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O blog atém-se às questões humanas. Dispensa extremismos ou patrulhas. Que brilhe a sua luz. Bem-vindo e bem-vinda!

sábado, 29 de junho de 2013

Um questionamento filosófico de um tema que virou jargão, felicidade. Todos cobram-na de Deus, dos homens, das mulheres. Eu abordo singelamente, e espero ter sido feliz neste esmero.
Blogueiro feliz?
Felicidade existe?

O jovem Félix ingressou ao seminário para ser frade. Desde os primeiros dias arranjou sandálias e um modesto hábito marrom, com o qual passeava pela sacada, piedosamente; todavia, o mestre de estudos disse que estava ali, não para ser frade ou religioso, mas para ser feliz. E o que é ser feliz? O mestre, e filósofo, não disse.
Uma vida sem dor, uma vida sem lágrimas? Dirão que felicidade não existe, mas uns míseros momentos felizes, e só, contente-se. As demandas de felicidade e realização surgem mesmo a um destinado à vida de renúncias, aliás, existe vida sem renúncias? E lá dentro do seminário, como cá, a vida pulsa. E o jovem para seguir a vocação de franciscano não queria viver das esmolas das missas, mas de seu trabalho, como São Francisco, tendo talvez suas ferramentas de trabalho. Saiu à cata de algum serviço e foi parar num restaurante, prontificando-se a servir, por qualquer salário, meio salário que fosse. Passados duas semanas, não dava um mês, pediu as contas, as meias-contas. Perguntado disse que aquela atividade não fazia parte do seu jeito de ser – bem filosófico.
Ora temos um conceito bem grego de ser feliz, de uma vida plena de desejos satisfeitos e de gozo, alguns comparam a gozo eterno, e como um orgasmo divino quando fazem filantropia, uma troca para se obter a perfeição da consciência e apaziguar os maus agouros, pois a caridade mesmo é função religiosa mais premente e de renúncias.
Ledo engano de um misantropo travestido. Felicidade conceitual, de pacote pronto, é uma falácia, um embuste pensar que o morador de uma mansão é mais feliz que aquele que dorme sob uma figueira ou do outro, dentro de um palácio frio. A felicidade está mesmo dentro da gente e além da simulação de dor, lágrimas, sofrimentos ou morte. Vê-se felicidade como objetivo e não modo, sujeito em ser o que a vida nos dá a cada momento. Ser feliz não é portar nenhum estereótipo, é viver o ser essencial de si mesmo. E qual é? Só vivendo.
O que é ser feliz? As pessoas felizes não dizem. Afinal, ser feliz não tem preço, não é preciso ideologia, filosofia, nem explicação, basta ser. E o leitor vai ver um infeliz e reclamar. “Mas você é feliz?” O “infeliz” acha que o é porque o mundo não lhe é justo, o mercado não o atende, é verdade, mas pelos males do infeliz, todo mundo considerado feliz passa num nível ou no outro – somente que alguns vão achar que é praga e outros que é oportunidade, inclusive em ajudar aos outros, ajudando-se a si mesmos.
Final feliz seria, portanto e afinal, o sonhado e o real, inexorável, juntos; então cuidado com os seus sonhos, eles podem se realizar, mas não do jeito que sonha, mesmo que durma sobre um travesseiro de penas ou de pedra.
Para mim felicidade agora é escrever este texto, calma, já volto a ser infeliz, tem tempo e, conclua-se que se felicidade não existisse, infelicidade também não. Creio que o jovem Félix é feliz, mas ao seu modo peculiar de ser, talvez de meias-contas, meias palavras e meios de ser, numa vida de traços e borrões.

domingo, 23 de junho de 2013

Amigos do blog, este é um texto de 1988, de minha concepção, vejam se está bom. Creio que esta concepção ainda persiste nas minhas crônicas.
Blogueiro fora de órbita
O mundo 
Este mundo cotidiano é uma loucura. Existe algo que só o sabemos quando se foi. Existe um eixo imaginário onde giram todos os fatos e se reciclam derivando-se pelos impactos do mundo. O eixo nunca está no mesmo lugar, mas os fatos não se reciclam sem ele. Nada é igual a ontem.
Engraçado, sem querer, já não somos os mesmos. Nem nos demos conta e morremos, de alguma forma morremos, até o dia em que admitimos e percebemos “o” mundo.
O mundo também é: o palco depois do show, sem cortinas e luzes. Também são os ratos que roem o grande queijo cósmico nas noites esdrúxulas dos roedores insones. São as galerias de esgoto da cidade que dorme. O mundo também é a falta daquele barulho das ruas, dos sorveteiros, de crianças, dos pobres, das prostitutas e donas de casa. O mundo também é papel da pessoa humana comum. Quando nada e ninguém existe para nós emerge “o” mundo. Morremos. Percebemos que algo nos levou a isso, a esse mundo. Não há felicidade ou infelicidade por buscar, não sentimos ambição ou posse de nada e ninguém, só existe o novo, o incomensurável, fantástico e gratuito novo.
Os ratos tomam de assalto o palco depois do show, sem cortinas e luzes. Eles consomem as palavras dos textos da peça e as peças dos personagens do texto que depois ratificam-se.
O ruído dos roedores repercute na noite esdrúxula dos humanos furtando e frustrando sua grande maça cósmica. Não pode dormir seus filhos a pensar a ilusão dos seus sonhos. Na noite seguinte, entre as suas sombras, ele vai procurar os ratos em sua cena. O humano ser tem de apresentar-se na vida mesmo que em pele de rato.

domingo, 16 de junho de 2013

Amigos, esqueceram uma vez, duas, três vezes e, o menino abandonado virou adolescente rebelde, lembram-se do Esqueceram de mim, dos adultos que queriam fazer uma criança adulta antes da hora. Até deram excelentes filmes de humor, mas... Bem, este filme não tem nada a ver com a minha crônica, mas lembrei disso à toa. Espero que curtam também meu texto. Não esqueçam, hein. Ahh
O blogueiro do Face (pra quê blog, se o pessoal vai logo pro face, né)
O santo e o menino
Em 1770, o capitão-general da província Luiz Antônio de S. Mourão queria impor a veneração dos santos de sua família à incipiente Piracicaba, mas o nosso capitão Antônio Corrêa Barbosa foi por outro viés e, aliás, certa rebeldia faz parte do espírito caipira. Apesar da ordem do capitão-general de se rezar missas com altares portáteis dos santos de sua predileção, durante a construção da capela, o capitão povoador foi econômico, tomou somente um santo como padroeiro. Quem? Seu onomástico: Santo Antônio.
Mandou que se procurasse um santeiro para fazer uma imagem do santo e colocar nos altar. O padre foi incumbido de encontrar um santeiro. Foi, obediente e austero, e naquele fim de mundo de nossa pré-história a ninguém achou para tal mister, a não ser um índio velho, que não queria entalhar santo de branco.
O nosso capitão mandou o padre lá e que ensinasse ao índio, não a rezar, mas a entalhar a imagem perfeita do santo. Lá foi o sacerdote piegas, resoluto, obediente a Deus e... cheio de medo, com alguns víveres para comprar este favor. O índio velho só trabalhava em transe e fumando um charuto soltando fumaças em círculos, mas o padre meio chamuscado em sua auréola ia olhando e quase entrava em transe também. No final a peça tosca ia ganhando contornos dos desbastes de um facão de mato. O cansaço foi tamanho que ao final de uma semana, dando graças a Deus, o padre entregou os víveres em pagamento e levou o santo ao altar da igreja para apresentar ao capitão.
Na missa de inauguração da capela, o capitão sem o chapelão de abas largas, respeitoso, mostrando a tez ditosa das pinturas, mas... ora, Santo Antônio carrega Jesus menino! Cadê o menininho?
Todos da vila puseram-se a procurar, de casa em casa, perto do rio. Por fim, descobriu-se que uma devota afoita tinha sequestrado a criança dos braços do santo Antônio, devido a uma briga com este. O padre a vira muitas vezes ao redor do pedestal em lacrimosas orações e numa das confissões fez ela soltar a verdade, mas eu conto o pecado, a pecadora não.
Por quê? O santo, depois de todas as novenas não lhe dera marido naquele fim de mundo. Assim disse ao padre, “tirei o menino até ele me dar um marido”. O padre a convenceu dizendo:
- ...e sem marido, minha filha, você quer ser a primeira mãe-solteira do povoado, é?
Então ela entregou Jesus ao colo do santo, antes do natal. Mais tarde se casou com um Antônio da vila, que não era santo, e foram felizes “pra mai di déi”.
E.T: Além desse maravilhoso blog, também emito opiniões no Face, curto, e escrevo livros. Pra quê? Não sei mesmo. Mas se estiverem a fim, contate-me, as obras estão indicados ao lado do blog, mas fornecerei mais informações se o quiserem.

sábado, 8 de junho de 2013

Amigos, amigas, que as manhas de hoje não ofusquem o brio das manhãs e das manhas que somente você saberá descobrir em você.
Blogueiro manhoso.
Manhã, tão linda manhã
Ontem, enquanto digitava, entrou pela porta aberta da cozinha um beija-flor preto, volteou e temi seu bico, mas procurava uma flor com certeza. Onde encontraria as tais? Até o vaso da mesa tirei para ocupar com o notbook. Não, eram as da cortina do vitrô, meros desenhos imitando flores, de tricô. Fiquei olhando a sua dança flutuante no ar e saiu, encontrou novamente a porta aberta de minha casa, mas agora posso lembrar-me de sua visita.
Nestes dias ainda sonda as lembranças de meu pai recém-falecido e saber que o está num túmulo, lembro o local, sua última vista e parece que Deus é onipresente mesmo, quase que o vejo lá dentro e observo, e penso onde ficou este tesouro, este amigo de quem não consigo me desligar. Os momentos, os silêncios, a realidade. Nada pode o trazer novamente a não ser O que tudo pode, e este mesmo tido como todo-poderoso anda desacreditado. Desacreditado? Por que não Lhe dar uma chance, afinal, é tão frágil a nossa vida e somos uma mera palavra que saiu de sua boca e para ela volta. Penso mesmo em fazer silêncio, eu que sou tão prolixo. Sem o espírito que Ele dá às palavras, às mais bizarras, não teria sentido, nem humor em escrever minha singela literatura, independente de qualquer credo, religião, política ou editor.
Uma coisa é certa, a literatura, a expressão humana é tão frágil quanto à própria vida, somente o socorro divino dá o influxo, o sopro necessário para que chegue a termo; porque o escritor, de vez como profeta, sente os assopros divinos em seus ouvidos e não pode deixar de escrever, assim como um beija-flor não deixa de correr pelas redondezas, enquanto asas houver, ainda que enganando-se com flores desenhadas pelas mãos humanas em minha cortina, vislumbres, indignas das reais que nascem e morrem no relento e que à visão descortina. Vede!

sábado, 1 de junho de 2013

Plágio é um assunto que amedronta alguns talentos precoces, mas o que é? Há vários estudos sobre plágio, nem todos é criminoso, como se pensa. Alguns são os chamados plágios criativos, vide na net, tem o assunto. No caso que escrevo uso o termo num sentido amplo, mas na verdade, lembro de ter muita inveja da sabedoria do meu pai, de simples. Quando saí do seminário religioso com tantas demandas e muitas questões pra cabeça, meu pai trabalhava tranquilo vendo o seu tempo passar e vendo o meu correr contra si mesmo e dizia o saber não ocupa lugar, mas também não preenche tudo, né pai. Aahahahah. Hoje ele é morto, digo, já viveu sua vida, seu tempo já passou, mas permanece no seu Kairós.
Blogueiro plagiador
            Meu maior plágio
           A velhice veio e trouxe algumas sequelas. “Não vão me pôr no rol dos doentes”, dizia - tomava alguns remédios, mas nunca aceitou o estado de doente. Nunca se assumiu como tal. Homem ativo, mas as mãos começaram a tremer. Suas mãos tremem, pai! – e ele justifica: “Paralamas de carro velho também balança” Com a insistência da família vai ao neurologista e começa a tomar alguns remédios.
            Aos oitenta e um anos é acometido de alguns tombos e não sem perder o humor. Numa destas vezes a queda foi da cama, ao levantar. Bateu a cabeça, sangrou no supercílio e recusou-se terminantemente a ajuda médica. “Nós chamamos o resgate, levo-o de carro, isso precisa de pontos” – insistiam todos. Que nada, ficou lá com um galo enorme e uma bolsa de água gelada na cabeça. De pijamas, do quarto ninguém o tirava. Num “eu me viro” vai deixando os bons samaritanos acuados, contrariados na sala ao lado. Os vizinhos achegam-se, querem ver o que aconteceu. Uma batidinha! Logo o ferido mesmo explica, minimizando a dor que deveras sente. Não solta um gemido sequer, só os membros tremem.
            Os médicos de convênio já acostumados com os diagnósticos consultam mais um. São remédios daqui e dali. São os rins, os intestinos, a próstata, a coluna, o pulmão, a fisioterapia, o exame disso e daquilo. Uma tremenda análise para descobrir e ele não está preocupado em explicar aos entendidos. O velhinho de boné, magro, de óculos que fala baixinho com uma rouquidão de poderoso chefão (do filme), se faz acompanhar pela esposa, fala pouco e os médicos não querem escutar muito do que tem a dizer – sua vida – a roça, as plantações, as modas de viola, as feiras-livres.
            No dia seguinte, no final da visita que fiz, ia-me embora, mas ainda no portão, ao ver seu olho vermelho e o ferimento do tombo do dia anterior, preocupava-me. Mais um tombo, hein, pai? Tem de se cuidar, põe travesseiros no chão ao lado da cama, chama alguém para ajudar a levantar. Ouve pacientemente as minhas reprimendas de filho sadio a pai doente e ri por dentro, seus olhinhos pretos sabiam. Mas como foi, pai? Continuei naquela conversa de portão, é normal prolongar a despedida de quem amamos. Ele disse que sonhara que minha mãe o chamou e ele ao levantar-se caiu, visto que o corpo do sonho estava bem, mas o real não lhe obedecia. Mas, pai! O senhor se mata qualquer dia desses! O senhor quer se matar? Não se preocupe – me tranquilizou – eu só caio quando quero - e riu baixinho de sua refinada ironia. Bem, essa foi mais uma de suas tiradas e ele não escreve crônicas! Eu as copio dele. Esse é meu pai, Alessio Quartarollo! Meu maior plágio.
            Hoje tenho a impressão de que me cerca em alguma porta que se abre ou que abre para mim a certa, meu saudoso, nem tão saudoso assim, somos da mesma têmpera. Velho, eu só coloquei algumas vírgulas, uma preposição aqui e ali, para melhorar a concordância aos entendidos... Entendidos? Claro que são, pai.