trento fora um concílio mais reformista que antiprotestante, mais reforma da própria instituição católica que contrarreforma. Esta é a postura de um estudioso honesto e autocrítico como João XXIII, de verdadeira humildade, que não teme o advir, mas a justiça; depois dele, o medo se instaurou na instituição e agora o medo maior é a perda de terreno aos evangélicos e espíritas. Se os fieis procuram outros caminhos é porque a Igreja fracassou em profetizar ou o fez de forma soberba e não pelo sopro divino que cerca as consciências. Deve evangelizar a si, antes de proselitar. Buscar aprender com outras culturas, onde tem também o germe divino, e não ficar presa ao romanismo e achar-se dona da verdade, desta é somente depositária e quando o Senhor vier cobrar os talentos (que, segundo a parábola dividiu entre vários), vai irar-se contra aqueles que os guardaram de medo.
OBS: Aos interessados ainda temos exemplares do livro O Seminário, publicado por mim em 2011. Mais informações no e-mail camilo.i@ig.com.br ou no meu Facebook. Abç

sábado, 9 de fevereiro de 2013

Amigos, uma figura que sempre me fascinou é o apóstolo São João, que me dá a impressão de um cristão firme e sem pieguice, mas amoroso. Então rebato do meu manto este texto que há muito ousava escrever, pois João era, além de um seguidor de Jesus, amigo de todas as horas e um excelente escritor que ditou o quarto evangelho e algumas cartas, onde imprimiu sua visão sobre a fé e sobre as atrocidades do mundo. Observe-se no texto, alguns leitores do jornal me questionaram, nu nos tempos antigos queria dizer com roupas sumárias.
O blogueiro
João é comparado à águia dos evangelistas, numa ordem
de comparação dos evangelistas a animais.
Publicado naTribuna Piracicabana em 08/02/13
Segundo João
São João completa seu evangelho dizendo que se todas as palavras e atos de Jesus fossem escritos não haveria papel suficiente no mundo, ou dir-se-iam, pergaminhos. Tudo bem, João, hoje já destruímos muitas florestas para fazer papel para dar ao livro o papel que achamos que tem e não precisamos dos pergaminhos enrolados do mar morto, nem de fornecedores da cidade de Biblos.
João, descrito como um mancebo que se evadiu nu deixando a túnica na mão dos soldados que prenderam Jesus no Getsemani, no lugar que o mestre traído suara sangue pela forte angústia.  Evadiu, fugiu não, voltou de longe acompanhando a via crucis como podia. Entrou no lugar onde estava o prisioneiro e pediu no lugar que se deixasse Pedro entrar, este assim dentro e amedrontado negou por três vezes, mais tagarela que o galo do vizinho.
O tema da fonte João - esses compilados da vida e obra de Jesus são chamados fontes, porque vêm da tradição e dos vários copistas que escreviam conforme profetizava o discípulo. João é comparado à Águia e quarto evangelista, mas é mais manso que uma pomba e mais astuto que uma serpente.
Durante toda a repressão e perseguição aos cristãos sobreviveu e morreu de morte natural, consagrando a profecia de que “este ficará”. Dos apóstolos foi o único a não sofrer martírio na morte. Sobreviveu a prisões, perseguições, escreveu o apocalipse (revelação) como uma carta às igrejas, inclusive à de Roma, chamando esta de Babilônia para não revelar o local dos cristãos que praticavam seus rituais nas catacumbas - cemitérios subterrâneos sob o trono imperial. De tudo sobreviveu João, sem medo, seguindo talvez o conselho repetidas vezes no evangelho de “não tenhais medo”.
No filme Visão de São João ele é preso e dá testemunho de sua crença e fé, do destemor ao homem e às coisas temporais. Um jovem preso com ele se revolta e é um alto dignitário em desgraça. João pergunta por que está tão revoltado e o jovem responde que foi Roma que lhe pôs lá naquelas condições inumanas. E João reflete e profetiza: “Não, não foi Roma que te pôs aqui”. Elegera o jovem um culpado para os seus problemas e bem à vista, ninguém gostava da opressão romana, mas mesmo assim, era verdade?
Queremos escolher o lugar da nossa felicidade e esquecemos o lugar que o Amor ocupa, o Amor ocupa o lugar que ocupamos, não o que usurpamos.
E-mail para contato: camilo.i@ig.com.br

sábado, 2 de fevereiro de 2013

Amigos e amigas, o carnaval está chegando e posto um causo, espero que gostem.
O blogueiro
Os olhos do Juquinha
O padre marcou uma procissão pela vila para desagravo às festanças pagãs, como dizia ele. Julgava que o carnaval era ofensa à fé do povo. O padre organizou a passeata religiosa com os andores na frente, mulheres com velas e homens com chapéu na mão, respeito exigia. Em silêncio, somente cortados pelo barulho dos passos dos fieis ou de algum terço que caía das mãos de alguma devota desatenta. Dona Pororoca pegou rápido o terço e o seu Juquinha fazia de conta que ajoelhara com a esposa para catar na terra o tal. Se o padre visse.... e na esquina torta da vila de duas ruas o padre parou. Os meninos olhavam de cima do morro o préstito e as roupas coloridas do padre chamavam atenção, ainda que quisessem dar um aceno aos passantes conhecidos, os olhares frios e meditabundos do padre os repeliam. A cada parada curta - a vila não era tão grande assim - o padre falava sobre os novíssimos (morte, juízo, paraíso celeste e inferno) e as mortificações dos sentidos, dos olhos principalmente. Mais atrás do cortejo e seguindo algum dono vinham cachorros ou vira-latas mesmo.
Não demorou muito para o cordão de carnaval descer por outra rua até àquele ponto, num barulho dinâmico e cadenciado levantando poeira, sem avisar, bailarinas do rebolado, mestres salas e porta-bandeiras, gingando, dançando, brincando, alegres. Os meninos ficaram endoidecidos, os cães seguiram em latidos e abanando rabos, mas o padre se viu numa sinuca como a bola da vez, era a provação para sua liderança religiosa: deu voz de comando para que os fieis se virassem de costas e rezassem o terço baixo, para afastar a tentação.
Os carnavalescos iam passando, o povo recolhido ficava, mas uma curiosidade brotava em seu Juca, dona Pororoca mexia o sobrolho, mas não olhava, rendia-se às contas do terço e rezava mais alto que as outras. O padre vigiava. Seu Juquinha quase virou a cabeça para ver e o padre gritou:
- Quer olhar vai ser castigado por Deus. Vai ficá cego, cego, ouviram?
Juquinha, com medo, continuou de costas, mas as botinhas dele mexiam sozinhas, sambando, em coreografia jocosa, os ombros subiam como que possuídos, o padre o devorava com os olhos como uma pulga que se mata à unha. Juquinha ficou até que se virou ao padre.
- Ah, fica cego, é? intão vô arriscá um zóio, ah se vô.
Seu Juquinha ficou cego de um dos olhos, daquele que não abriu.