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O blog atém-se às questões humanas. Dispensa extremismos ou patrulhas. Que brilhe a sua luz. Bem-vindo e bem-vinda!

sábado, 24 de março de 2012

Cada chapéu uma cabeça

Amigos, fiz algumas modificações na estrutura do blog, espero que tenham gostado. É um blog de leitura e sem outro atrativo maior como vídeo ou imagem surpreendente. Simples.
blogueiro.
Cada chapéu uma cabeça
Depois de muito me esgueirar pelas beiras das casas, andar como lagarto no deserto, até à árvore próxima. Sim, rendi-me ao velho utilitário das calvas da família, o ilustre chapéu. Meu avô não o tirava da cabeça e usava até à noite – o sereno fazia-lhe mal, dizia. Ver o nono sem chapéu, via somente no ambiente familiar,
à mesa, na sala, nas missas ou para acompanhar algum enterro. De tal modo o chapéu estava ligado à cabeça dele, que brincar com o chapéu do novo dava um ar de liberdade e de intimidade familiar – cuidado com o chapéu do nono, era a advertência, mas ele ria sem saber falar não (inda vejo o nono careca). Papai foi diferente. Era um usuário moderno, a seu modo. Usava-o torto num ar de artista, de homem elegante, quando o via no cabide eu ficava testando para ver em que lado o chapéu do pai ficava inclinado na cabeça – até hoje não sei, afinal isso não é para criança mexer, levava já. Ah, os chapéus tinham lugar
certo para se o deixar, um cabide de madeira envernizada junto com outros utensílios importantes como guarda-chuvas ou capas – e acrescento: alto pra burro. Não que não me desse atenção, não me dava era o chapéu. Agora eu passei a usá-lo nas horas de sol mais ardido e foi tão fácil, entra na cabeça como uma ideia, a de se proteger. É algo que não esqueço, está na
cabeça, talvez a única coisa que não me esqueça. Não me lembro do lado da inclinação da aba do chapéu que papai usava, e tinha aquele olhar de perfil de aonde vou. Se pegasse o tal no cabide era para sair a algum lugar. Aonde o senhor vai, pai? A gente ia seguindo ele de chapéu até a área de fora, subia na carroça e sumia na estrada. Quando chegávamos a casa olhávamos o cabide e era bom, porque às vezes tinha mais um chapéu, de veludo, com fundo azul, de passeio – o nono chegou! O velho já ia fazendo os agrados, trazia algumas balas, dava umas voltas no quintal e depois deixava pegar seu chapéu e ficar virando na mão, feito volante de carro ou sei lá o quê. Hoje, ao menos, não tenho de escrever em papel de pão ou mortadela e nem esconder minha memória de outras crianças. O meu chapéu de 1,99 lembrou-me estes e na vitrine parece que vejo meus antepassados na minha própria imagem, somente uma coisa me escapou. Onde vou pendurar minhas histórias, inda bem que são aceitas – quem viu um cabide velho?

5 comentários:

  1. Suas histórias que esbarram em muitas das nossas, dos chapéus "Prada" de nossos avós... estarão dependuradas em nossas lentes de vida vivida e jamais vegetada! Parabéns, Camilo pela crônica e pelo novo lay out do blog!
    Abraço, Célia.

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  2. Obrigadão, Célia, do coração mesmo.
    Abço carinhoso.
    Camilo

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  3. Partilhar estes momentos inesquecíveis fazem a gente sonhar com a nossa infância, tão repleta de atrativos, brinquedos poucos, mas brincadeiras muitas, não é mesmo Camilo? Abraços desta CaipiracicabANA Marly de OLiveira Jacobino

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  4. Que legal, Camilo, sua história me fez membrar do meu avô. Ele também usava chapéu, mas não deixava ninguém brincar com ele. :( Abraço!

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  5. Ana, não tenho muitos brinquedos, mas faço joguinho de palavras, rsrsrs.
    Carla, estou mesmo usando um chapéu para evitar o câncer de pele da minha calva, fiz este texto.
    Abção.
    Camilo

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