Amigos, agosto tinha fama de ser de cachorro louco. Eu nasci neste mês, mas normal, um pouco...
Espero que gostem dessa ficção, que os amigos da Tribuna Piracicabana deram um espaço hoje e posto aqui também no blog. Vamos cruzar as patinhas e ficar amigos.
Abração
Ele é o cão!
Que sonho, meu Deus! Sonhei que meu
cachorro podia falar e andar com duas patas, ereto, pela rua afora, e pior,
tomou minha identidade e saiu por aí fazendo dívidas, comprando com meu cartão
de crédito. Imaginem só!
Até que estava me afeiçoando a este
cachorro, mas não sabia de suas personalidades múltiplas. Desculpem-me os protetores
de animais, mas ele extrapolou e vai voltar para a coleira por um bom tempo. O
problema é que me escapa sempre e, ah, no pesadelo, ele me laçava e punha-me
dentro da casinha, com ração e água. Já pensaram! Uma casinha onde cabe um
poodle somente. De fora, dava uns latidinhos para mim e depois de me aprisionar
saiu com minha esposa, ela sem perceber que não era eu, se percebesse... ou
será que percebia? Bem, estava ficando com as pulgas imaginárias atrás da
orelha e somente via o tchauzinho dela, fazendo caretas, como se eu fosse um
imbecil e lá me deixava dentro da casinha. De identidades cruzadas, ele era eu
e eu era um cachorro.
De fora, minguando um alimento humano
e um carinho, a ouvia falar que ele “mudara para melhor, estava até mais
bonito” – ele, um cachorrinho que livrei da corrocinha, roubou o meu casamento.
Quando chegar a segunda-feira queria ver como ia se dar no trabalho, queria
ver; mas chegando o dia, tomou seu banho, cantando as minhas canções prediletas
sob o chuveiro quente e usando meu sabonete, saiu sem se barbear. Ah, se ela o
visse! Mas ela gostou do new look dele, com aquele rosto pontilhado de
descuido, e ainda passou a mão pela sua cabeça, num último carinho de portão.
Safados!
Eu assistia a tudo pela fresta, quase
privado de ver e ouvindo os resmungos e nhenhenhém deles e depois ouvi um
estampido de beijo e ele a deixou, vi o aceno pela sombra. Ia esperar no
almoço, pois chegando ao trabalho e não sabendo o meu metiê como ia se safar?
Safou-se o malandro, tirou férias logo a seguir. As minhas férias que não
tirava há anos por medo do chefe. Só restou-me a zanga e a solidão do meu
quintal e a fresta de sol da manhã, onde me esquentava. As ruas conhecia de
barulho e conversas do ponto de ônibus perto e num dia o ronco do meu carro que
saiu e foi distante por semanas, deixando-me um resto de ração velha e um cocho
de água, onde comia e dormia até quem sabe Deus. Matava o tempo afugentando
passarinhos e, à noite, fugindo de morcegos; mas de domingo os rojões me
afligiam os tímpanos, se alguém fizesse gol. Que idiotice.
Foi um pesadelo horrível, acordei com
a impressão horrível e tinha medo de olhar no espelho, dei voltas na casa vazia
e olhei o quintal por onde penara tanto. Comprei ração nova e uma casinha mais
aconchegante e eles vieram do veterinário, ele tosado e alegre. Ele é o cão!
Obs:
Comentem aqui ou para os que quiserem meu e-mail é camilo.i@ig.com.br
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