HUGO CABRET
A história passa-se
depois de 1900, vê-se a torre Eiffel já de construção dessa época. Era
vitoriana em que as crianças eram tratadas como adultos, concorrendo para elas
os mesmos deveres destes. O furto
famélico, de um pão, era tratado como crime e crianças assim se tornavam
“criminosas”. A História conta que,
principalmente na Inglaterra (o enredo se passa na França), os empresários
requisitavam órfãos e mulheres para as fábricas, que era mão-de-obra barata.
O menino Hugo Cabret passa pela orfandade com muito
esforço em permanecer livre e conquistar um trabalho na profissão do pai,
relojoeiro e consertador de engrenagens. O filme gira em torno de um conserto.
Do quê? Materialmente é de um autômato, um robô, que o pai de Cabret morre
antes de consertar e que pertence a alguém que o abandona. Há uma história
singela por trás.
O que é o robô, o que são engrenagens, tecnologia da
época, de cujas eram as esteiras e máquinas, onde a eletricidade era gerada com
manivela e eletroimãs? Uma das respostas aparece quase ao final.
Hugo sonha que está salvando o robozinho na vala dos
trilhos do trem, que ao parar, derruba toda a estação central, cujo lugar se
tornou o seu lar. Noutro pesadelo, o menino sonha que está se tornando ele
mesmo no robô – como se a máquina tivesse ou algo tivesse o poder de o
transformar. Sonho premonitório, porque no enredo “real” do filme acontece, não
igualmente, mas de forma análoga. E quem é o robô que salva das linhas trem e
de cujas foi salvo pelo guarda de perna mecânica que o perseguia? O diálogo com
o criador da máquina responde. Cabret se
desculpa, desconsolado, salvou da destruição completa, mas quebrou ao cair; ao
que, o criador do robô abraça a máquina que há muito construíra e diz que
estava perfeitamente bem para o que precisava. Ou seja, depreende-se que o
valor era sentimental e um símbolo de tudo que recuperara de sua vida e de seus
sonhos, mesmo com uma máquina quebrada as engrenagens do seu cérebro voltaram a
funcionar – o robô era uma “mera simulação”, projeção.
As engrenagens e os relógios dão o tom aos sonhos da
época. Marcam o tempo, o temo é tudo diz o tio de Cabret, que morre no rio Sena
e deixa a estação toda aos cuidados do órfão que vive num contínuo despiste ao
guarda de perna mecânica e miolo mole, bem mole, e que representa a autoridade
da época – ou seja, meninos podem ser bons ou adultos maus. A estação que
guarda este homem de uniforme e perna mecânica é por onde a vida de todos
passam, sob relógios de idas e vindas de trens, só Cabret permanece na torre,
entre as engrenagens. Há algo mais simbólico?
O diretor Scorsese fez uma obra magistral, mas poderia ter
feito melhor em minha opinião, pois não colocaria o Ben Kingsley no papel do
criador do robô, pois este personagem devia crescer no final e Ben Kingsley, a
meu ver, não conseguiu fazê-lo mais que esforço – nesse papel seria outra
pessoa, um ator, que se esforçasse para ser duro no início e se desvelasse humana
no final. O protagonista de Gandhi é duro, um ator duro. A escolha de Scorsese
foi difícil e tentou com Bem. Eu talvez escolhesse outro final, colocaria uma
personagem de viagem na história, para dar a sensação do transitório, uma
pessoa comum que saísse daquele vai-e-vem em que as crianças trombam e que
quase passam sobre a menina em suas pressas.
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Hará unos meses encontré su blog y lo enlacé al mío porque me identifico con sus opiniones. Hoy he leído su artículo acerca de la película de Scorsese y no puedo estar más de acuerdo con usted en su apreciación por el error de colocar a Kingsley en ese papel, porque nunca he compartido la exagerada valoración que se da a los actores inexpresivos o secos. Para que un actor nos seduzca con su interpretación debe dejar una grieta de vulnerabilidad al descubierto, aunque sea muy estrecha. Como en la vida misma, si un personaje se muestra monolítico y no demuestra tener carne y sangre, no me interesa en absoluto.
ResponderExcluirAsí y todo la película es tan buena que incluso le perdono a Scorsese este fallo de cásting.
Le felicito por el blog. Saludos desde Barcelona.