Amigos(as), grato pelos acessos a este singelo blog, espero que curtam o texto abaixo, como curtiram o anterior. Abç
Bloguista cansado neste final de ano, ufa.
Papai-noel virá?
Pela veneziana
quebrada via o céu noturno. Estrelas desperdiçadas pelo meu sono, uma lua que se
virava pelos cantos do firmamento. No parapeito da minha janela que dava para a
rua, o meu burrinho feito de batata com quatro palitos enfiados. Era o meu
poder de barganha para ganhar algum presente, porque no ano todo fizera muitas
peraltices. Tentaria não dormir para me explicar pessoalmente ao bom velhinho,
quando chegasse.
Ele
vinha sempre de trenó e de muito distante. Passava com suas renas, um cavalo do
pólo norte, só que diferente – diziam-me. Ah! Deixava marca de estrelas pelo
céu, porque esses cavalos eram mágicos e voavam e, em minha expectativa, eu
também. A espera pelo papai-Noel. Mesmo que não viesse com o presente desejado,
daria alguma explicação por não me dar a bicicleta que eu pedia todo o ano.
Para mim, aquele veículo era o máximo, aqueles pneus com raios finos suportando
meu peso de gordinho. O problema seria equilibrar-me em duas rodas, precisaria
de no mínimo três. Mas papai-noel devia saber disso.
Fui
posto na cama à força, hora de criança dormir. Meus olhos estalados não saíam
da veneziana. Passei quase toda a noite em claro, a pressentir os movimentos e
barulhos da chegada do trenó. Meus pais dormiam noutro quarto e meus irmãos
dormiam como bebês. Estava sozinho no meu mundo, insone. Pela veneziana ouvia
um rodamoinho noturno, levantei-me algumas vezes e via a noite pela fresta. O
cachorro amontoado, dormindo. O silêncio pairava preguiçoso, suspenso nas
nuvens altas e brancas que vagavam nas brisas, as galinhas empoleiradas e imaginei
o galo de pijamas, o sol ia demorar a nascer. E o papai-noel?
De
dia, disseram-me que o velhinho tem de entregar muitos presentes e nem sempre
chega a tempo ou conversa com a gente. Andava eu já pelo terreiro, sem temer
noite, enquanto o papai-noel não chegava. Descobri que as aves dormem e os
outros animais também, só não sabia com o que sonhavam. O cachorro levantou a
cabeça e vendo que era escuro enrodilhou-se novamente. Tudo muito quieto.
Voltei para debaixo das cobertas, sem ninguém me mandar. Agora já conhecia a
noite do quintal.
Sonhar
dormindo é normal, mas bom é sonhar acordado. Cochilei no travesseiro, mas
sonhava que estava com os olhos abertos na veneziana. Quanto mais esperasse,
mais demoraria. Então fui imaginando o prazer em ter a minha bicicleta. O
guidão, os pedais, as rodas raiadas fazendo rastros na estrada de terra macia.
Ia pôr até uma caixinha atrás para levar brinquedos meus. Ia ser minha redenção
da vontade de passear, ir aonde meu pai não levava e minha mãe nunca deixava ir.
Os meninos iam ficar admirados, eu ia ser respeitado com aquela magrela,
presente do papai-noel. Mas acordei no dia seguinte e cadê a minha bicicleta?
A
que tenho hoje não é como a que o papai-noel não me deu. Então tive de aprender
a viver sem ela. Afinal, uma bicicleta não é tudo, mas valeu. Será que uma
bicicleta é tudo isso? Onde estão os presentes que ganhei? Presente de criança
só tem valor na hora, depois fica esquecidiça no quintal, como fiz com meu
cavalo de brinquedo e meus montes de terra, que ora junto para brincarmos neste
pequeno espaço gráfico.
Aos que desejam presentear com os nossos livros o e-mail para pedido é quartarollo.camilo@gmail.com e enviaremos por correio se fora de Piracicaba-SP e depois você deposita. Abç
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Seu comentário é valioso. Grato.