Caros amigos(as) ontem estivemos em Indaiatuba-SP, onde foram escolhidos os trabalhos literários para o mapa cultural do estado de São Paulo. De Piracicaba, Luzia Stocco ganhou aplausos e honras da bancada pelo trabalho Torradas não se despedaçam, mas não conseguimos classificação melhor. Foram interessantes as orientações dos jurados ao público de escritores sobre os trabalhos feitos e seus eventuais problemas, mas também lamentaram que muitos poderiam ter alcançado o primeiro lugar. Dos lidos ao microfone, muitas coisas boas e bem escritas. Penso quando algum texto meu vai ter a honra dos lábios e bocas, além da minha. Snif, snif...(interrupção para chorar, ahahahaha). A minha crônica desclassificada foi Morte Certa, mas eu já sabia assim como a morte é certa, meu texto não estava dos melhores, admito; mas este abaixo está tinindo e saiu do forno há poucos dias no jornal da região.
Juventude transviada
Qual é a imagem do
avô de hoje? Perguntei aos jovens. Perguntei sim, pois tenho saudades dos meus
avós, até da sisudez deles, meu avô de terno preto, surrado e bem caído, não
tinha outro mesmo.
Por piegas ou
saudosista que lhes posso parecer, as coisas dantes não eram tão efêmeras, tão
portáteis e os presentes de casamento, como uma baixela, passava de mãe para
filha e, às vezes, à neta.
As coisas valiam e,
por consequência, as palavras também. Não precisava de muita folha para dizer o
que se pensava, nem carimbo de ninguém.
O carro do vovô de
antigamente, quando o tinha, era cuidado, bem cuidado, e o motor limpo e macio.
Ao entrar sentia-se o cheiro de automóvel e do esmero. Qual é o cheiro de
automóvel? Ninguém sabe. Antes tudo tinha cheiro, as coisas eram cheiradas, o
café cheirava, dava tempo. Coisas boas e ruins tinham cheiro, até gente tinha
cheiro de gente, não de perfume.
O mundo era mais
simples, sem teclas e atalhos que dão bem mais trabalho e horas em frente da
telinha piscante, você não vê, mas ela pisca. Os atalhos eram caminhos no meio
da mata ou brejo e de muitos atrativos, encompridavam o tempo. Ah, existia a
ideia de lugar, de onde voltar, um sagrado de vivências próprias, que ninguém
pode comprar, mesmo que fosse de aluguel ou de favor. Existia o tempo, as
estações. As expectativas eram de meses, preparando-se, assuntadas e únicas.
A ideia da casa
quase desapareceu, a de minha casa, de almoçar lá, come-se na rua, bebe-se para
esquecer e dorme-se ao lado de uma piscina coaxando como sapo. Voltar para
casa? Ou para si mesmo? Mora-se mais em apartamentos, no corredor tal onde a
luz acende e apaga, lá nunca tem ninguém, mais se passeia, é uma casa
dormitório, come-se em alguma esquina, quando volta, viaja, põe a família no
facebook e vai embora.
Todavia, hoje acho
engodo à forma de pensar nesta figura mítica do velho. A forma ingênua do vovô,
da vovó, como se fossem familiares. Essas ideias vêm carreadas pela da bom
velhinho e boa vovó, provedores de coisas saborosas, brinquedos e do centro
familiar, da mesa ou do chão onde construímos o nosso pequenino mundo, mas
crescemos.
O vovô de hoje anda
de moto, tem personal trainer, faz implante de cabelo e enxertos, pinta-se para
ficar eternamente jovem, a idade não o faz arcar, tem excelente dentição falsa,
pratica esportes radicais e, muitas vezes, está acompanhado de sua namorada que
tem a idade da neta e ele sabe diferenciar. São, por vezes, problemas à família
de tradição e de bons costumes, dando dor de cabeça aos filhos caretas.
Como disse antes,
fui perguntar aos jovens sobre os velhos. Um me respondeu assim.
- Que foi, vovô, o
que quer?
É, talvez já tenha
idade... e eles veem os avós de outra forma que nós. Somos os antepassados
deles agora, mas estaremos à altura de suas memórias, de seu tempo?
Creio que há em nós um tempo que não se exaure;
pois ainda vejo o tempo preso nos bigodes do meu avô e o meu já vai em decurso,
quase a avô.
Outros tempos!
ResponderExcluirOntem: avó submissa ao avô. Dona de casa. Íntegra! Ele, o provedor. Ela a subalterna.
Hoje: ambos em igualdade de condição - explorados pelos netos - em viagens, presentes e mimos...
O digital e o virtual tomaram lugar das historinhas e das bênçãos orantes em família...
A aceitação de fases da vida tornou-se impraticável... Outros valores! Ai dos avós que não se atualizarem... viram "mico" para os netos!
Abraço
Há problemas de valores mesmo, Célia, e seria precisar pensar isso, mas os que pensam são poucos e nada ouvidos, há aí uma pedra enorme no caminho entre as gerações; já que vivemos numa época economicamente melhor e de mais bens de consumo, as coisas e as pessoas perdem seu real valor. Abç
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