Conteúdo

O blog atém-se às questões humanas. Dispensa extremismos ou patrulhas. Que brilhe a sua luz. Bem-vindo e bem-vinda!

sábado, 10 de dezembro de 2011

Eu, papai-noel !



Eu, papai-noel! ! - Você acredita em mim?
Eu já furei minha pantufa, ando de chinelas virando esquina e tropeço no corredor. Tenho dois cachorros brincalhões e um cavalo imaginário. Levanto da cama com lençol na cabeça, mas ainda não sou fantasma. Sou talvez como muitas coisas que não se vê à primeira vista e que não têm função imediata como um cadarço solto, mas arrumei um empreguinho, um bico por enquanto. SOU PAPAI-NOEL AGORA!
Foi um contrato com uma empresa estrangeira, vou vestir-me como um verdadeiro papai-noel. Já tiraram minhas medidas, a barriga está boa, vão acer
tar os cabelos em caracóis, a face é adequada, o meu nariz será tirado e colocado um narigão menos contundente. Nos meus olhos vão pôr lentes azuis bem fininhas para perecer nórdico. O saco, ufa, a melhor parte, vão me dar sacos especiais e vermelhos amarrados com cordões de ouro. A swat vai me treinar a entrada pela chaminé ou casa com cachorros bravos, tempo cronometrado, manobras evasivas para não parecer ladrão, posso ser confundido – ao invés de dar presentes, vão pensar que estou me presenteando. Nada de prazer no trabalho, tenho de ser profissional. Um linguista já me foi tirando aqueles vícios que tenho de uai, ara, tô fora, etc.; ao se abordar uma pessoa tem de falar ôôÔ e só, nada de inventar em cena. Repeti ao diretor uns mil ôôÔ e dormi repetindo para não esquecer, isso até o natal; o resto é figurino.
Estava feliz em ser papai-noel, ia realizar um sonho de acreditar em mim ao menos, já não acreditava neles, papai-noel não existe – sempre achei. Dormi sonhando em ser aquele que sem acreditar, mas via nas minhas fantasias. Na véspera do natal meu ôôÔ estava bom, forte, grave e repetido, fazia o som na hora do café, em todo lugar e os cachorros já vinham me lamber, será que estava os convencendo de ser o bom velhinho?
O natal chegara. Desci em silêncio ao porão onde escondia meu figurino e o espelho de minha esposa. Ouvia os brindes pelas casas vizinhas e vivas de lá e de cá, enquanto eu me arrumava e aquelas pessoas iam adormecer para eu sair com meu trenó escondido na horta. A noite foi avançando no rutilar das estrelas e a hora chegou, peguei o trenó em silêncio e sai amassando uns pés de couve, as janelas fechadas dos quartos vibravam no ressonar de crianças. Esgueirei-me por meio de fios elétricos e galhos e fui descendo em ponto-morto, ah, esse trenó meu era motorizado (esqueci de dizer lá atrás).
Depois de passar todo meu setor e crianças cadastradas voltei e encontrei meus cachorros fazendo festa e meu ôôÔ deu lugar a uma gélida tosse, pronto, eu sabia, logo vi que esquecera alguma coisa. A minha esposa me esperava do outro lado com meu gorro vermelho, inda bem que as crianças não me viram e os adultos não acreditam em mim.

4 comentários:

  1. ... é já não se fazem mais papais-noéis como no tempo das nossas ilusões... cair na real é o melhor a se fazer... fugir do consumismo e da ilusão para sermos felizes tem outro sabor!
    Abraço...ôÔÔ

    ResponderExcluir
  2. Célia, estou respondendo aqui, mas espero que leia na próxima entrada.Grato sempre pelos seus comentários propícios. Um abraço, na real.
    Camilo

    ResponderExcluir
  3. Boa Tarde Camilo, eu acredito em você e acredito em papai noel também, neste espirito que nos alegra com sua risada e que nos enche de esperança de dias melhores. Parabéns pelo texto rico, agradável e muito comovente.

    Um abraço

    ResponderExcluir
  4. Oi, Camilo! Estou tentando dar um olé no Blogger que não tem me deixado comentar no seu blog. Você escreveu um texto cheio de magia, perfeito pra esta época do ano. Parabéns!

    ResponderExcluir

Seu comentário é valioso. Grato.