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O blog atém-se às questões humanas. Dispensa extremismos ou patrulhas. Que brilhe a sua luz. Bem-vindo e bem-vinda!

sábado, 25 de setembro de 2010

Sobre livro: A divulgação e venda do livro O Efeito Espacial está tendo sucesso. Já vendemos mais da metade dos exemplares impressos, sem contar o que doamos, graças a Deus. Os livros adquiridos, mesmo em livrarias (Nobel e Libral do centro de Piracicaba) podem ter nosso autógrafo e o desenho do ratinho, se quiserem os compradores – disponho-me a ir até os leitores e apor uma dedicatória própria, o que ocorre na maioria dos exemplares do meu livro vendidos de mão em mão, às quais pude apertar e às pessoas abraçar. Certamente aumentaram o número de leitores. Grato.

Texto do blog:
A bobeira é algo que a todos acomete, mas na sociedade tem de se esconder para não manchar a imagem ou autoimagem, por isso posto esse texto de bobeira, mas leiam assim mesmo, por favor.


O Bobo da corte

Contam as antigas lendas que dentre os fidalgos é eleito um indivíduo mais forte, capaz de suportar as chacotas e carregar as frustrações do grupo. A escolha sempre recai sobre um plebeu, que não sabe ou finge não saber que é nobre. Então surge o Bobo da corte. Às vezes corre risco de morte, devido ao descontrole da corriola. O chefe do grupo é o rei, que na verdade, joga suas mazelas e incompetências sobre o bobo.
O escolhido é alguém alegre e imune ao escárnio, para que os escarnecedores não sintam que são eles mesmos na pele do outro. O Bobo é um anão, homem de baixa estatura física, de pernas atrofiadas, de mãos e braços pequenos, de andar desengonçado, aparentemente diferente dos fidalgos. Veste-se como um arlequim, pode ser de ambos os sexos, se feminino pode, dentre outras coisas, servir de babá das princesas e infantas.
Os Bobos podem ser nobres para alguns que têm visão como um Velásquez, pintor da corte. Se a corte perceber que o Bobo, alter ego secreto do rei, melhorou a imagem naquele meio pode sofrer castigos ou vilipêndios. Afeito ao menoscabo dos seus “iguais” sabe portar-se em seu ser, alegre, ridículo e cambiante. O dom da arte o acompanha como uma arma de Deus, para estar entre aos estúpidos e ingênuos, da mesma maneira.
O Bobo do reino é mais como uma criança, espontânea, controvertida e aparentemente ingênua em sua humanidade, também feia, indefesa e alegre. Às vezes, até o destino lhe prega peça, devido a sua espontaneidade, abre a guarda em demasia aos golpes do rei e dos fidalgos. Quando pequenos os príncipes têm neles verdadeiros mestres disfarçados, vistos como duendes ou fadas, que ensinam que o real é pitoresco, trivial, imprevisível e genuíno, depois de adultos aprendem a achacá-lo, como os outros.
Somente um verdadeiro príncipe ou verdadeira princesa de estirpe sabe reconhecer um Bobo, em meio à roupa colorida e ao rosto pintado os verdadeiros olhares da alma. Que o Bobo não é um saco de pancadas, a coxear no seu nanismo sem o revide usual dos “fortes”, mas um ser em transformação espiritual num circulo virtuoso, em meio ao vício a sua volta.
Como Calabazes, o olhar de criança, desfocado, a pinceladas rápidas de Velásquez, amiúde aos impressionistas, registrou esse e outros Bobos, historicamente conhecidos. Não como reis e papas em seus tronos, fictícios; mas um cidadão mediano, cheio de alma e sonhos. O leitor conhece algum Bobo? Cuidado! De bobo e de louco, todo mundo tem um pouco.
Publicado no jornal A Tribuna Piracicabana de hoje (25/09/10), faz parte do meu orkut e de alguns amigos, está afixado na mostra do fórum de 2009 e fiz várias cópias aos amigos. Obrigado, eu me senti realizado em fazer este texto, que, apesar de pequeno, deu-me muito trabalho de pesquisa e encasquetei até que saiu.

Nota: O humor é uma intimidade que não intimida, o escárnio sim; a tênue linha que os divide é que faz a diferença de ânimos.

sábado, 18 de setembro de 2010


A imagem que coloco é uma pintura c.1665-75 e o artista parece conceber o cão como sendo de Cristo mesmo, nessa tela de O milagre de Caná. Se o leitor quiser, pode acessar o site ttp://www.gettyimages.pt/ e copiar fotos que desejar, inclusive colocar em seu blog.

Grato aos leitores de O Efeito Espacial e aos 56 acessos a esta página nesta semana.

Divulgação:

Luzia Stocco está com um blog e postou uma poesia hoje(18/09/10) no jornal A Tribuna Piracicabana em que joga com formas geométricas, estruturas e com o movimento da vida, tecendo e descobrindo a forma e a identidade; porém, minha amada, nunca perderá a sua essência de menina - ela, A menina do Bairro Fria.




Se Cristo tivesse cachorro

Quando Maria chegasse à tumba com a pedra movida, ouviria alguns latidos ou uivos, mas não, acho que haveria um cão tranquilo, embevecido, ainda ali, olhando ao alto.
São Francisco é considerado o santo dos animais e da ecologia. Acalmou o lobo de Gubbio, que vivia a molestar as pessoas. O santo estendeu a mão ao lobo, a quem chamava de irmão. Aliás, esse santo tinha mania de chamar a todos de irmão e não era carioca. Dizem os teólogos que o lobo em tela podia ser um político de maus bofes, uma pessoa e não um quadrúpede. Mas o santo se dava bem com animais, como mostram os santinhos, com pombas nos ombros e coisas do tipo e a Igreja o atesta.
Com relação a Jesus, as escrituras não trazem em cena se Ele tinha algum cachorro; bom, eu tenho. Não sei se foi uma omissão acidental ou de propósito, para não lhe associar a imagem a algum deus pagão, com a cara de cachorro. Bem, o meu cão não é nenhum Anúbis e não tem poder sobre ninguém que não conquiste pelo coração. Mas ainda lanço uma possibilidade de Ele ter tido um lá em Nazaré mesmo.
Os cães são domésticos desde há muito tempo. Mesmo Ele numa parábola o diz sobre um cão que lambia as feridas de Lázaro. Os cães se lambem e lambem os outros, se misturam e procuram restos de comida. Se o cão remete ao temperamento do dono, como se diz, pergunto como seria o cachorro de São Pedro? Medroso, claro. O cão de Tomé, desconfiado. O de João, amoroso. O de Judas, traiçoeiro. O de Pilatos, indeciso. O de Kaifás, acusador. O de madalena, observador. O de Maria, solícito. O de José, trabalhador. O de Jesus, sem coleira e obediente.
Na tentação do deserto o cão podia mostrar os perigos dos precipícios que o diabo queria lhe atirar, acalmar a fome com um pouco de carinho, uivar à noite e jejuar, porque o cachorro jejua enquanto o dono não volta para casa. O cão tem uma força de vontade maior que os humanos e uma humildade em pedir, incomum na nossa espécie. Quando preso no Getsêmani, talvez o animal não atacasse os soldados romanos como fez Pedro, ou nem renegasse, mas seguiria Jesus por qualquer fresta que encontrasse. Apanharia junto com os flagelos impingidos ao filho do homem; se enxotado, voltaria para consolar o divino mestre.
Se tivesse cachorro estaria ao pé da cruz entre as pernas de João e Maria com os olhares caninos para cima e para os dois, triste. Na deposição, estaria lá como atrapalhando a lavagem do corpo e a colocação de essências aromáticas, mas presente guardando o dono. Depois de selar a pedra da tumba todos foram embora, mas ele ficaria mesmo indesejável, assustando os soldados romanos que acreditavam em outros deuses. No sábado não comeria nada, nem beberia, os cães são assim. E no domingo da ressurreição, pilar da fé cristã, ele seria a maior prova, porque o cachorro não abandona o dono – a tumba vazia e o seu olhar para o alto destruiria o último argumento de roubo do corpo. Agora já aceitaria comida dada pelas mulheres e seguidores, sinal que Ele, Vivo, o acarinhou a cabeça ao sair da tumba. (Publicado na A Tribuna Piracicabana em 18/09/10)

sábado, 11 de setembro de 2010

O texto abaixo do Blog:
Botando reparo é uma homenagem ao caipira, mas especialmente a um amigo meu, Claudio. E daí, Claudio, vai só ficar falando do Kaiú ou vai escrever? – Kaiú é um amigo dele e muito simples que conhece tudo pela natureza e gosta de contar coisas, coisas que nem existe. Não existe mesmo? Se o Claudio conta é porque existe, ara? Mas o Claudio não escreve... Escreva, Claudio! Quando a gente insiste com ele, ele diz: Mai escreva o cê, fica mai bão. Não que ele escreva como fala, mas quando fala escreve textos em nossa mente, que nunca sonharíamos em papel. Mas o texto é sobre ele mesmo e o outro, que veio para a cidade, poderia ser eu, mas não sou não, hehehe... Não vai botá reparo, heim?!



Inda sob o efeito Espacial...

Grato aos amigos que pessoalmente, pela ria ou pór e-mail adquiriram O Efeito Espacial. Os que adquiriram na livraria, se quiserem, posso autografar, contatem-me e a gente se dá um jeito de ir até você. Sinopse:
Abduzido e devolvido em miniatura para o seu quintal, rejeitado por não conseguir comunicar-se com os alienígenas. Depois de uma noite escondido no ralo como rato, volta ao tamanho normal e não conta à esposa sobre o "sumiço", mas começa a ter essas recaídas pelo “efeito espacial” ao passar por crises de depressão e de autoestima de forma inusitada, e ele e vai descobrindo uma nova c(C)onsciência de que não é um rato, é... (vide desfecho no final do livro). Obs. Ao lado minha ratinha...lendo. Compre por R$13,90 um livro que você pode dar até para o seu inimigo, rsrsrsrsrs... "Qualquer semelhança entre homem e rato é mera coincidência"(frase atribuída a um rato)


Botando reparo

O amigo morava num casebre a beira de um barranco. Sem nenhum luxo, com mesa de madeira, três cadeiras, alguns bancos de toco. A conversa, no mais das vezes, dava-se fora, na porta. Sobre um toco, numa divina sala pintada pelo arrebol e o riacho com a brisa fresca a cheiro de mato, onde piam aves, dava o efeito sonoro que só tem lá no sertão. A conversa ia solta. Nem era necessário falar “direito”, mesmo calado os caipiras se entendiam. Um gesto de mão, uma tosse, um “oiá”, eram sinais de comunicação a quem convivia com a natureza e conhecia cada animal de seu terreiro.
Quando o compadre chegava, muitas das vezes olhava pela janela e já sabia. O fogo com um tição queimando...tinha gente. Era só “vorteá” pelo terreiro que lá via o nhô Cláudio, mexendo por ali. “Mio pás galinha” e comida nos cochos dos porcos. O vizinho já ia botando reparo. O galo índio valente, os cachaços gordos, as bananeiras dando broto já. A batata doce assando debaixo do carvão e muita conversa amornando o ambiente, antes do primeiro “pitá’. Para o caipira “pitá” tinha de se sentar no toco, na frente da porta de sua propriedade, em primeiro plano, donde via todo o terreiro e o Sol que se escondia detrás do espigão.
Um dos compadres ficou rico, ganhou na loteria. Mudou-se para a cidade, como outros granfinos. O compadre Cláudio não saía do sertão “nem amarrado”, mas queria ver o compadre rico. Estava feliz por ele, porém, o compadre rico mudou muito, brigou com a mulher, começou a viver no luxo e esquecer velhas amizades e a beber “além da conta”. Velha amizade não se acaba assim e nhô Cláudio resolveu dar uma incerta, para pegar o amigo “sem botinas”.
Embrenhou-se por ruas cheias de gente da São Paulo. Assustou-se com tanta selvageria. Passavam em sua frente sem pedir licença, se não cuidasse pisavam-lhe o pé, ninguém dava atenção, perdeu-se. Com o endereço escrito conseguiu chegar à casa do amigo, por motorista de táxi, que deu muitas voltas na Estação da Luz, até parar ali mesmo.
Foi postando um sorriso de “ô de casa!”, quando viu um portão preto e o número indicativo do endereço, era ali mesmo. Um sobrado, daqueles que têm quartos e banheiros no andar de cima, cismou. Esticou a mão para apertar a campainha e quase foi mordido por um cachorro bravo. Devido aos latidos, o compadre apareceu na porta de roupão. Estava dormindo e até aquelas horas! Antes de receber o amigo, foi dizendo que a casa estava em desordem, para não pôr reparo e que a mulher tinha fugido de casa. Devia ter telefonado. Mas qual o quê, no sertão tem isso? Se quisesse voltaria outra hora. Voltava nada, pensou.
Mas estava ali e o anfitrião o recebeu. Foi entrando tímido. Não tinha como não botar reparo, mas encobria-se com o chapéu na cara. Um luxo estragado, que só vendo. Um homem bêbado, roupas bonitas e sujas por todo lado, um cachorro barulhento e desobediente e o amigo ali olhando o vazio, preso entre prédios, sem uma fresta de sol, com um abajur amarelo carne, sem assunto ou expressão. Por fim, depois de um rápido “oiá” disfarçado, o visitante manifestou-se, baixinho, quase ao pé do ouvido:
- Será que vai chovê? – o anfitrião continuou calado e o compadre prosseguiu, já sentindo a água:
- Num é por nada não, minha visita é sem reparo memo, mai ói, se o cê num ponhá reparo na válvula do banheiro lá de cima...

sábado, 4 de setembro de 2010


Inda sob o efeito Espacial...

Grato aos amigos que pessoalmente, pela ria ou por e-mail adquiriram O Efeito Espacial. Os que adquiriram na livraria, se quiserem, posso autografar, contatem-me e a gente se dá um jeito de ir até você. Sinopse:
Abduzido e devolvido em miniatura para o seu quintal, rejeitado por não conseguir comunicar-se com os alienígenas. Depois de uma noite escondido no ralo como rato, volta ao tamanho normal e não conta à esposa sobre o "sumiço", mas começa a ter essas recaídas pelo “efeito espacial” ao passar por crises de depressão e de autoestima de forma inusitada, e ele e vai descobrindo uma nova c(C)onsciência de que não é um rato, é... (vide desfecho no final do livro). Obs. Ao lado minha ratinha...lendo. Compre por R$13,90 um livro que você pode dar até para o seu inimigo, rsrsrsrsrs...
"Qualquer semelhança entre homem e rato é mera coincidência"(frase atribuída a um rato)

As Marias, com Marina e Gabi, duas mestras do teatro piracicabano, quando passar você não deve perder. Acho que da casa delas viram meu blog...
Texto do blog abaixo:
Lembram-se dos Lusíadas, dos Barões assinalados...então.
"As armas e os barões assinalados
Que da Ocidental praia Lusitana,
Por mares nunca dantes navegados
Passaram ainda além da Taprobana,
Em perigos e guerras esforçados
Mais do que prometia a força humana
E entre gente remota edificaram
Novo Reino, que tanto sublimaram; ....."
-- Luís de Camões,
Os Lusíadas (1572)
Canto I, 1--2

Bordões assinalados






Quem não viu?



O quadro de Pedro Américo configura um momento cívico e desemboca nos desfiles e comemorações de rua. Independência ou morte teria sido o grito de um jovem príncipe português, bem assessorado por brasileiros e conspiradores. Por meses lutaram para deixar o caminho limpo nas províncias brasileiras e se fizeram negociações diplomáticas e dívidas para que o mundo aceitasse essa independência de Portugal, sem que a língua do príncipe sofresse qualquer arranhão – falamos o português, pois.
O quadro no salão do Museu Paulista da USP retrata o momento concebido e a sensação do grito. Épico, mostra o monarca e os dragões da independência com seus cavalos bonitos com as espadas desembainhadas em sua direção, num gesto de fidelidade. O novo monarca, ao centro e ao topo, eleva a arma na direção do infinito; mais atrás, cavalheiros tiram o chapéu em deferência ao novo monarca do Brasil. Estariam mesmo lá? Contudo, um cavaleiro espera para passagem, enquanto assiste simplesmente, sem chapéu para tirar – talvez um político mais prudente.
Por fora da cena e da estradinha do Ipiranga (uma rotatoriazinha sem asfalto), acima e ao fundo, vê-se um trabalhador a pé que passou com a mula carregada com picuás no lombo, distante, quase imperceptível. Mais abaixo, em primeiro plano, saindo da estrada para fora do leito carroçável e sobre o mato por não ter passagem, um carro-de-boi carregado de toras e o guia que faz os animais aguardarem para a travessia do Ipiranga talvez. E parece que o grito foi tão alto que o pintor mudou o curso do rio para caber na estética da obra – veio à força de pincéis à margem que mais identificava o evento.
Assim fora o grito, vamos aos sussurros. Dentre o povo alguns comentaram, outros nem souberam de momento. Não foi nenhum grito. Foi uma declaração, uma decisão que não poderia ser adiada e o príncipe vinha de uma noitada em Santos. Subia a trilha para São Paulo com uma besta gateada e não com o belo cavalo rosilho no qual aparece montado para dar o grito. Com certeza já dera muitos gritos, mas “esse” não deu e decidiu depois de sair de uma pequena moita, onde fazia o que todo homem do reino tinha de fazer.
No quadro, o príncipe e seu séquito ao centro da cena ocupando como que uma rotatória de terra acima do riacho, definindo a importância do ato comemorativo. Mas nas laterais a vida cotidiana e o Brasil real, elementos pictóricos que fazem a visão do espectador retomar a cena e girar pelos belos detalhes, fantásticos, dos cavalos e da bravura dentro do quadro. No país da época, o transporte eram carros-de-boi cantantes e picuás de carga nos lombos das mulas, a ferrovia veio depois; mas entre esta cena de borda, alguém montado num cavalo preto e sem chapéu, atrás da cena apoteótica, também na marginal fora da estradinha de terra, sobre a grama - um observador solitário - talvez eu ou o leitor dessa história do Brasil, ou mesmo o pintor que se retrata como assinatura dele, mas se a eleição fosse hoje... Caberíamos nesse quadro, mesmo nas bordas?