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O blog atém-se às questões humanas. Dispensa extremismos ou patrulhas. Que brilhe a sua luz. Bem-vindo e bem-vinda!

sábado, 27 de julho de 2013

Amigos, grato a todos pelo acesso a este blog. Espero que curtam  mais este texto.
Blogueiro
Incidente em Piracicaba
Tarde domingueira, morna, uma leve queda de temperatura, uns ventinhos manhosos, esfriando, o sol zombeteiro e por fim veio dez minutos de saraivadas de granizos e vento forte como látegos, rodopiando, arredios, levando tudo aos ares. Dez minutos somente. O cenário era de árvores arrancadas com raiz e galhos contorcidos em gritos mudos, fios caídos pulando como peixes elétricos e todos curtiram nos celulares como vagalumes na repentina escuridão.
Saí ver pelas ruas escuras com sirenes de bombeiros e de carros sem seguro contra eventos naturais ou sobrenaturais, vozes e gritos nas calçadas, enquanto algumas velas nas casas da cidade era o espectro dos casebres, num breu total fora em piscar de celulares ou faroletes improvisados. Nos aglomerados todos queriam contar a sua desgraça.
A luz apagou, a TV interrompeu-se, desprogramando os seus telespectadores. O mundo parou.
Fora, meia-noite, ainda uma lua prateada que embevecia o céu, sem nenhum olhar, isso não é notícia.
Não soube de nenhum óbito, mas ao avistar o posto de bombeiros vi ao lado o muro do cemitério caído. Meu Deus! Uma ideia me passou como um relâmpago. Os mortos fugindo, um a um aproveitou o inusitado e saltaram fora. A garoa fina beliscava meu para-brisa e aquela gritaria de mortos pela avenida. Quase atropelei um que voltou pegar o buquê do caixão, morto novo ainda. Liguei para alguns amigos para avisar e, realmente, os mortos estavam retornando às casas deles. De nada adiantavam os grossos cadeados do enorme portal, o coveiro ainda tentava cercar alguns, mas desistiu e os deixou além.
Liguei para o Miguelzinho, esse não deixava do celular nunca e disse-me “estou saindo”. Não, cuidado, Miguelzinho, não saia - disse-lhe - está um pandemônio na rua, tudo caído, caiu até o muro do cemitério, imagine. Ele retornou dizendo “eu sei, estou saindo já”. Saindo da onde? “Desse caixão feio, ara!” Ele havia sofrido um acidente fatal de moto um dia antes e ainda nem sabia que morrera, ia fugir também. O adverti que ficasse, “nem morto”, disse; morto sim, vai ficar aí, emendei – ora, vivo manda em morto, não manda? Rebelde como ele só, sempre contrariando, jovem, afinal... Os mortos sempre ficaram tão bem ali durante o dia, cada um seu túmulo e à noite põem-se cadeados nos portões e pronto, mas basta um trovãozinho e já querem sair! E ele continuou “o atestado de óbito tá errado, meu, tô vivo aqui, qué sabê, vou protestar com os outros” Era o que faltava! Meus Deus!
Não se preocupem, conterrâneos. Passei lá hoje e já estão consertando os muros e os mortos retornaram todos. Desculpem-me a brincadeira pai, avô, amigos e parentes todos, mas brincar mal não faz, enquanto não soar a trombeta eu vou contrariando até que, totalmente contrariado, ponham-me a dormir junto à mãe natureza. Vou sentir saudades, vou morrer de saudades.

2 comentários:

  1. Apesar de... é hilário... Lembrei de um amigo que pediu para ser enterrado com o celular, pois, vai que ele acorde... poderá sair do sufoco... Fico pensando como ele carregará a bateria do mesmo...
    Abraço, Célia.

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  2. Grato, Célia. Na próxima tenho de lembrar disso, de que talvez um raio ligue o celular, ahahahahHAHAHAH.
    Blogueiro

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