Amigos, já imaginaram um caipira no divã. Aliás, a prosa do caipira já é uma terapia. Posto hoje um causo, espero que se divirtam.
blogueiro
Prosa terapêutica

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Seu dotor, eu...
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Fale-me mais, conte-me de sua vida...
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Eu sô caboco bão, gosto de trabaiá, tenho um cachorro perdigueiro que gosta de
caça preá. Monto no meu alazão pra ele troteá. Tenho minha casinha humirde e
muito garoto pra criá. Sou pobre, mai honesto, num gosto de apropriá. Mai essa
consurta num tenho dinhero prá pagá.
- O senhor pode pagar como puder, com o que
quiser. Vemos depois.
Na
sessão seguinte, a mulher do caipira, Teresa, trouxe uma cesta de legumes e
verduras frescas, o caipira não foi e faltou todas as seguintes, até que um dia
marcou a segunda consulta.
Para
cativar a empatia do caipira o terapeuta pôs roupas simples e listradas,
apropriando-se de algumas interjeições do dialeto. O caipira começou...
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Seu dotô, eu tinha cavalo bão gostava de trabaiá, um alazão troteado e uma
espingarda boa. Tereza, cabocla, me fazia companhia, lá numa casinha pertinho
do riacho, um dia cheguei em casa num quaxe se apagando e alguém vi si isconde
na luz de vela se apagando... Loco de
amor, tirei meu facão...
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Ciúme?!
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Não, dotô – deu um sorrisinho amarelo - num fui eu não, é moda de viola. Vim
memo convidá o sinhô para visitá lá em casa.
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E as consultas?
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Que consurta, eu não cunheço essas palavra difíce e num to duente. Até mais,
seu dotô. Pareça lá na fazenda conhecê a famia e armoça c’ua gente.
E
antes de sair o homem, o analista pergunta:
- Então por
que veio?
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Vim? Só intrei aqui proque tava choveno, ué. Pra morde iscondê da chuva e o
senhor veio c’essa conversa de conte sua vida... ara!
Nossa ao ler comecei a achar fosse "um causo" de traição... mas acabou foi em "chuva"... Ô diacho! Esse conto foi dos bão...
ResponderExcluir[ ] Célia.