Amigos, grato pelos acessos a este singelo blog. Um amigo me trouxe a história do Chiquinho, mas coloquei o contador como personagem também; embora no texto não apareça o nome do cãozinho, depois me contou o amigo muitas outras particularidades, detalhista e perceptivo como é. Seria um bom cronista se quisesse escrever e me deu várias dicas deste animal particular e de suas manifestações de amizade, acho mesmo que o Ângelo queria pentear o cachorro (brincadeira). Obrigado, Ângelo.
O cão desgrenhado
Tinha um cão e um
gato bem cuidados. Banhados e penteados diariamente, cão e gato não se
desgarravam ou brigavam, cada um com seu cocho ornamental e ração própria, um
não mexia na do outro nem no prato de porcelana do Ângelo, um comedor frugal e
de saúde indelével, dele nem espirros se ouviam, se os tivesse os fazia
discretamente num lenço dourado escuso. O homem era de uma polidez intocável.
No ambiente de casa nada destoava da organização e do bem-estar. Tudo combinava
ao bom gosto, os móveis, os vasos chineses que ninguém ousava derrubar, os
quadros dos avós, que o homem cuidava com esmero, observando o lugar, a cor e a
sombra. Tinha uma percepção pródiga, ouvia ruídos antes de o cão ladrar,
discernia o perfume e odores de transeuntes na rua e de alguma dama exagerada e
até... sentia o aroma de flores que nasceriam em seu bem cuidado jardim. Neste
não deixava estátuas de anões ou lago artificiais, mas eram gramas pedras,
flores multicores e chamariscos para borboletas e beija-flores.
Um móvel, no
entanto, o incomodava. Era um presente nefasto, nada condizente com o bom gosto
e ordem da mobília. Ia desfazer-se. Chamou um carreto, tratou com o homem por
telefone e que este desovasse onde quisesse, mas ali não queria mais. Seu Celso
veio com o caminhão de carreto para levar a velharia. Ao chegar a casa,
esperavam na porta Ângelo, o gato penteadinho, o cachorro de botinhas. Celso
estacionou na frente da casa e deixou lá alguma coisa sob a lona - outra
entrega, pensou o dono da casa, que foi abrindo portão e portas para passagem
do móvel sem lascar nada. O homem ia fazendo força com o móvel e conversando
com um português de dialeto. Tivera também cachorro, mas sem possibilidade de
cuidar deixara este em uma instituição. O cão de Celso, todavia, voltava todas
as noites dormir com o dono. Ângelo sentiu cheiro de cachorro e olhou para a
garagem e viu um cachorro de rua, sujo, desgrenhado, com pelos há muito sem
tosa, um focinho proeminente e a cara escondida entre fios. Assustou-se, quis
tocá-lo dali, bateu o pé, levantou a mão para espantá-lo e Celso protestou:
- Eh! Esse cachorro
é meu! Ele num fica sem eu, vem atrais. Carregou o imóvel como um hércules e ainda faltavam muitos outros pelo caminho. Pôs sobre o caminhão sob o olhar de alívio do dono da casa e foi. Ao descarregá-lo percebeu algo dentro do móvel. Abriu uma das portas trancadas e um pente com cabo de marfim.
Aos interessados, Crises do filho do meio é meu quarto livro lançado e a aquisição é comigo pelo e-mail camilo.i@ig.com.br. O valor é de 20,00 pela obra de 184 páginas. O pagamento é a gosto do cliente.
... cada cão... tem o dono que merece... rsrs!!
ResponderExcluirAbraço, Célia.