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O blog atém-se às questões humanas. Dispensa extremismos ou patrulhas. Que brilhe a sua luz. Bem-vindo e bem-vinda!

sábado, 7 de julho de 2012

O homem que não sonhava
Suas madrugadas vãs eram andanças pela casa, contra o horário do sono, num relógio revoltado numa parede parada. Uma contagem para... per si, nada mais. Iam e vinham carros, caminhões e ônibus num ponto de desembarque, mas para onde? Dentro de casa tinha alguns quadros apagados e um uma escultura dentro da gaveta. Detrás da cortina via a noite passar, esta que os mortais ressonam, estanques. Quando muito punha os ouvidos na parede geminada e ouvia o seu vizinho tossir e continuar dormindo ao mesmo tempo, num zumbido medonho daquela colmeia gigante.
Se dormisse quem seguraria o eixo imaginário da terra, tamanha era sua preocupação com a vida e afazeres. Um avião passou no céu estrelado deixando um traço de fumaça que vai se desvanecer pela manhã. Um veículo não tripulado ou carregado de notívagos, estes céus vão desabar, pensava. O balanço da vida não o embalava, precisava estar de olhos bem abertos. Se fechasse algum cataclismo adviria nesse ano de fim profético da história -2012. O mundo ia acabar, disseram os maias, o professor e muita gente sabida. Afinal, quantos fins tem a terra? Já a exterminaram umas cem vezes a golpes de profecias ou porquês. Hoje o apocalipse já vem com fundamentações pseudocientíficas ou, alguma personalidade, um famoso, escreveu ou deu a entender. Já existe uma embalagem para a catástrofe, vem à porta, encartado em qualquer jornal ou folhetim de supermercado o manual do fim do mundo com distribuição gratuita sem sacolinha.
Tendo visto isto tudo, aumentava muito a probabilidade de nesta noite o mundo acabar. Razões é que não faltavam e nomes, muito nomes estranhos, mas convincentes para o fim, aliás, este insone tinha um arsenal de palavras no google, aurélio e wikpédia, só clicar e o mundo se destruiria gramaticalmente correto. Algum meteorito ou mesmo asterisco, algum movimento browniano da nossa galáxia, via láctea nos destruiria; aliás, este nome lhe dá vontade de beber o leite proibido pela nutricionista e que lhe dava pesadelos.
Foi assim absorto que aproveitou a companhia de outro vivente. Um gato preto que cruzou o portão e negaceava. Cheio de olhar nuvens que nada diziam saiu para ver as coisas de fora, com o gato que ia embora. Andou como Forest Gump, o do filme, cruzando mundos e ouvindo absurdas buzinas diante de seu pijama listrado de caminhante da noite. Atingiu a linha do trem desativada. Aqueles dormentes talvez lhe dessem algum sono e foi pisando neles com o felino sobre os trilhos intermináveis, andando para chegar ao horizonte que não chegava.
Caminhou horas, sem tirar as pedrinhas de sua pantufa ou coçar o traseiro, era um obstinado! Assim foi até que um trem imaginário o atropelou. A vida não perdoa mesmo, pensou o gato, e por isso insuficiente não terminou a crônica...

3 comentários:

  1. Ah! Maldita insônia... de uma forma ou de outra... leva-nos... sem piedade alguma.
    [] Célia.

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  2. Pra mim, os momentos que antecedem o sono são os mais angustiantes! São aqueles em que ficamos mais vulneráveis e acompanhados apenas de nós mesmos - e se perder em pensamentos é, por vezes, muito muito pesado.
    A crônica capta bem essa tensão meio sem sentido que a gente sente. haha. Sente pra dormir e acordar no dia seguinte e ignorar a confusão que foi...
    Muito bom!
    Abração e continue escrevendo, sempre! :D

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  3. É, caro, pelo horário não deu para terminá-la mesmo, mas ficou boa. Bjossss. Lu

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