Amigos, grato pelos acessos, neste texto de hoje Vip, é o Pedro, uma pessoa comum. Não sei se era meu amigo ou se tratava-me bem, mas era uma pessoa especial. Por outro lado, nesta semana tive uma experiência com uma pessoa, colega de trabalho, que distribui gratuitos rancores e ódios por todos os lados como cavalo soltando pelas fuças suas dores e agressões desmedidas. Nestas horas de ouvir ofensas gratuitas a gente fica querendo ter alguma autoridade ou ser alguém em que estes espíritos estacionários ponham-se no seu lugar, mas sou um igual nesta zona morta; mas, com a graça de Deus, existem pessoas como Pedro e outros anjos.
Vi Pedro(Vip)
Descendo pela rua havia uma reforma com tapumes, pedreiros, um
meia-colher que dava o acabamento no muro com sua desempenadeira. Era o Pedro,
tinha de ser. Depois de décadas que o conheci em pouco mudara. Mas seria mesmo?
Tinha de me certificar no meu banco de memórias.
No primeiro emprego, numa fábrica de biscoitos, lá o conheci. Olhou-me
ingênuo, com sorriso de sempre e apresentou a mão espalmada, característica de
seu cumprimentar. Então das mãos estendidas fechava com a da gente e dava uns
bons balanços. Nunca entendi seu sorriso de japonês embora não fosse oriental,
aquele sorriso que a gente não sabe por quê. Se me visse, estava sorrindo,
sempre. Não se sabia o que pensava, nem por qual time torcia. Falava por sinais
e sorrisos. Parecia feliz por estar ali.
Da leva que foi demitida nos anos noventa da crise de Collor eu fui
uma baixa da fábrica. Ficaram alguns que comentavam de lá e de cá dos nossos
amigos de trabalho e um a um foi saindo, os que achávamos bons funcionários,
competentes e até dos chefes, não se sustentaram com a exigência da
reengenharia.
Pedro passou a trabalhar em padarias, amassando pão com as mãos fortes
e espalmadas, aberto à amizade do pobre. A felicidade de Pedro, várias vezes em
subempregos me faz pensar da alegria dele. Quem era mais feliz, quem viaja de
iate com o mulheril dos comerciais de TV, ou o Pedro, um arquiteto da alma
humana. Um serviçal que acertava massas ao ponto de biscoito sem bissulfito de
sódio e de pães sem Bromato - que punha muito engenheiro e químico no chinelo.
A felicidade é muito relativa, quiçá aquela vizinha da janela. De boca
gorda com seu batom vermelho gritante, esperando seu admirador da obra, que
adora dona loira – talvez ela seja mais feliz que as modelos famélicas que voam
pela passarela por um cachê, porque modelos são modelos, nada mais! E da
vizinha loira o Pedro gostou por muito tempo, mas não sei o que deu depois, dos
biscoitos e pães que levava escondido no paletó para ela.
Voltei no caminho então, sob o risco de perder o ponto no meu emprego
e cumprimentei o homem. Abriu-me as mãos espalmadas, olhou para mim e sorriu da
vida, do tempo, de nos revermos. Seu contentamento traduziu-se em risadas, sem
muito falar, com a mesma naturalidade de sempre. Era feliz, era o Pedro, embora
o crachá fosse de outro.
Eu vi Pedro, por certo ele viu Jesus.
Agredeço à Tribuna Piracicabana e ao amigo Erich pela publicação naquela jornal.
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