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O blog atém-se às questões humanas. Dispensa extremismos ou patrulhas. Que brilhe a sua luz. Bem-vindo e bem-vinda!

sábado, 2 de outubro de 2010

Divulgação:
“Teteco teco nos tamancos
Cocola cola no sapatão
Ziguezague a linha
Agulha na mão.”

TECO TETECO é um poema de Luzia Stocco. Joga com som e repetições de palavras e ações numa vivência criativa e consciente, publicado na íntegra no seu blog http://literarteluziastocco.blogspot.com/




Grato aos leitores que adquiriram os quase 300 exemplares de O Efeito Espacial e pelas manifestações de apreço e de crítica. Você também pode fazê-lo pelo e-mail camilo.i@ig.com.br.
Os desenhos abaixo é um estudo meu para o próximo projeto de livro, O Seminário. Depois de trinta anos na gaveta, fui seminarista em 82-85, criei um romance mas não publiquei. Se o fizer agora, mais volumoso que O Efeito Espacial o farei em poucos exemplares devido ao preço e sob encomenda. Você poderá ter o seu, tem várias pessoas que o querem ler de qualquer jeito, até no prelo, mas o quero bem acabado e sem rasuras em quem quer que seja.


Cidade dos mendigos

Gotículas que molham o mendigo lá embaixo na calçada e não sabe que o jardineiro anônimo sou eu. Não pode me alcançar, o vi quando saí pela portaria e lhe dei duas moedas de cinco centavos, que me incomodavam frias no bolso. Em troca agradeceu ao “seu dotô”. Tenho roupas boas, “algum” no banco, títulos não, mas moro lá no meio de gente rica e vejo o crepúsculo. Nem olho mais, de tanto que vejo nem olho. Pra quê? Isso sempre me deu tristeza e minhas flores não precisam de sol, comprei numa lojinha logo ali embaixo na esquina, paguei barato e têm outras, de todas as cores e tipos, imitam Holambra, vou dar algumas de presente e o regador fica por conta de quem ganhar.
Todos os dias antes de sair rego plantas. Do meu prédio, da cobertura, minhas flores plásticas e verdes, sempre verdes sem pragas ou borboletas, sem beija-flores e insetos. A água é limpa, clorada e filtrada de um regador limpo, mas não tenho tempo de vê-las crescer.
Mas essa gente não sai da calçada. Esse
mendigo insiste em ficar aí. O pior é que um morreu e noutro dia já tem alguém marcando território com as palmas estendidas. Sou religioso sempre contribuo com algum na mão deles. Dizem que lá nos países ricos, de primeiríssimo mundo, não é assim. Meu vizinho passa as férias por lá e me conta. Lá, onde tem dinheiro tem os mendigos clow, têm os parados como estátua, os de mãos espalmadas e “têm glamour” – usam jeans ou roupas sociais, tudo combinando com um mendigo de primeiro mundo. Mendigos não, imigrantes de onde os países empobreceram.
Outro dia, só por curiosidade, pus-me a seguir o mendigo manco. Todo mendigo é meio manco ou anda esquisito com um saco quase vazio às costas e, na maioria das vezes, tem um cachorro que vigia a gente que passa ou mesmo caridosos como eu. Todos meio iguais, como as minhas flores de loja.
Como tossia o homem! Devia sair da marquise aberta, se os pingos do meu regador o molham. Que tolo! O sol já o seca, só alguns passos já toma o ônibus, se quiser. O coletivo passou e ele nem se deu ao trabalho de estender o braço! Vai a pé? Sim, vi o tal outro dia com minha luneta, ele mora distante, aliás, tive de parar de olhar porque a vizinha do outro lado estava incomodada.
Mas foi assim que cheguei a um punhado de casas amontoadas umas sobre as outras e ele desapareceu no meio das pessoas. Eram todos assim. Havia mulheres mendigas também. Mas que ousadia! Flores de verdade no parapeito de janelas velhas, tristes e baldias - nada escrito, mas era um lar. Eram catadores. Meu Deus! Foi isso! Esse mendigo que eu segui catou meus sonhos que caíram da cobertura. Pior, o mendigo era eu catando meus sonhos, e você? Mora na cobertura?

5 comentários:

  1. Camilo,

    Você não acha que 1 Shopping é pouco para Piracicaba? Gostei da sua carta no Jornal de Piracicaba.
    Uma semana cheia de paz para você. Um abraço!

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  2. Não, que os cinemas estejam todos lá é ruim. Um abraço.

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  3. Oiiiiiiii......

    Meu amigo!!!!Parece que está bravo? Concordo com você, mas lembre-se estamos em Piracicaba, sem desmerecer nossa linda e amada cidade. Você está fazendo sua parte escrevendo cartas mostrando seu descontentamento, e eu a minha mandando e-mail para o Cine Araújo, pedindo filmes bons que não passam em Piracicaba. Estamos fazendo nossa parte, nós vamos conseguir! Uma semana maravilhosa para você!

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  4. Que bom que me acessou de novo. Não estou bravo. Eu questionei o seguinte: Acho que deve haver cinemas em vários locais de uma cidade, não serem concentrados todos num só, como no Shoppíng, para termos mais opções de ver um filme ou outro. Foi isso a que me referi. Só isso, sem nenhuma braveza, mas o meu tom às vezes, parece bravata. Desculpe-me. Deixo-lhe um abraço e minha amizade e com bons filmes. Gosta de ficção, aqui estamos assistindo filmes de Agatha Christie, do Hercule Poirot. Você vai gostar, tem excelente fotografia. No 100% video está locando.

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  5. Camilo uma vez mais você me surpreende com sua lúdica acidez crítica, mas sempre lúdica. E joga no nosso rosto a incontestável percepção de que somos todos mendigos, famintos do que temos e não aproveitamos, pedintes dos sonhos que se passaram e que deixamos por realizar. Parabéns!!!! emocionante, elucidante, embriagante. Assim é o seu estilo. Beijos.

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