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O blog atém-se às questões humanas. Dispensa extremismos ou patrulhas. Que brilhe a sua luz. Bem-vindo e bem-vinda!

sábado, 11 de setembro de 2010

O texto abaixo do Blog:
Botando reparo é uma homenagem ao caipira, mas especialmente a um amigo meu, Claudio. E daí, Claudio, vai só ficar falando do Kaiú ou vai escrever? – Kaiú é um amigo dele e muito simples que conhece tudo pela natureza e gosta de contar coisas, coisas que nem existe. Não existe mesmo? Se o Claudio conta é porque existe, ara? Mas o Claudio não escreve... Escreva, Claudio! Quando a gente insiste com ele, ele diz: Mai escreva o cê, fica mai bão. Não que ele escreva como fala, mas quando fala escreve textos em nossa mente, que nunca sonharíamos em papel. Mas o texto é sobre ele mesmo e o outro, que veio para a cidade, poderia ser eu, mas não sou não, hehehe... Não vai botá reparo, heim?!



Inda sob o efeito Espacial...

Grato aos amigos que pessoalmente, pela ria ou pór e-mail adquiriram O Efeito Espacial. Os que adquiriram na livraria, se quiserem, posso autografar, contatem-me e a gente se dá um jeito de ir até você. Sinopse:
Abduzido e devolvido em miniatura para o seu quintal, rejeitado por não conseguir comunicar-se com os alienígenas. Depois de uma noite escondido no ralo como rato, volta ao tamanho normal e não conta à esposa sobre o "sumiço", mas começa a ter essas recaídas pelo “efeito espacial” ao passar por crises de depressão e de autoestima de forma inusitada, e ele e vai descobrindo uma nova c(C)onsciência de que não é um rato, é... (vide desfecho no final do livro). Obs. Ao lado minha ratinha...lendo. Compre por R$13,90 um livro que você pode dar até para o seu inimigo, rsrsrsrsrs... "Qualquer semelhança entre homem e rato é mera coincidência"(frase atribuída a um rato)


Botando reparo

O amigo morava num casebre a beira de um barranco. Sem nenhum luxo, com mesa de madeira, três cadeiras, alguns bancos de toco. A conversa, no mais das vezes, dava-se fora, na porta. Sobre um toco, numa divina sala pintada pelo arrebol e o riacho com a brisa fresca a cheiro de mato, onde piam aves, dava o efeito sonoro que só tem lá no sertão. A conversa ia solta. Nem era necessário falar “direito”, mesmo calado os caipiras se entendiam. Um gesto de mão, uma tosse, um “oiá”, eram sinais de comunicação a quem convivia com a natureza e conhecia cada animal de seu terreiro.
Quando o compadre chegava, muitas das vezes olhava pela janela e já sabia. O fogo com um tição queimando...tinha gente. Era só “vorteá” pelo terreiro que lá via o nhô Cláudio, mexendo por ali. “Mio pás galinha” e comida nos cochos dos porcos. O vizinho já ia botando reparo. O galo índio valente, os cachaços gordos, as bananeiras dando broto já. A batata doce assando debaixo do carvão e muita conversa amornando o ambiente, antes do primeiro “pitá’. Para o caipira “pitá” tinha de se sentar no toco, na frente da porta de sua propriedade, em primeiro plano, donde via todo o terreiro e o Sol que se escondia detrás do espigão.
Um dos compadres ficou rico, ganhou na loteria. Mudou-se para a cidade, como outros granfinos. O compadre Cláudio não saía do sertão “nem amarrado”, mas queria ver o compadre rico. Estava feliz por ele, porém, o compadre rico mudou muito, brigou com a mulher, começou a viver no luxo e esquecer velhas amizades e a beber “além da conta”. Velha amizade não se acaba assim e nhô Cláudio resolveu dar uma incerta, para pegar o amigo “sem botinas”.
Embrenhou-se por ruas cheias de gente da São Paulo. Assustou-se com tanta selvageria. Passavam em sua frente sem pedir licença, se não cuidasse pisavam-lhe o pé, ninguém dava atenção, perdeu-se. Com o endereço escrito conseguiu chegar à casa do amigo, por motorista de táxi, que deu muitas voltas na Estação da Luz, até parar ali mesmo.
Foi postando um sorriso de “ô de casa!”, quando viu um portão preto e o número indicativo do endereço, era ali mesmo. Um sobrado, daqueles que têm quartos e banheiros no andar de cima, cismou. Esticou a mão para apertar a campainha e quase foi mordido por um cachorro bravo. Devido aos latidos, o compadre apareceu na porta de roupão. Estava dormindo e até aquelas horas! Antes de receber o amigo, foi dizendo que a casa estava em desordem, para não pôr reparo e que a mulher tinha fugido de casa. Devia ter telefonado. Mas qual o quê, no sertão tem isso? Se quisesse voltaria outra hora. Voltava nada, pensou.
Mas estava ali e o anfitrião o recebeu. Foi entrando tímido. Não tinha como não botar reparo, mas encobria-se com o chapéu na cara. Um luxo estragado, que só vendo. Um homem bêbado, roupas bonitas e sujas por todo lado, um cachorro barulhento e desobediente e o amigo ali olhando o vazio, preso entre prédios, sem uma fresta de sol, com um abajur amarelo carne, sem assunto ou expressão. Por fim, depois de um rápido “oiá” disfarçado, o visitante manifestou-se, baixinho, quase ao pé do ouvido:
- Será que vai chovê? – o anfitrião continuou calado e o compadre prosseguiu, já sentindo a água:
- Num é por nada não, minha visita é sem reparo memo, mai ói, se o cê num ponhá reparo na válvula do banheiro lá de cima...

Um comentário:

  1. Caro Camilo, você é mesmo espetacular!.
    Belo texto. Quem sabe a gente escreve mais hem!
    Abraço amigo, Camilo

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