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O blog atém-se às questões humanas. Dispensa extremismos ou patrulhas. Que brilhe a sua luz. Bem-vindo e bem-vinda!

segunda-feira, 11 de março de 2013

Amigos(as), havia dito que nesta semana ia postar algo que não animal, mas não deu, este texto saiu no jornal local no dia 05 p.p. e é atual e se não publicasse perderia o than, verão no último parágrafo. Então postei ainda sobre cachorro. Conto com a compreensão canina de todos, e se tiver muito cansativo, protestem. Abç
O blogueiro
Cadê o Chiquinho?
Chiquinho era um cão de rua, sem dono não, mas de rua. Durante o dia “dava expediente” pela vizinhança. Conhecia Bentinho, o cachorro do Ângelo, este cão todo branco e comportado, recebia o amigo no portão e o despedia ali, com latidos baixos ou resmungos, era um aristocrata como o dono. Chiquinho andava pelas paragens, fazia novas amizades e à noite voltava para o dono, um montador de móveis da região.
Era comum o Ângelo comentar sobre o cão do vizinho. O Chiquinho andava longos trechos, víra o tal do outro lado da cidade, no mercadão, tomando ônibus, na câmara municipal (sentado), entrava com a torcida no jogo do Quinze de Novembro, era um cão independente, livre e amigo. Via-se o animal descendo na parada gay, nas manifestações de rua e depois se acolhia no bar, mas se a coisa esquentasse sumia. À noite voltava para casa na casinha improvisada no quintal e a lamber as mãos do dono, de quem não largava. Tinha tanta civilidade que ficava por horas na vaga guardando idosos ou pessoas com necessidades especiais estacionar, levava cestas na boca até a casa de uma vizinha idosa e ajudava pessoas indecisas a atravessarem a rua, sem sofrerem um arranhão.
A estranha figura do cão levantou curiosidades quanto à origem, era vira-lata mesmo, mas quem fora seu primeiro dono? Descobriu-se. Fora de um frade capuchinho, daqueles de chinelas e que vivia nas comunidades pobres, alguns se recordaram dos dois, do frade e do cão.  Não faltava comida para o Chiquinho, nem um afago de estranho, que acedia com prazer e simpatia. Ninguém ousava molestá-lo em qualquer estabelecimento, nem os desafetos de cães vira-latas, mesmo vendo seus pelos desgrenhados.
Um dia Chiquinho sumiu. O dono choroso veio procurá-lo na porta do Ângelo e Bentinho espiava sem saber. Não voltava para casa há dias e achava que Chiquinho podia ter sofrido um acidente. Da última vez que sumiu foi encontrado longe, na Argentina.  Mas como? O animal pegava avião, assim como subia nas escadas dos ônibus e descia no ponto, mas talvez tenha ido para algum lugar perigoso, onde não o conheciam. O Ângelo veio me contar e fiquei apreensivo também, contei à minha esposa, mas pôr no jornal não ia dar certo, somente se fosse retrato falado, porque Chiquinho não tinha uma foto sequer.
O amigo Ângelo se compadeceu, eu me preocupei, mas o que fazer? Se caísse nas mãos erradas, de pessoas que não o conheciam talvez sofresse alguma violência, ou se enturmasse com cães errados, talvez saísse arranhado e com a autoestima manchada. Procuramos muito o cachorro, eu com meu carro, o Ângelo pôs sua limusine à disposição, o Cláudio virava-se com seu Gol 74, o dono dava voltas com a Kombi velha, os vizinhos traziam notícias, mais falsas que verdadeiras. Chiquinho sumira no mundo mesmo. Nada mais nos restava, o Ângelo estava com ar de cansado e bateu à minha casa, convidei para entrar e vermos TV, afinal era o grande dia do conclave, para eleição do papa.
Entrou, sentou e liguei a TV como pretexto para dispersar. O Ângelo, se não falei, é umas das pessoas mais perceptivas que conheço, e fitou a tela. Gostava mesmo de eleição papal. De repente:
- Olha lá, olha lá!
A enorme porta se fechou e por ela vi entrar de raspão o Chiquinho. Estava no Vaticano! Talvez escolhendo o novo papa. Boa sorte, Chiquinho, precisamos de alguém com faro mesmo e humano, quem sabe um capuchinho.

2 comentários:

  1. Olhe, jamais ficar brava com você e suas irônicas crônicas/contos... principalmente as clericais... Sensacional! Agora vai dar certo! Chiquinho no Vaticano... meu voto vai para ele, que já demonstrou e muito ser de todos e por todos. Nada fundamentalista ou retrógado. Está sempre nos acontecimentos do momento! Não se 'conclava'... é aberto, transparente para tudo e todos! Campanha para o Chiquinho!
    Abraço, Célia.

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    1. Grato. Difícil, hein. Este vaticano, acaba com a Igreja, assim como a saúva no campo. Abção, Célia e pelos seus comentários tão sábios.
      Camilo

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