Plágio é um assunto que amedronta alguns talentos precoces, mas o que é? Há vários estudos sobre plágio, nem todos é criminoso, como se pensa. Alguns são os chamados plágios criativos, vide na net, tem o assunto. No caso que escrevo uso o termo num sentido amplo, mas na verdade, lembro de ter muita inveja da sabedoria do meu pai, de simples. Quando saí do seminário religioso com tantas demandas e muitas questões pra cabeça, meu pai trabalhava tranquilo vendo o seu tempo passar e vendo o meu correr contra si mesmo e dizia o saber não ocupa lugar, mas também não preenche tudo, né pai. Aahahahah. Hoje ele é morto, digo, já viveu sua vida, seu tempo já passou, mas permanece no seu Kairós.
Blogueiro plagiador
Meu maior plágio
A velhice veio e trouxe
algumas sequelas. “Não vão me pôr no rol dos doentes”, dizia - tomava alguns
remédios, mas nunca aceitou o estado de doente. Nunca se assumiu como tal.
Homem ativo, mas as mãos começaram a tremer. Suas mãos tremem, pai! – e ele
justifica: “Paralamas de carro velho também balança” Com a insistência da
família vai ao neurologista e começa a tomar alguns remédios.
Aos
oitenta e um anos é acometido de alguns tombos e não sem perder o humor. Numa
destas vezes a queda foi da cama, ao levantar. Bateu a cabeça, sangrou no
supercílio e recusou-se terminantemente a ajuda médica. “Nós chamamos o
resgate, levo-o de carro, isso precisa de pontos” – insistiam todos. Que nada,
ficou lá com um galo enorme e uma bolsa de água gelada na cabeça. De pijamas, do
quarto ninguém o tirava. Num “eu me viro” vai deixando os bons samaritanos
acuados, contrariados na sala ao lado. Os vizinhos achegam-se, querem ver o que
aconteceu. Uma batidinha! Logo o ferido mesmo explica, minimizando a dor que
deveras sente. Não solta um gemido sequer, só os membros tremem.
Os
médicos de convênio já acostumados com os diagnósticos consultam mais um. São
remédios daqui e dali. São os rins, os intestinos, a próstata, a coluna, o
pulmão, a fisioterapia, o exame disso e daquilo. Uma tremenda análise para
descobrir e ele não está preocupado em explicar aos entendidos. O velhinho de
boné, magro, de óculos que fala baixinho com uma rouquidão de poderoso chefão
(do filme), se faz acompanhar pela esposa, fala pouco e os médicos não querem
escutar muito do que tem a dizer – sua vida – a roça, as plantações, as modas
de viola, as feiras-livres.
No
dia seguinte, no final da visita que fiz, ia-me embora, mas ainda no portão, ao
ver seu olho vermelho e o ferimento do tombo do dia anterior, preocupava-me. Mais
um tombo, hein, pai? Tem de se cuidar, põe travesseiros no chão ao lado da cama,
chama alguém para ajudar a levantar. Ouve pacientemente as minhas reprimendas
de filho sadio a pai doente e ri por dentro, seus olhinhos pretos sabiam. Mas
como foi, pai? Continuei naquela conversa de portão, é normal prolongar a
despedida de quem amamos. Ele disse que sonhara que minha mãe o chamou e ele ao
levantar-se caiu, visto que o corpo do sonho estava bem, mas o real não lhe
obedecia. Mas, pai! O senhor se mata qualquer dia desses! O senhor quer se
matar? Não se preocupe – me tranquilizou – eu só caio quando quero - e riu
baixinho de sua refinada ironia. Bem, essa foi mais uma de suas tiradas e ele
não escreve crônicas! Eu as copio dele. Esse é meu pai, Alessio Quartarollo!
Meu maior plágio.
Hoje
tenho a impressão de que me cerca em alguma porta que se abre ou que abre para
mim a certa, meu saudoso, nem tão saudoso assim, somos da mesma têmpera. Velho,
eu só coloquei algumas vírgulas, uma preposição aqui e ali, para melhorar a concordância
aos entendidos... Entendidos? Claro que são, pai.
Bendito seja esse plágio: - de pai para filho - amor maior não há!
ResponderExcluirAbraços, Célia.