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O blog atém-se às questões humanas. Dispensa extremismos ou patrulhas. Que brilhe a sua luz. Bem-vindo e bem-vinda!

sábado, 21 de agosto de 2010


Divulgação de livro próprio
Os exemplares do O Efeito Espacial já estão em minhas mãos, podem solicitar via e-mail camilo.i@ig.com.br e na livraria Nobel do centro e Libral daqui de Piracicaba, pelo preço módico de R$13,90 (treze reais e noventa centavos). Conta sobre os efeitos remanescentes de uma abdução sofrida pelo narrador, ao qual foi devolvido em terra em forma de miniatura e animalzinho; sem coragem de contar cada vez que recobrava a forma humana, foi vivenciando essa contradição de homem/rato.
Não perca! Mesmo adquirindo-os nas livrarias, tragam-me que eu autografo.
Grato aos que já adquiriram e, querendo, podem comentar no e-mail.
Abraços.
Blogueiro/autor.
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Demoliç ã o .........
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Ali tinha uma casa, um velho que cumprimentava da varanda. Uma mureta baixa e um jardim de rosas com espinhos e uma escadinha de vermelhão. A porta da sala era... não agora estava quase derribada. Via-se por dentro como corte de planta baixa. Alguns passos de olhar e já se via toda desnuda. O banheiro com alguns cacos dos azulejos caríssimos e as louças antigas e brancas. A nobreza de uma cozinha como se ainda alguém desfrutasse de uma refeição leve. Os grandes vitrôs encostados com os vidros empoeirados e lá não havia ninguém.
Viam-se aos fundos as árvores em contraposição, várias delas. Um pessegueiro em flor, laranjeiras e um chorão. Uma relva fresca, em brotos verdes pelo chão. A casa em breve não constaria mais nos registros da prefeitura, seria extinta das confrontações, de quem olha da direita e da esquerda e de quem nada olha. Podia dizer que lá estive, mas não tive coragem de descer do carro diante dos herdeiros proprietários que traçavam linhas com um engenheiro ou arquiteto. Contentava-me ainda com a última visão, como a ver seres mitológicos e aves de rapinas. Sabia que por certo ali surgiria um belo e enorme arranha-céu, desses que abrigam muita gente e que tem guaritas lá em cima e só abrem por aviso de interfones.
As casas velhas sempre são tombadas mesmo, assim foi a de meu avô, serão a de meus pais e a minha já não se aguenta em pé, por que resistir? Não há mais casas nesse quarteirão e essa era empecilho de um velho gagá. Só a dele, que egoísta – ainda o chamam assim alguns. Também ele sucumbiu há dias atrás, morreu. Já não morava lá e sim num lar de idosos. A casa estava em pé por sua vontade. Não, por sua vontade não, mas pela sua “não” anuência. Não vendeu, não a alugou e não a demoliu. Agora os filhos... vai deixar lá para quê? Acho que sei. Eram as suas lembranças, da esposa que já morrera, dos filhos que lá tivera e de si mesmo, talvez até dos vizinhos distantes como eu, acenava prá mim. Peguei várias mudas dele, transplantei pés de chás e de outras plantinhas no meu quintalzinho, ainda as tenho. Suas memórias são me caras também, apesar de não saber que eu as escrevia secretamente em um periódico. Não sabia não, não fazia conta, suas lembranças tinham vida própria. Contava tudo mesmo. Acho que seus filhos não vão as querer, têm as suas.
Mas o ronco dos tratores e as placas de alerta estão lá, os tratores vão terminar o que começaram e desta vez é uma retroescavadeira, mas e as plantas? Que nada! Outra máquina que veio lá pelos fundos as pôs abaixo num barulhinho que nem os vizinhos ouviram. E eu que pensei que fosse daqui o desastre. Via a casa agora em agonia e sentia como se a decapitassem. Desci o meu fusca em ponto morto para evitar o poeirão e olhava pelos vidros fechados, queria presenciar aquele desmanche, era o único vizinho ali. Os tratores começaram a roncadeira e iam entrando pela calçada quando alguém gritou “Parem aí, acho que tem gente lá dentro”. Dentro da onde? Pensei, não havia mais casa! Havia a casinha do cachorro, o último a sair com os bombeiros.

2 comentários:

  1. Camilo,
    O que vale mesmo é que levamos no coração, coisas materiais não tem valor. Novamente, esse texto me fez lembrar a casa que morei por muitos anos com minha família. Foi muito difícil quando eu me mudei, por tudo que lá vivi; estava "presa", mas depois foi a melhor coisa que fiz. Belo texto, um abraço!

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  2. estou fazendo um livro este é o meu primeiro, e resolvir fazer um blogpost para escrever pequenos contos segui meu blog também.

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