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O blog atém-se às questões humanas. Dispensa extremismos ou patrulhas. Que brilhe a sua luz. Bem-vindo e bem-vinda!

sábado, 12 de março de 2011



Amigos, o texto de hoje não é fúnebre não. É uma brincadeira de bom gosto. Todavia, ter pai acamado mexe com o nosso psicológico.
Dou umas dicas de leituras também. Leiam o clássico Charles Dickens, estou lendo Histórias de fantasmas, dele. Para quem gosta de uma boa literatura, a qual vc entra no texto do século XIX. Charles Dickens é criador de personagens memoráveis da época triste da revolução industrial na Inglaterra, cujas construções repercutem a vida dura que teve, inclusive com a prisão do próprio pai por dívida. Mas nada disso, impediu, ao contrário, deu vigor à sua obra.
O blogueiro

Morte aparente


Invadiu a casa pelo corredor, sorrateira, desarmada, mas no final a luz da sala acesa e aquele dispositivo supersônico a tonteou. Caiu ferida, abriu a boca, não conseguia pronunciar som algum. Estrebuchou um pouco, aqueles tremeliques de agonia. O casal agressor acompanha a sua morte em câmera lenta, vendo-a arrastar-se, sem clemência. O fato de ser invasora os fazia inocentes. Fizeram-na cheirar um spray amargo que a tonteava de vez e que lhe amortecia a língua e todo o resto. Em seguida o silêncio. Isso lhe deu uma morte aparente. Para os algozes, matadores em série de sua família, se a vítima torturada aparentasse morta, desinteressavam-se.
Horas se passaram até que se ouviram vários estampidos na cozinha, estouros como tiros. O homem levantou-se, passou sobre ela estirada e foi ver. A pipoca já estava pronta, avisou a mulher. Enquanto a vítima jazia no corredor, eles viam TV com pipoca. O vento amenizou o calor e o cheiro do veneno. Podia tentar uma saída, se ficasse em pé ao menos – mas sem chamar a atenção dos dois. Foi abrindo os olhos e no três deu o impulso frenético do tudo ou nada. A mulher viu a tentativa frustrada – ela tá viva, marido! Este veio derrubando pipocas e bufando. Quem lhe dera o direito de espernear! Era louco ele, batia o pé feito um demente, a sua fêmea instruía, sádica, odienta: mate ela, mate ela; aqui não, lá fora. O gordo de cuecas, pula e corre pelo corredor, a mulher com o lança-spray. A barata (era uma barata, viu) corria contra o vento e o spray venenoso não a intoxicava, era a morte clemente que queriam dar ao inseto sem sujar o piso. O homem estava como vaca num atoleiro, não a pegava, até que a mulher tirou o tamanco e a barata se rendeu num canto. À espera do golpe fatal, olhou para os olhos da fêmea humana e disse:
- Mate ela ou mate-a, heim?
E antes da resposta embrenhou-se novamente num livro velho de gramática e morreu nas entrelinhas.

Um comentário:

  1. Boa Noite , Camilo!
    Poucas Baratas...
    Boas Leituras ...
    Se entendi que o pai (está acamado), estimo melhoras a ele.
    Um forte abraço !
    Luis Antonio

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