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O blog atém-se às questões humanas. Dispensa extremismos ou patrulhas. Que brilhe a sua luz. Bem-vindo e bem-vinda!

sexta-feira, 10 de junho de 2011

O burro falô

Amigos, para comemorar o padroeiro de Piracicaba, santo Antonio, fiz essa crônica, mais ou menos um causo caipira. Espero que curtam. O padroeiro daqui foi imposto pela vontade de um coronel povoador da cidade, queria pôr seu nome, Cel. Antonio Correa Barbosa, mas agora já nos acostumamos com o feriadinho do dia 13. Vocês vão ver por quê, abaixo:


Acessem também o http://www.camilotextos.blogspot.com/ - este blog voltado mais a textos sobre críticas literárias, falando sobre Agatha Christie, com o texto É o mordomo!


O burro falô
Dizem que foi em Itu que o boi falô, mas em Piracicaba foi o burro de santo Antonio. Foi numa noitinha no que quando um caipira fumava à beira de um barranco, desgostoso do trabalho, revirando as ideias, ouviu uma voz atrás dele. Olhou em volta, negaceou e ninguém. Voltou para beira do barranco e outra vez ouviu alguém falando. Falar sozinho era também seu costume, mas quem falava ali? Outro resmungão? Abaixo o riachinho descia manso e a noite tilintava distante num estrelado bonito, o que é bonito parece que está sempre longe e de perto só o trabalho, o suor e a ocupação de todo sol.
O patrão o fazia trabalhar direto, até em dia santo. Era véspera de Santo Antonio, ia chover de madrugadinha, porque o céu ia mudando já. Sempre a sós com seus sofismas, matutando dia e noite sua desdita encontrou alguém que falava. O que você quer, disse em voz alta e a voz baixa respondeu, quase ao seu lado:
- não precisa gritar, não sou surdo, veja o tamanho das minhas orelhas!
- quem é que tá falano, que eu num vejo ninguém – e o burro falou mais grosso, com voz de burro mesmo, sentiu o ventinho de capim mascado de suas ventas.
- sou eu, ara! O burro.
- burro fala?
- tô falano, num tô. Se amofine não, amanhã o cê vai discansá.
- comé que o cê sabe?
- eu sô burro do Santo Antonio, o cê vai vê!
No dia seguinte, o capiau levantou já esquecido da noite anterior, laçou o animal e ia saindo. Puxou, a corda esticou e estacou no pescoço do burro que não disse uma palavra. Puxou que puxou e nada de o burro vir, empacou de vez como carro em atoleiro. Chamou o patrão, que veio nervoso. O burro o fitou com os olhões. Os dois puxaram, puxaram e nada. O padre estava passando por ali para filar uma boia e o fazendeiro o chamou também. Veio com a batina preta e pôs-se a puxar o animal empacado, esconjurando o preguiçoso, quando este abriu a boca com os enormes dentões e mexeu os beiços e falou claramente no vernáculo:
- Seu padre, hoje é dia de Santo Antonio, esqueceu? Não vou virar olaria não.
Verdade? Não tem como provar porque este burro depois deste dia nunca mais falou e nem trabalhou em dia de Santo Antonio e nem eu.

*******finar***

Veja no meu novo blog de críticas literárias!

É o mordomo!




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2 comentários:

  1. História sensacional, Camilo! Tem mesmo a sua marca, tem o seu dedo de autor de escrita primorosa. Parabéns, amigo!

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  2. Olá amigo, como vai? Passo lá qualquer hora no seu blog. Ah, Itu e Piracicaba são pertos aqui no estado de São Paulo e representam o berço do dialeto e hábitos caipiras e as histórias...
    Camilo

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