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O blog atém-se às questões humanas. Dispensa extremismos ou patrulhas. Que brilhe a sua luz. Bem-vindo e bem-vinda!

sábado, 19 de fevereiro de 2011





Você tem medo de santa-cruzes, eu também tive, mas vejam meu texto abaixo e grato pelo acesso.
O blogueiro.



Santa cruz

Essa daí, compadre Cláudio?
O compadre da cidade ficou a olhar sem dizer quantas lembranças lhe traziam o monumento caipira. Tem história, isso tinha, mas contar assim com as palavras não dava. Eram muita coisa para dizer assim! Assim reza o jeito de contar dos caipiras. Solene, calmo, discreto, com respeito. Caipira quando conversa, gosta de ser ouvido por Deus e pelos homens.
Sem mais palavras, tratei de ir formando palavras débeis de meu texto, mas uma névoa em minha mente trazia tantos eventos que fiquei grogue. As palavras corriam em meus dedos como uma psicografia. Os mortos respiravam naquela gruta quente e simples, envolvida com capim e pintura velha. Olhei para o compadre, em seus “zóio” pequenos e úmidos e sem dizer uma palavra. Era ali que a tantas procissões viera. Tantos irmãos caboclos encontraram-se, tantos pais-nossos e ave-marias rezara, tanta fé manifestara sem nenhum conceito de teologia. Se perguntasse a ele quem era Deus por certo responderia o que o padre disse, mas sua fé ia além, inclusive das minhas palavras. A tábua solene em cruz, cheirando a jasmim dizia mais que uma assinatura autoral, falava de vida que só se traduz com vida. Pobre escritor, “empiastro tradutore”.
O lugar era numa subida de curva da estrada, flores brotavam entre algumas ervas aromáticas, plantadas ou nascidas a esmo, não sei, mas parece que nunca saíram de lá. Era como se a terra emergida do oceano há uma eternidade estivesse sempre daquele jeito. Ninguém ligava para a tal santa cruz, era como uma entidade, um portal em meio ao sertão, desolada e somente os ventos a percebiam ali abandonada pelos homens.
Descemos a casa de noitinha. Uma luz se postou lá encima na forquilha do madeiro. A lua viandante corrigia aos focos a guisa de um iluminador secreto, e sempre na montanha aparecia a santa cruz com velas que alguém acendeu no seu interior e fechou a portinhola de vidro. Mas depois naquela noite choveu tanto que só deu para espiar da veneziana de casa. A santa cruz imponente. Os pingos fortes nos relâmpagos sobre a gruta. Parecia que o rutilar incomodava os mortos, mas não, a santa cruz protegia a vila dos raios, disseram-me.
No dia seguinte ia-me embora com meu texto, mas ao passar lá, meu amigo que ia junto parou.
- O cê num vai acendê nem uma vela?




O Seminário Sinopse:
A morte de Olderick reabre a discussão sobre um fato antigo, o da morte de Adelmo em 1940, noviço e autor de um diário desaparecido. Duas mortes semelhantes em épocas diferentes. Coincidência? Talvez. Mas ainda outra morte da mesma sacada e os ataques aos seminaristas nas cercanias do Seminário põem em dúvida a tese da simples coincidência. Os moradores desconfiam de alguém furtivo pela casa antiga, de muitas janelas, portas e passagens secretas. Talvez o diário de Adelmo ou as anotações de Olderick possam elucidar o mistério, mas o jovem Teófilo vai descobrir coisas que nunca imaginou
Preço de capa: R$23,00. Já reservou o seu? Faça pelo e-mail camilo.i@ig.com.br

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