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O blog atém-se às questões humanas. Dispensa extremismos ou patrulhas. Que brilhe a sua luz. Bem-vindo e bem-vinda!

sábado, 9 de outubro de 2010

Vargas > .......... Guerra de Canudos > ....o canudo do ...... NOBEL

VIDE APÓS O TEXTO DO BLOG, ABAIXO, antes uma Piadinha: Não vou deixar não. Vai uma piadinha: “Se dessem-me o Nobel de Literatura (que pretensão!) como deram o Nobel da Paz ao OBAMA para implantar a paz no mundo – como incentivo pela sua eleição, quem sabe eu faria uma literatura melhor, mas ele implantará a paz?” Não riam, não em graça. Todo prêmio traz um castigo, não é de graça. A boa literatura vale pela sua expressão de realidades e não por estética simplesmente, por isso vide Guerra de Canudos que Vargas se debruça. Euclides da Cunha não se curvou e seguiu a essência, contrariando a política do época com chavões contra e a favor à monarquia, mas o que estava em jogo era a vida daqueles pobres do sertão tão bem retratados como Hercules-quasímodos. Os governos passaram, o registro ficou no povo e no livro e no Peru. Comento após o texto O chapéu do nono.

(O Seminário)

Grato aos leitores que adquiriram os quase 300 exemplares de (O Efeito Espacial) e pelas manifestações de apreço e de crítica. Você também pode fazê-lo pelo e-mail camilo.i@ig.com.br. Os desenhos abaixo é um estudo meu para o próximo projeto de livro, O Seminário. Depois de trinta anos na gaveta, fui seminarista em 82-85, criei um romance mas não publiquei. Se o fizer agora, mais volumoso que O Efeito Espacial o farei em poucos exemplares devido ao preço e sob encomenda. Você poderá ter o seu, tem várias pessoas que o querem ler de qualquer jeito, até no prelo, mas o quero bem acabado e sem rasuras em quem quer que seja.





O CHAPÉU DO NONO




O chapéu do nono (ficção)

O nono tinha um chapéu que sempre pendurava ao chegar. Sempre gostei daquele chapéu, mas com o respeito que impunha, nunca tive a liberdade de pegá-lo ou alcançá-lo no cabide. Hoje o nono é morto, o chapéu ficou por lá sem a cabeça dele. Uma lembrança de quem o usou. Um belo chapéu. Nunca usei chapéu algum, bonés sim, chapéus nos envelhecem, pensava e velho era o nono e outras pessoas da sua geração.
Num desses dias de sol e de sábado, vendo o chapéu à-toa resolvi pô-lo à minha cabeça. Ademais estava careca como o vovô. Era meio incomodo, deslocado usar um chapéu de alguém falecido, mas era alguém do meu DNA. Até via o nono rindo em seus bigodes grisalhos vendo o neto ridículo pelas ruas. Tomei emprestado para ir ao trabalho e voltar, socorrendo-me do sol de verão. Como medito e até viajo em pensamento, as lembranças dele me tomavam as idéias.
Depois do trabalho, quando estava à só em casa, aproveitava para ir às compras com o mesmo chapéu. O centro novo da cidade. Lembrava-se segurando em suas mãos o mercado velho, o pastel e as imensas ruas de calçamento de pedras. Subia na carroça e o cavalo ia raspando as ferraduras. A sombra do homem de chapéu o conduzia.
Eu subia as ruas agora a pé e a carroça ia na minha memória, flores nas janelas das casas, um portão que bate, o cheiro de comida caseira e vozes das pessoas lá dentro. A vida urbana era assim. Aos poucos tudo ficava para trás e o silêncio ia mudando as coisas, o cavalo já trotava e a carroça já ia chegar a casa.
Outro dia sai com o chapéu. Passei tranquilo por uma casa antiga, mas tive a impressão que alguém me olhava. Podia também ser uma mancha do vidro, isso acontece. Mas mancha não se mexe. Quem mora aí? Perguntei à vizinha. Ninguém desde que a antiga proprietário faleceu, foi a reposta. Sim, agora me lembrava, o nono viúvo andara por aqui e tinha uma paquera. Emilia, esse era o nome. Noutro dia passei e quis entrar, pulei o portão de madeira e estava dentro do casarão de assoalho e um cheiro de velharia. Subi a escada para o andar de cima até a sacada. A janela de vidro manchado. Alguém mais esteve ali e escreveu bem tosco no vidro “Emilia”.
Desci meio sem jeito e fingi que era o proprietário aos transeuntes. Se soubessem que era invasor ia pegar mal. Num minuto ganhei a rua e o casarão ficou lá atrás. Cheguei à minha casa, almocei a comida de minha amada e relaxei no sofá. Vai sair à tarde, bem? Perguntou-me. Claro, preciso exercitar-me, respondi. Levantei-me, mas cadê o chapéu?! Nunca mais o vi nesse mundo.
Vargas Llosa:
Vargas Llosa sofreu a influência do Existencialismo de Jean Paul Sartre. Muitos dos seus escritos são autobiográficos, como "A cidade e os cachorros" (1963), "A Casa Verde" (1966) e "Tia Júlia e o Escrevinhador"(1977). Por A cidade e os cachorros recebeu o Prêmio Biblioteca Breve da Editora Seix [Barral e o Prêmio da Crítica de 1963. Casa Verde narra a vida das personagens em um bordel, cujo nome dá título ao livro. No Conversa na Catedral publicado o próprio Vargas Llosa caracterizou como obra completa, narra fases da sociedade peruana sob a ditadura de Odria em 1950, é um um encontro na Catedral entre dois personagens: o filho de um ministro e um motorista particular. O romance caracteriza-se por uma sofisticada técnica narrativa, alternando a conversa dos dois e cenas do passado. Em 1981publica A Guerra do Fim do Mundo, sobre a GUERRA DE CANUDOS que dedica ao escritor brasileiro EUCLIDES DA CUNHA autor de OS SERTÕES. Neste ano de 2010 foi agraciado com o por sua "por sua cartografia de estruturas de poder e suas imagens vigorosas sobre a resistência, revolta e derrota individual". Esse é do Peru.

2 comentários:

  1. Camilo,

    Você escreve como a doçura e sensibilidade de um poeta e também tem um lado cômico, meio "irônico" que eu adoro porque você me faz rir e "viajar" com suas crônicas e artigos. Lendo essa crônica eu voltei aos meus tempos de criança quando eu e meu avô Angelo, passeávamos de charrete e ele também usava um chapéu como esse que você descreveu, na época era comum os homens usarem chapéu,fazia parte do traje masculino. Um domingo cheio de alegria no seu coração!

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