Amigos, grato pelos acessos a este blog da semana que passou. Posto um tema caro a mim e quase uma meditação, coisas que sempre me inspiraram poéticamente. Espero que gostem desta produção mais poética que as narrativas. O blogueiro.
Areias da Arábia
Os
camelos também choram a perda de seus filhotes. Choram ao som de um alaúde. Quanto
mais ao som doce e continuado de uma flauta esquecida em meio do mundo, perdida
no desconhecido. Nos lençóis áridos das dunas de amarelo sem cor; à noite, como
tapete lunar ao céu. Som cadente que a brisa eleva a entonação, num sustenido
agudo e choroso, que vai aos mais profundos anseios do homem rude, firme no
chão de areia que escorre com o vento, como uma enorme ampulheta. Teve que se
unir a natureza para viver com leite de camela e da sabedoria dos seus
ancestrais. As areias encobrirão os seus passos, mas a sua história a escreve
no espírito.
Outra
tenda, um recomeço. A lua se postou cheia desta vez. O céu azul projeta nas
dunas um leve azulado e os olhos pastam até marejados, colhem estrelas no céu,
como uma criança as conta e define formas celestes. No silêncio eterno da
noite, nada separa o homem dessas duas imensidões, o céu e o deserto. Sua
tenda, sua roupa e sua cimitarra, sua família e lá fora o olhar de Deus de um
canto a outro do céu.
Nada
destoa do infinito, a dança árabe numa tenda, como os véus de Lalivati, que às
sombras tênues da Lua fosca atordoa. Destemida, receptiva, numa dança
ancestral, com espadas e adagas, que ora seduz e ora defende, no mesmo gesto
intrépido. Oxalá, o grito brandindo a língua e os pés no chão. Sim, em meio a
noite a tempestade de areia. Vem mais forte na madrugada cobrindo abismos,
sepultando sonhos num levante incólume, que nada a detém. Tempestades, o que
fazer? Distantes solos arenosos esvoaçam e espicaçam os cumes das dunas, como
dromedários abatidos a tiros. Os humanos como formigas protegem-se da mãe
natureza. Os camelos atados blateram, com as patas cobertas pela areia, não
agacham, não se dobram, resistem. De traços pré-históricos somente dobram-se ao
oficio da montaria milenar. Em pé esperam o novo amanhecer no deserto mudado
pelo vento. O deserto é outro, os caminhos são os mesmos.
De
manhã tudo é silêncio. Os animais sabem que tudo se foi, mas sob a areia e
pedras muita vida restou, a natureza se refaz escondida da ambição e da
exuberância. A força brota de animais e pessoas bem adaptados e de sabedoria
milenar. E sob os olhares negros de Lilavati
debaixo do seu véu azul a medida da dor, das contradições, das tempestades, das
indiferenças dos ventos e a força do ente feminino.
Nossa força diante das tempestades de areia ou da vida transportam-nos à muitas histórias espirituais, ficcionais ou reais. Mas, sempre vida com intensidade! Belo o seu conto, poeta! Parabéns pelo seu dia - "Dia do Poeta"!
ResponderExcluirAbraço, Célia.
Quanta honra,Célia. Vc conhece bem a alma humana, abração grande.
ExcluirCamilo.