Agradeço ao meu amigo Salmo Delphino por indicar esta leitura e reconhecer meu estilo no deste escritor Thecko. Kafka – de que me acusas?
O processo de Kafka fala da nossa civilização. Sua obra literária O
processo começa com a insinuação de que alguém fez alguma calúnia contra o K.,
o protagonista vítima. O processo se desenrola, sem denúncia formal, sem se
saber o porquê, mas com detenção, assédio moral e difamação do detido como
alguém que algo fez, porque estava nas mãos de guardas. Perde a privacidade de
hora para outra e os vizinhos evitam contato com ele, como se tivesse alguma
doença.
Há a curiosidade dos vizinhos que não querem ser vistos de suas
janelas, talvez porque escondam coisas também e estão felizes em ter um bode
expiatório e com chancela moral pelos guardas ou inspetor, que nem estes sabem
o crime do detido, mas sabem que devem detê-lo.
Tem-se a impressão por vezes que a detenção é relaxada ou a possível
liberação do acusado, mas é uma liberação fictícia, o possível caluniado vai
ficar sob custódia de três colegas meio doidos no seu trabalho, pessoas que não
fazem parte de seu círculo de amigos e que farão companhia. Estes colegas
talvez representem a incapacidade crítica e a vivência aceita dentro de um
regime totalitário, os quais teriam que moldar o nosso K, nosso não de Kafka.
Os processos de condenação na história seguem um ritmo parecido. No
Brasil da ditadura havia o dizer de que “se está preso, por que alguma coisa
fez” ou a frase machista que diz “que não sabe por que bate, mas sabe por que
apanha”. Uma visão subjetiva de justiça. Todavia, assim é o ser humano quando
vive a caverna de Platão, que não consegue ver se não através de sombras
projetadas nas paredes de sua caverna, sua própria detenção de vida privada,
fantasias e sonhos.
O protagonista de Kafka vai experimentar outra detenção, uma liberdade
vigiada, em que pode pensar, mas sua ação é restrita pela opção ou falta de
opção e ignorância dos circunstantes investidos de autoridade.
No processo fraudulento mais conhecido da história, a da condenação e
da bacia de Pilatos, a morte de um líder religioso de oposição a Roma e às
instituições financeiras, Jesus. Segue o bode expiatório e a comiseração deste
ou daquele, uma hipocrisia; mas nessa narrativa evangélica podemos perceber
muitas outras facetas humanas de humanidade em Verônica, no traidor Judas, no
covarde Pedro e no astuto e bondoso João evangelista. O único apóstolo vivo que
ficou para a história depois do martírio de todos os outros e morreu de
velhice, passando pelos mesmos perigos de Pedro. Com este estava junto à
fogueira na noite da negação do colega, por sua influência e amizade fez Pedro
entrar e na crucifixão estava ao pé da cruz, dando o apoio necessário nessas
horas. A acusação de Jesus foi inscrita em vários idiomas na cruz, o de se autoproclamar autoridade diante de Roma e rei dos judeus. INRI. Será que conseguiremos entender a tragédia de K?
Amigos, se querem uma boa leitura aí está, O processo, de Franz Kafka;
mas leia-se com visão crítica e não pessimismo, porque a condição humana e
nossa muitas vezes nos induz a pensar a ruína, mas nem sempre.
Camilo, li sua resenha e comentário que me instigou a providenciar mais essa leitura, no mínimo, desafiante! Valeu! Abraço, Célia.
ResponderExcluirA obra de Kafka é interessante e um drama de todos nós. Descreve ações e personagens pelo interior e revela um mundo próprio. Obrigado pelo comentário, que sempre enriquece este singelo blog.
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