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O blog atém-se às questões humanas. Dispensa extremismos ou patrulhas. Que brilhe a sua luz. Bem-vindo e bem-vinda!

domingo, 13 de janeiro de 2013

        Amigos, grato pelos acessos de carinho e atenção a este blog. Grato também aos que adquiriram Crises do filho do meio - Memórias e Lendas. Sou eternamente grato, não só porque adquiriram, mas porque lerão minha obra. Hoje posto um texto bem humorado e do cotidiano de casais.  Estou com problemas para postar imagens, antes tão fácil - coisas da net.
O blogueiro
        Contas de travesseiro
São um, dois, três... Três carneirinhos brancos e macios que pulam a cerca. Que carneiro? Gritou o marido, que acordou a esposa divagante. Eu conto carneiros, ora! No terceiro já estou dormindo, viu! – disse ela.
O marido não dormia. Nas contas de travesseiro era dinheiro e se alguém interferisse soltava a tropa, colérico. Então a esposa o aconchegava e o meninão dormia recostado ao seio, entremeio a cafunés gratuitos dela. Em sonho fazia contas e cobrava dívidas, em cujo estado mental tinha um haras. A mulher virava-o com um pouco de esforço e o homem pranchava fungando no travesseiro da cama, num sono como num laço. No quarto se misturavam carneiros e cavalos num mesmo curral. Puros sangues e puros pelos.
O filho do berço ao lado deixava a chupeta e ia puxar o rabo da imaginação, dos cavalos que batiam o pé junto ao seu berço. Os pais acordavam com um choro e depois um sorriso de espasmo. Com o que sonhara o malandrinho a essas horas da madrugada? Com os carneiros da mamãe ou com os cavalos do papai? Não se sabia, mas a frauda estava úmida e com uma mancha em destaque. Levanta-se a mãe e o amamentava com a canção do “cuca vem pegá”. Como a cuca nunca vinha o bebe sempre dormia como um Jesus da manjedoura depois. Assim devolvia o bebê por sobre a guarda do berço e ia contar os seus carneirinhos, ao lado dos cavalos de raça do marido. Na madrugada o choro de guelras do recém-nascido vinha à tona, o breu do quarto assustava àquele a quem a mãe dera a luz. Risos de espasmos e visão disforme, via pelo tato o que os pais pensavam ver, cuthi-cuthi. Nem aprendera números reais ouvia os pais contarem bichos imaginários e era obrigado a povoar o seu inconsciente de repetições bizarras, porém, naquela idade não podiam regurgitar e a má digestão do jantar engendrava presságios ao casal.
Certa vez, o marido acordou em balbucio de um pesadelo: são um, dois, três... Três cavalos de raça! Eles estão fugindo e valem um dinheirão, segura! – sonâmbulo, dava voltas no quarto na frente dos cavalos imaginários, tentando cercar. Não aguentando o bater de cascos, a mulher fechou a janela e “segurou a tropa” do homem, que falava dormindo. Que cavalo? Disse a mulher enquanto balançava os ombros dele, que lamentava sentado na cama e olhando para o chão – perdi os cavalos, fugiram. A mulher tentava contornar o momento ruim, dizendo: Não perdeu, não; eu compro de volta. “Mas com quê dinheiro, querida?” E ela disse calmamente: não se preocupe, eu vendo meus carneirinhos. Não, gritou ele - Sem dinheiro se vive, mas sem lazer, não.

3 comentários:

  1. Que comédia da vida real!!
    Dormir assim... é melhor só que mal acompanhada (o)...
    Abraço, Célia.

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    Respostas
    1. Pois é. Abção e feliz 2013 com bastante sorte e bons sonhos em travesseiros macios e leves.
      Camilo

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