Amigos, grato a todos pelo acesso a este blog. Espero que curtam mais este texto.
Blogueiro
Incidente em
Piracicaba
Tarde domingueira,
morna, uma leve queda de temperatura, uns ventinhos manhosos, esfriando, o sol
zombeteiro e por fim veio dez minutos de saraivadas de granizos e vento forte
como látegos, rodopiando, arredios, levando tudo aos ares. Dez minutos somente.
O cenário era de árvores arrancadas com raiz e galhos contorcidos em gritos
mudos, fios caídos pulando como peixes elétricos e todos curtiram nos celulares
como vagalumes na repentina escuridão.
Saí ver pelas ruas
escuras com sirenes de bombeiros e de carros sem seguro contra eventos naturais
ou sobrenaturais, vozes e gritos nas calçadas, enquanto algumas velas nas casas
da cidade era o espectro dos casebres, num breu total fora em piscar de
celulares ou faroletes improvisados. Nos aglomerados todos queriam contar a sua
desgraça.
A luz apagou, a TV
interrompeu-se, desprogramando os seus telespectadores. O mundo parou.
Fora, meia-noite, ainda
uma lua prateada que embevecia o céu, sem nenhum olhar, isso não é notícia.
Não soube de nenhum
óbito, mas ao avistar o posto de bombeiros vi ao lado o muro do cemitério caído.
Meu Deus! Uma ideia me passou como um relâmpago. Os mortos fugindo, um a um
aproveitou o inusitado e saltaram fora. A garoa fina beliscava meu para-brisa e
aquela gritaria de mortos pela avenida. Quase atropelei um que voltou pegar o
buquê do caixão, morto novo ainda. Liguei para alguns amigos para avisar e,
realmente, os mortos estavam retornando às casas deles. De nada adiantavam os
grossos cadeados do enorme portal, o coveiro ainda tentava cercar alguns, mas desistiu
e os deixou além.
Liguei para o Miguelzinho,
esse não deixava do celular nunca e disse-me “estou saindo”. Não, cuidado, Miguelzinho,
não saia - disse-lhe - está um pandemônio na rua, tudo caído, caiu até o muro
do cemitério, imagine. Ele retornou dizendo “eu sei, estou saindo já”. Saindo da
onde? “Desse caixão feio, ara!” Ele havia sofrido um acidente fatal de moto um
dia antes e ainda nem sabia que morrera, ia fugir também. O adverti que
ficasse, “nem morto”, disse; morto sim, vai ficar aí, emendei – ora, vivo manda
em morto, não manda? Rebelde como ele só, sempre contrariando, jovem, afinal...
Os mortos sempre ficaram tão bem ali durante o dia, cada um seu túmulo e à
noite põem-se cadeados nos portões e pronto, mas basta um trovãozinho e já
querem sair! E ele continuou “o atestado de óbito tá errado, meu, tô vivo aqui,
qué sabê, vou protestar com os outros” Era o que faltava! Meus Deus!
Não
se preocupem, conterrâneos. Passei lá hoje e já estão consertando os muros e os
mortos retornaram todos. Desculpem-me a brincadeira pai, avô, amigos e parentes
todos, mas brincar mal não faz, enquanto não soar a trombeta eu vou
contrariando até que, totalmente contrariado, ponham-me a dormir junto à mãe
natureza. Vou sentir saudades, vou morrer de saudades.
Apesar de... é hilário... Lembrei de um amigo que pediu para ser enterrado com o celular, pois, vai que ele acorde... poderá sair do sufoco... Fico pensando como ele carregará a bateria do mesmo...
ResponderExcluirAbraço, Célia.
Grato, Célia. Na próxima tenho de lembrar disso, de que talvez um raio ligue o celular, ahahahahHAHAHAH.
ResponderExcluirBlogueiro