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O blog atém-se às questões humanas. Dispensa extremismos ou patrulhas. Que brilhe a sua luz. Bem-vindo e bem-vinda!

sábado, 3 de setembro de 2011

Amigos, grato pela centena de acessos. Hoje, nesta manhã fria, posto um texto que ressuscitei da minha gaveta e descobri nele algo novo, espero que também o descubram. Essa luta homérica do homem contra as adversidades e dificuldades cotidianas de encontrar-se consigo mesmo e sua força o torna bizarro e projeta-se num personagem de TV e se a roubam?

O personagem poderia ser talvez Hércules (grego), mas o Sansão veio como nome e se encaixou bem como verão ou não (rsrsr).

O sono de Sansão
Ficara dormindo na madrugada fria. O barulho do interruptor na cozinha entrou nos seus sonhos, mas esse breve acordar o reconduziu ao travesseiro – ela está pela casa, acho que vai aprontar o café mais cedo. Do lado, o travesseiro afundado e quente com alguns fios negros dos cabelos dela, exalava o cheiro característico de sua presença, que ainda que distante sente.
Se levantasse, faria ele o café. Lavaria a louça e cozinharia o feijão de molho, daria jeito na mistura e faria um arroz com um alhinho bem frito no amarelinho do azeite. Mas hoje ela se dera ao trabalho, não fora às aulas. Inda bem que desta vez a esposa não usava os seus saltos, mas pisava como que em plumas – estava mais cuidadosa pensou. Meio sonhando e dormindo ia tecendo o ambiente que a mulher perambulava, penteando-se, maquiando-se ou puxando a descarga. Era porreta, não sentia frio quando tinha alguma coisa para fazer, levava tudo a eito. Dava-lhe alguns carinhos quando passava pé ante pé pela cama, mas ele meio grogue a via nas cobertas retorcidas ao lado. Mexia-se muito à noite e ela tinha de dar uns trancos nos ombros para ele se aquietar, mas naquele dia estava calmo. A porta da frente bateu e ouviu uma chave virar no trinco, fora-se.
Por certo, deixaria como sempre faz, um bilhete dentro do seu sapato ou gaveta de cuecas – era assim amável e gentil. O cachorro nem latiu e já teria comido sua ração e recebido o afago das mãozinhas dela e agora, com o sol alto, se aquecia deitado no chão atrás da casa. O vizinho também fazia silêncio, os pássaros cantavam distantes, sem a algazarra da manhã. Teria de levantar, mas a cama estava boa. Foi abrindo os olhos devagar. Ela trocara a cortina e mudara alguns móveis de lugar. Esticou o braço e não encontrou o interruptor do abajur, ela tinha o tirado de cima do criadinho mudo também. Enquanto dormia, mexera no seu mundo, irou-se - o que, num acesso, lhe fez jogar a coberta longe. Já era tarde. Dormira demais. Dalila! Sua malandra, olha o que fez! Mudou tudo dentro de casa.
Não tardou e começou a ouvir gritos na rua em frente a sua casa. Homens armados invadiram a casa pelas portas arrombadas. De pijamas, pensou que fosse sequestro por bandidos disfarçados de policiais.
- O senhor tem o direito de ficar calado, se disser algo será usado contra o senhor – emendou um deles.
Como se calar! A esposa tinha saído mais cedo e poderia ter sido assaltada.
- Assaltada, sua esposa?! Ao que consta no chamado, o senhor é solteiro e foi assaltado, posto na cama por uma coronhada, não se lembra?
Ainda perguntaram seu nome e ele disse o de sua imaginação - Dalila; o dele...
Um B.O. de roubo de TV foi lavrado, a vítima Sansão Da Lila.

3 comentários:

  1. Oi querido.Obrigada pelas palavras lindas no meu email...Pretendo voltar sim...logo...logo...beijo...fica com Deus....

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  2. Final imprevisível, Camilo! Surpreendente! Abraços!

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  3. Gosto de textos assim com uma pitada de novidade. parabéns!!

    um abraço.

    beth

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