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O blog atém-se às questões humanas. Dispensa extremismos ou patrulhas. Que brilhe a sua luz. Bem-vindo e bem-vinda!

sábado, 4 de fevereiro de 2012

Amigos, grato pelos acessos a este singelo blog, com pouca imagem e nenhum som. Tenho o grato prazer de compartilhar minha literatura e postar textos que muitos lerão nos jornais. Agradeço aos aficcionados pela leitura e aos compradores de As ciladas do , nessa semana alguns se interessaram por esta obra e solicitaram as anteriores, aquelas que a gente lança com carinho, mas devido vender pouco como escritor desconhecido volta às caixas para relançamento, quem sabe póstumo. (calma, foi exagero)
Fiquem com a leitura de um texto que fiz de um personagem que perambula pelo meio bairro e é gente boa demais.
O Pretinho morreu
Foi há uns dois meses, informou o dono incontido. O túmulo dele é lá no pau-queimado, com a foto dele e tudo, pontuou o Formidável, encerrando esta parte para não lacrimejar e depois sorveu o café que me oferecera gentilmente, várias vezes. Durou por dezesseis anos, moço!... Inda recebo cartas para ele. Tomava café aqui na padaria e gostava de sorvete de bola, eram uma, duas e chega! O limite, o cão espera na porta. Educado, adestrado não. Formidável não é o tipo de termos rebuscados ou técnicos, ele era só um companheiro. Depois que comecei a ver o dono sem o cão, percebi algo estranho. Antes ao nos encontrarmos o cumprimento de saudação e gentileza, alegre e como que dividia com o cão o encontro. Agora, vejo o meu vizinho sinistro, quase como uma silhueta e sua cabeleira branca e seus olhares são vagos, longes e sempre a intenção de não incomodar aos pedestres apressados e ocupados com um corre-corre ou, na verdade, um morre-morre, pra que pressa? Talvez o Pretinho o entendesse melhor, mesmo com seus instintos de esfomeado e afeito aos cuidados do dono. Este animal passou pela vida de um humano e o marcou tanto, que este nem quer outro animal. Por certo não o tinha para afugentar gatos ou ladrões, mas a solidão, a maldade difusa da incompreensão dos corações egoístas e maus pensamentos (cada um tem seu tempo de amadurecimento). O cão vive menos que o dono e quando o inverso, o sofrimento não tem sido menor. Há cães que continuam em vigília pelo morto por muito tempo e mesmo para sempre. Agora o Pretinho está lá, sepultado no bairro Pau-queimado, com foto e tudo, como pessoa, com sua alminha boa. E outro cão, o dono diz que não.
Dono? O termo não foi bem aplicado por mim, mas não tinha outro, leitor(a), não era bem isso, era um companheiro, uma relação de iguais, quase de humanos. Aliás, amigos, os animais não são de falar muito, não é? São de tato, de focinho, sinuosos e de se insinuarem, de alertar, de viver e de olhar. Já percebeu um cão olhando para você? Saberia dizer o que pensa? Os meus fazem belíssimas crônicas como esta, eu acho, pelo menos. Os olhos amendoados de Belinha já me trouxeram muitas coisas e não é só fome, são telepatas acho e mais sábios, porque palavras voam, papel aceita tudo, mas de um olhar é difícil fugir. Havia uma relação humana, um viver, um compromisso, um ficar com a gente. Uma humildade estampada nos gestos, um seguir o outro e a entonação costumeira de comandos simples de um caipira, lacônico e suficiente entre pessoas que se entendem. De forma, que entendo a consternação do amigo quebrantado e rejeitando o sofrimento de arrumar outro. Outro Pretinho não existe.

4 comentários:

  1. A sensibilidade torna-nos serenos, mas ao mesmo tempo, muito seletivos! Belo conto, Camilo!
    Abraço, Célia.

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  2. Perfeito, Camilo! "Dono sem cão", é assim mesmo que a gente se sente numa hora triste dessas. Abraço!

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  3. Sim, Brimo, outro Pretinho não existe, assim como outra Nina não existe. Nos apegamos à essas criaturinhas, e elas a nós, que realmente se tornam parte da família.
    Boa recuperação. Estamos saudosos. Fique com Deus !
    Angelo, Gleice e Nina.

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