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O blog atém-se às questões humanas. Dispensa extremismos ou patrulhas. Que brilhe a sua luz. Bem-vindo e bem-vinda!

sábado, 2 de abril de 2011




Divulgação: Hoje ainda a peça Lugar onde o peixe para, com apresentação no teatro municipal de Piracicaba. É a história daqui e mudam os atores, mas a peça é imortal. Se puderem, vejam-na. Já escrevi vários textos sobre e ainda há muito conteúdo a explorar.


Posto Tartaruguinhas para espairecer um pouco, pois meus dias contados pelos olhos fechados de meu pai me são difíceis, o pobre dorme acamado e fala aos sopros fracos. Meu Deus, louvado seja, sofremos pelo derradeiro neste flagelo e as letras me fogem, mas Deus supre o humor e oxalá tenha para dar aos meus escritos (texto sem humor é ruim).


Fotos: Polyana Stocco (filha da Luzia) - a força do feminino; Alessio Quartarollo, meu pai, precisa dizer mais, meus textos sempre o terá nas entrelinhas ou insconcientemente; quem? dona Luzia quebrano cana pra chupá, minha esposa peralta no cenário do Peixe; e esse cara aí, um devoto, eu, ara.






Tartaruguinhas


Eu tinha um tempo danado. Nada para fazer. Lá fora um sol quente rasgando as frestas da janela, já bem rachada. Que preguiça! Ia deixando para amanhã todas as coisas por fazer. Sempre se tem alguma coisa para fazer e fazer o quê? Quando não se sabe o que fazer, nada se deve fazer – alguém disse isso, mas não vou pesquisar não. Vez ou outra me assustam esses flash dos turistas, gostam de fotografar essa decadência e diz que preservam a minha cultura brasileira, só porque bato as cordas de uma violinha dentro de casa. De mim não, foto minha eu cobro. Não sou bonito, mas minha feiúra tem preço, ara. Que dia preguiçoso! Era uma repetição do anterior, que não saí de casa. Sair prá quê? Vejo TV e dou umas voltas por aqui mesmo, depois descanso outra vez. Dizem por aí que o tempo voa. Voa não. Hoje mesmo vi dois elefantes passarem feito nuvens, nuvens eram, e se aninharam bem longe, do outro lado do céu, talvez na Índia. Mas aqui em casa também me divirto. Ôh! Tenho duas tartaruguinhas que correm sem parar pela casa. Já falei prá mulher “benhê, esse barulho de tartaruga”, elas correm e a gente não vê. Nesses dias mesmo quase esmaguei uma debaixo do meu dedão e ainda ela olhou para mim e disse algo em sua língua de quelônio. Quando vi elas balançavam o rabinho curto e sem pelos, credo, esses bichos falam com a gente – minha mulher acredita. Usei de minha autoridade e as pus para fora, mas no outro dia estavam dentro do meu sapato e quase morderam o meu dedão. Vi os dentinhos delas, mostravam para me atiçar e gritar para minha mulher; resisti detrás da cadeira com as chinelas do banho. Dizem que se batê-las no liquidificador a gente toma aquele caldo amarelo pardo cremoso e vai viver muito, vai crescer cabelo e perder barriga, mas tem que bater com o casco e tudo. Pra que viver tanto? Deixa elas aí pela casa, assim a gente distrai. Os turistas ainda não viram elas, rsrsrsrss.

Publicado no A Tribuna Piracicabana em 02/04/11

3 comentários:

  1. Para que liquidificar as bichinhas, meu Camilo!
    Já vi umas liquidificadas por pneu de carro e é coisa feia, dói no coração da gente.
    Gosto muito como escreves,uma linguagem profunda e temperada com seu humor característico.
    Parabêns!

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  2. Grato, Camilo, por mais essa crônica. Abraços, Pedro.

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  3. O que pode simbolizar uma tartaruga...
    Passos lentos , fortes e firmes .
    Longevidade.Que mais...
    Desejo que o pai celestial , poupe o seu pai de um sofrimento maior .Assim rezemos por ele, e pelos que estão em seu entorno.
    Um forte e carinhoso abraço !
    Luis Antonio Bandeira Junior

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