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O blog atém-se às questões humanas. Dispensa extremismos ou patrulhas. Que brilhe a sua luz. Bem-vindo e bem-vinda!

sábado, 9 de julho de 2011

Escorredor de p ra tos (Cèzane e Lucinha)

Duas obras de arte, o equilibrio na mesa de Cèzane é estético, se fossemos pôr as maças deste jeito cairiam; o equilíbrio no escorredor de pratos é físico, no caso a luva azul serviu para segurar meus pratos e copos de requeijão. Rsrs, fui eu que fiz... mas vejam a peripécias do seu Cascão no texto abaixo. Grato pelo acesso.


Escorredor de pratos
Chegou da rua, destampou panelas vazias sobre o fogão, remexeu geladeira, fruteira e quê fome? Lucinha tinha saído. Pegou um copo de leite e foi respingando pelo chão de piso branco barato, pisando as marcas que fazia com o sapato de rua. Comeu voraz o pão esmigalhado sobre a mesa de formiga, olhando as sombras das roupas no varal. Não satisfeito, o homem assaltou a própria cozinha e comia com as mãos, assustando os cães esfaimados com pontapés. A fome do homem o deixava em absurda voracidade e raiva, pegava o que via na frente, biscoitos, frutas, pães e até crus ou preparados de outros quitutes. Foi assim que seu Cascão devassou o próprio lar e saiu para a rua, não para trabalhar, mas buscar o que lhe faltava dentro, por fora, era a casca mesmo.
Fungou e saiu, sem ver a louça limpa. Montes de louças no pequeno escorredor, equilibrados pelo capricho da esposa ausente. Ali utensílios do almoço, copos de requeijão, garfos tortos, facas cegas, colheres, feitos uma pintura de Cèzane! Tal qual o quadro, o equilíbrio era mais estético que físico. Nesta arte doméstica perto à Santa Ceia em descoramento, duas luvas verdes cobrem como mãos pródigas segurando tudo, uma última pincelada de pó de rosto e dona Lucinha, que não conhece Cèzane, foi à igreja rezar e o marido, que não a reconhece como artista ou o brilho dos alumínios... foi ao bar.
As ruas eram de paralelepípedos, aquelas ruelas permeáveis, que vão absorvendo palitos, pedregulhos, chuva e pensamentos do seu Cascão, que não sabe contar quantos paralelepípedos pisou até chegar ao bar. Ao entrar olhou para fora e limpou toda a lembrança desse caminho, que pena! – se fosse um poeta... Não era.
O bar lhe trazia a ideia de companhia, mesmo que ruim, estava acompanhado e livre de suas ideias. Os copos na prateleira da pia, os pequenos, os grandes, as taças e alguém que os tirava e os voltava limpo, entremeio ao cheiro agridoce das bebidas que sorvia no ar. As conversas iam de lá para cá e ele bebericava. Mais, senhor? Não, agora dera para beber com os olhos. Tomava sua bebida e os copos deslizavam pelo balcão de lado a outro, o garçom era um expert, se alguém estendesse a mão sobre a bancada o pedido do freguês ia para o chão, enquanto alguma rapariga derramava-se sobre algum incauto.
Cascão olhava com olhar descamado de sono já, e lembrou-se de dona Lucinha. A um toque de dona Lucinha, tudo se arrumava, a um toque dele... Talvez ela tivesse voltado da igreja. Ia sair quando a prateleira de copos caiu e quebraram-se bem uns dez, o homem lembrou-se das mãos da esposa. As luvas verdes... mais que luva, um toque de Lucinha, o equilíbrio feminino, pia e senhora de si, e do seu coração desnorteado.

Se não encontrarem nossos livros na Nobel do centro ou Shopping, aguardem que estamos repondo os exemplares vendidos. Inda bem que está acabando...rsrsrsrs

2 comentários:

  1. Oi Luiza,nesta semana na sexta feira postarei com muito carinho seu livro no Chá de literatura,no chá da tarde...espero que desculpe,mas não foi possível postá-lo antes....amanhã temos chá virtual com uma receitinha da amiga Manuela,espero você,mesmo virtual mas sua presença é real,beijo no coração,estou seguindo este blog tbém....

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  2. Uma movimentda, estática, bela, esplendorosa descrição!

    Felicidade, amigo!
    "Luiza"!?

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