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O blog atém-se às questões humanas. Dispensa extremismos ou patrulhas. Que brilhe a sua luz. Bem-vindo e bem-vinda!

sábado, 14 de março de 2009


Se quiser, faça comentário abaixo. Grato.
Por minha vez vou comentar, como faz opankada no seu blog, que ontem vi os cover dos Be Gees aqui em Pira e recomendo. Hoje o texto tá bom pra cachorro.
Evolução das espécies

Desculpe-me Darwin, mas no desenho do esquema evolutivo dos hominídeos até o Homo Sapiens, o próximo elo seria o cachorro, mais evoluído que o homem. Sim, o homem evolui para a do Canis Familiares. Na pré-história já o cachorro foi domesticado, adestrado. Enormes feras se submetiam sob a guia de algum homem-macaco alfa ou mais recentemente sob as ordens de algum Barão posudo, da idade média. O cachorro via de regra aprendia e imitava os costumes do dono, a postura, o olhar, o jeito de andar, etc.
Talvez isso se deva ao mundo capitalista. Os cachorros de senhores abastados, são lhe dóceis, comem nas mãos, lambem os patrões, mas a necessidade de se buscar comida e por vezes, alimento regurgitado, faz os cães mais destemidos. Nas regiões pobres, após vários cruzamentos surge um cachorro, típico da pobreza. Um cão que revira o lixo e vai em busca do alimento diário, sem pestanejar, sem ligar para humilhação ou amizades inconvenientes nos bares e restaurantes. Sabe oferecer a outra face a cada patada humana. Não faz acepção de pessoas, se dá bem com sóbrios e bêbados. Como o cachorro do italiano da venda, que o barulho lhe acusava a presença. As latas do lixo freqüentemente estavam reviradas na calçada, as de leite em pó dentro de saquinhos, cortados pelos caninos, desciam a ladeira acordando os vizinhos. E logo gritava: È varda tomba latone! O engenhoso vira-latas brasileiro, conhecido até na Europa. Um cão de rua que aprendeu a se virar e a virar latinhas para sugar o resto dos alimentos. Um cão de ninguém, que sai em retirada para não ser alvejado por alguma pedra.
Hoje, em pleno sol de meio-dia, vi meu vizinho que ia pela rua e na frente um cachorro como se segurasse uma guia invisível. O cão o puxava, ia a frente. Tão parecidos, eram como dono e cachorro. Um cãozinho preto e roliço. Puxei assunto com ele para falar sobre o “seu” cão, que também parou para ouvir. Bem, assim, só pude lhe dirigir elogios e perguntar se o animal era seu. Não. Nem sabia quem era o infeliz em busca de dono. Disse que apareceu por lá, pedindo água e algum osso. Tinha sim um cachorro, mas não este. O seu era imponente, ganhara vários concursos de beleza. Este era um enxerido, aparece e desaparece quando quer, deve ser de algum outro vizinho, mas se dá ao luxo de transitar pela cidade, tomar ônibus e roubar os cafunés das pessoas, mas não dele o pseudo-dono. O vira-lata ouvia tudo calado, não se importava, nem um latido. Fingia-se de surdo, só olhando, cheio de sentimento. Fomos andando e quando chegou a casa, despediu-se de mim e entrou sem o cachorro.
No portão ficamos eu e o cachorro, olhando através de uma grade quadrada, com duas gaiolas na parede, um chão de piso branquíssimo e uma beleza fria e inóspita de uma casa amuralhada e bela. Ele morava ali, numa casa tumular. O lixo ficava suspenso num cesto de metal e só o caminhão do lixo o pegava. O cachorro dava-me estranhos olhares e nenhum latido. Lá no fundo daquela pirâmide moderna estava o seu elo perdido.Fui embora sem o cachorro. Ao passar novamente pela mesma rua, já tinha se ido. A casa continuava com aquele aspecto de arquitetura preservada e terrivelmente limpa, sem nenhuma viva alma. Um silêncio de casa sem ninguém, sem campainha ao alcance da mão e uma voz rouca que perguntava quem era. As palmas ecoavam pela garagem com dois carros novos. Um cachorro espiava pela porta, era o seu. Fui embora com medo.

2 comentários:

  1. Fala Camilo. Vida de cão. Ser humano ou cachorro? Aos poucos estou voltando. Andei longe da internet. Primeiro pela falta de tempo e interesse. Precisava finalizar meu texto também e acho que agora estou quase lá. Mexi bastante. Segundo porque me cortaram por não pagar a conta por quase uma semana. Mas aqui estou apreciando novamente seus belos textos. Sugiro que faça vc mesmo o convite à Priscila. Ela é dramaturga aqui em São Paulo e gosta dessa comunicação blogal. Abraços!

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  2. Conforme relatei, na última vez em que estive em Piracicaba, passei olhando as casas que circundam a sua residência como quem busca o cenário de um roteiro bem escrito, mas não encontrei nenhuma como a descrição do texto... somente depois vim a saber que a casa que serviu ao texto está em outra quadra, perto de outra esquina... É isso, uma vez que seus textos adentram minha memória, lá ficam, arquivados no setor de "MELHORES CRÔNICAS". Beijão.

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