Um questionamento filosófico de um tema que virou jargão, felicidade. Todos cobram-na de Deus, dos homens, das mulheres. Eu abordo singelamente, e espero ter sido feliz neste esmero.
Blogueiro feliz?
Felicidade existe?
O jovem Félix ingressou ao seminário para ser frade. Desde os
primeiros dias arranjou sandálias e um modesto hábito marrom, com o qual
passeava pela sacada, piedosamente; todavia, o mestre de estudos disse que
estava ali, não para ser frade ou religioso, mas para ser feliz. E o que é ser
feliz? O mestre, e filósofo, não disse.
Uma vida sem dor, uma vida sem lágrimas? Dirão que felicidade não
existe, mas uns míseros momentos felizes, e só, contente-se. As demandas de
felicidade e realização surgem mesmo a um destinado à vida de renúncias, aliás,
existe vida sem renúncias? E lá dentro do seminário, como cá, a vida pulsa. E o
jovem para seguir a vocação de franciscano não queria viver das esmolas das
missas, mas de seu trabalho, como São Francisco, tendo talvez suas ferramentas
de trabalho. Saiu à cata de algum serviço e foi parar num restaurante,
prontificando-se a servir, por qualquer salário, meio salário que fosse.
Passados duas semanas, não dava um mês, pediu as contas, as meias-contas.
Perguntado disse que aquela atividade não fazia parte do seu jeito de ser – bem
filosófico.
Ora temos um conceito bem grego de ser feliz, de uma vida plena de
desejos satisfeitos e de gozo, alguns comparam a gozo eterno, e como um orgasmo
divino quando fazem filantropia, uma troca para se obter a perfeição da
consciência e apaziguar os maus agouros, pois a caridade mesmo é função
religiosa mais premente e de renúncias.
Ledo engano de um misantropo travestido. Felicidade conceitual, de
pacote pronto, é uma falácia, um embuste pensar que o morador de uma mansão é
mais feliz que aquele que dorme sob uma figueira ou do outro, dentro de um
palácio frio. A felicidade está mesmo dentro da gente e além da simulação de
dor, lágrimas, sofrimentos ou morte. Vê-se felicidade como objetivo e não modo,
sujeito em ser o que a vida nos dá a cada momento. Ser feliz não é portar
nenhum estereótipo, é viver o ser essencial de si mesmo. E qual é? Só vivendo.
O que é ser feliz? As pessoas felizes não dizem. Afinal, ser feliz não
tem preço, não é preciso ideologia, filosofia, nem explicação, basta ser. E o
leitor vai ver um infeliz e reclamar. “Mas você é feliz?” O “infeliz” acha que
o é porque o mundo não lhe é justo, o mercado não o atende, é verdade, mas
pelos males do infeliz, todo mundo considerado feliz passa num nível ou no
outro – somente que alguns vão achar que é praga e outros que é oportunidade,
inclusive em ajudar aos outros, ajudando-se a si mesmos.
Final feliz seria, portanto e afinal, o sonhado e o real, inexorável, juntos;
então cuidado com os seus sonhos, eles podem se realizar, mas não do jeito que
sonha, mesmo que durma sobre um travesseiro de penas ou de pedra.
Para
mim felicidade agora é escrever este texto, calma, já volto a ser infeliz, tem
tempo e, conclua-se que se felicidade não existisse, infelicidade também não.
Creio que o jovem Félix é feliz, mas ao seu modo peculiar de ser, talvez de
meias-contas, meias palavras e meios de ser, numa vida de traços e borrões.
Aos "meios" somos todos felizes... A realidade em seu texto faz-nos 'pensar felizes'...
ResponderExcluirAbraço,
Célia.