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O blog atém-se às questões humanas. Dispensa extremismos ou patrulhas. Que brilhe a sua luz. Bem-vindo e bem-vinda!

sábado, 14 de abril de 2012

Amigos, Piracicaba tem uma escola dramática de excelentes diretores e atores, muitos destes que começaram na encenação da Paixão aqui no Engenho Central tombado e com teatro recém inaugurado; todavia a apresentação monumental reúne grande número de figurantes, atores, mais de mil, ao ar livre, no relento da vida do povo e da sorte de estio ou da chuvada de março. Destaco o diretor Carlos ABC, com um toque doce e um ator carregando cesto de pães e dirigindo e representando por gostar, dele a dramática e o belo em seus figurinos apreciadíssimos. O diretor mais jovem, Joãozinho Scarpa, tem uma acuidade genial de ver e sacar coisas além do plano e consegue o efeito desejado, como na cena das tentações com vários dublês de Cristo e satanás, dando o efeito crescente, ostroboscópico, repetindo a cena em vários locais e com ênfase, tanto que, eu que não fui ver devido a problemas de saúde, fui abordado sobre esta cena e a revolta contra o diretor sobre as tentações pela qual Cristo passou. Ora, o culpado não é o diretor, claro, a não ser pela genealidade de dramatizar as tentações pela qual Cristo e nós passamos, personaficando o mal na figura do diabo, o divisor, do grego diabolo - literalmente: o que divide, contrapondo a símbolo, o que une.
A túnica do diabo
Sinto-me o próprio cego curado por Jesus, guardadas as devidas proporções. Não fui ver a Paixão, devido um pós-cirurgia que me entrevou em casa; mas aí surgiram alguns comentários incrédulos pelo caminho do trabalho pós semana santa. Jesus ficou sob o poder de satanás, uma, duas, três vezes, escreva no jornal, isso é uma blasfêmia! Ele cobriu Jesus com a túnica preta. Tentei arguir que representavam as tentações somente. Escrever como? Sobre o que não pude ver? Mas aí tem coisa, lembrou-me Macunaíma nascendo e pensei nas provocações às origens das religiões. Pelo visto esta cena afetou e marcou o espetáculo dos que amam a Jesus, não posso fazer julgamento de valor de quem quer que seja, todavia parece que o espetáculo foi marcante. Uma já lascou que inda bem que a chuva começou e interrompeu o espetáculo, não suportava mais aquela cena. Contrariar seria arriscar-me a levar uma vassourada nas primeiras horas do dia e de camisa branca. Jesuis é Jesuis e nem meu santo protetor ia me defender. Não deu para fugir desses leitores generosos afinados com alguns textos que acerto em escrever. Deste aqui (se passar pelo editor) tenho dúvidas quanto a estas leitoras – mas faz parte, vou encaminhar este também. Nessa hora eu já era a própria pena de São João evangelista, sob um influxo sacrossanto de um apocalipse mal explicado. Prefiro a oposição entre Luz e Trevas do evangelho Joanino. Chuva é normal em março, lembram-se do outro texto de 2008, Águas de março, então? Não, foi o homem lá de cima, não aguentou ver Jesus humilhado daquele jeito! Então foi...
Fora isso, meus olhos de cego me levam ao cenário, à praça de guerra vazia, de outros eventos que anonimamente presenciei. O engenho, de tantas memórias e histórias inventadas ou não, quantas paixões viu-se neste espaço limitado pelas margens frescas de um rio soberano, que nomeia a cidade e dá vida e exuberância a quem dali se apega, o caipira de margem.
Impossível crer que Jesus fosse tentado nesse lugar. Sim num deserto, na escuridão da desesperança, mas não aí, na nossa casa. Convalescente, senti-me como debaixo da túnica preta de Satanás, entrevado, ou como nos albores da ressurreição e cura do meu espírito. Se estava sob a túnica preta da tentação, Jesus estava comigo. Afinal quem ia testemunhar que estava debaixo da túnica, rsrsrsr.
Brincadeiras à parte, a fé nos torna mais humanos e fortes, depois que lerem este texto no jornal vou ter de mudar o itinerário para não apanhar. Talvez concorde com a vovó italiana que me abordou assim:
- Fazer Paixão em marçó, devia fajê em maia, Junia, eh... chove memo.
Nota> Aos interessados por ficção científica e humor, temos os exemplares de As ciladas do Androide, a quinze reais o preço de capa. Contate-nos.
Boa semana!

2 comentários:

  1. Dores, sofrimentos, fé, crença e muito simbolismo de anjos aos demos... estamos todos no mesmo barco... e se a chuva for por demais... iremos pro brejo mesmo... cada um da sua história de vida!
    Abraços de saúde!
    Célia.

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  2. Pena que perdi esse espetáculo, Camilo. Melhoras pra você! Abraço!

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