Piracicaba que eu adoro tanto...
Passeei pela Esalq, circundei o círculo do feijão por sete vezes e mil sensações. Sentei-me no bondinho. Descansado, pensei em voltar pegar o carro e ir ao centro da cidade.
Não, o cobrador me tomou a passagem das mãos e
picotou, vamos de trem de superfície disse ele. Aquiesci. Demos uma volta para
pegar outros pontos, um em frente à ETE Piracicamirim e que odor! – havia flores
odoríficas e nem se percebia a estação de tratamento de esgotos.
O
trenzinho ia devagar naquela segunda-feira de rush, mas de poucos carros, o
povo preferia trens e havia linhas suficientes.
Apesar
da garoa pássaros faziam algazarra na cidade mais arborizada da região, enquanto
a monitora dentro do trem ajudava alguns idosos e crianças. Descemos a rua XV,
nenhum carro estacionado indevidamente sob as placas, no fluxo carroçável os
motoqueiros de entrega rápida ultrapassavam pela esquerda somente, num aceno ou
buzinando aos motoristas, cordialmente. Não havia guardas de trânsito ou
seguranças porque há anos que nenhuma infração ocorria, nem reclamação. Os jornais
publicavam poesias e crônicas no lugar das notas policiais.
Fizemos
uma parada no mercado municipal. Desci e a moça do paquímetro veio-me com moeda
de um real. Não vim de carro moça, vai me multar? Não, disse ela, como têm
poucos carros circulando, os lojistas estão incentivando que se venha de carro
e este é o valor para o senhor estacionar quando vier. Com esta moeda comi dois pasteis e tomei um café
preto. Voltei ao trenzinho, respirando o ar puro de Piracicaba e com o aceno de
todos, meus conhecidos conterrâneos.
E
agora? Vamos à Rua do Porto gritou o motorneiro. Uau! Sobre o rio o trenzinho
flutuava nos trilhos invisíveis e vimos uma água límpida que dava para beber
com os olhos, os peixes miúdos e grandes brincavam. Uma natureza pródiga e
exuberante exultava o Altíssimo, como minha cidade é linda! Vimos o translado
do capitão Correa Barbosa, enquanto os nativos da margem oposta acenavam dóceis
pela delicadeza do homem branco, naquele tempo de conquista. Acima a ponte que
o capitão não viu, onde ciclistas acenavam numa ciclovia segura, exclusiva. Adiante
as enormes chaminés apagadas do engenho, numa época sem poluição, e via-se o teatro com
capacidade para ninguém ficar de fora. Algumas moças airosas passavam
distribuindo flores nativas e um sorriso bem brejeiro, as caipirinhas. Um psicólogo
alemão que passeava ao meu lado quis elucubrar dizendo que os chaminés eram símbolos
fálicos da cidade, imagina! Piracicaba é tão pacata e ordeira, a fina flor do
Estado. Ara, se é. Enchente?! Nem pensar! As casinhas antigas agora foram
postas sobre enormes barcos e nas cheias iam para os lugares altos, hehehe. O turista
acreditou.
O
trem foi até Santa Terezinha, terra do Gleison,
para vermos o quilombolas e o samba de lenço, era dia de festa para eles
– a área do quilombo fora cedida aos seus descendentes e a alegria reprimida
era rebatida nos atabaques, que euforia boa, de suar feliz também. Merecido.
Como
era dia de eleição municipal tive de voltar mais cedo ao presente. Aos solavancos
acordei no banco do bondinho e tudo parecera tão real! Piracicaba...ninguém
compreende a dor que sente e finge tão completamente, que deveras a invente. O caipira
é um fingidor?
O "caipira" é um fingidor sim!! Só assim mesmo para reverter todo esse quadro que se defronta em nossos dias, tidos como "era da tecnologia"... E, "aos solavancos" vamos ao encontro às benditas eleições...
ResponderExcluirAbraço, Célia.