Amigos, grato aos acessos a este singelo blog de crônicas da vida.
Nada melhor para um escritor que frequentar o teatro e ver o espetáculo de fora para dentro e de dentro para fora, da coxia e da plateia; mas quando se está no meio de Invisíveis a coisa muda, você os vê de qualquer ângulo, em círculos e a cabeça roda na relatividade do momento do Multiverso que é a nossa existência fugaz e sem persona que a TV e outros vão pegando da gente, nós também somos nós, embora invisíveis, ara.
Texto-reflexão sobre a peça teatral “Os
Invisíveis”, do grupo Salve! de São Pedro-SP
Invisibilidade
Os invisíveis. Se não
pode vê-los, quem são?
Quer ser invisível?
Tem formulação individual, pegue com seu profissional. Leia o rótulo antes, e,
ao persistirem os sintomas...
Eles podem estar
entre as camadas, nas linhas divisórias do status social e econômico, os que
ficam abaixo da sua linha não são visíveis. Por quê? Estão fora do modelo, do
tipo de roupa que você veste, do linguajar que você tem, dos valores que você
adquiriu, dos costumes seus e do protocolo, mano. E vê-los seria regredir,
rebaixar. E lutamos tanto para subir, não é mesmo? E os que estão acima da
linha? É para eles que temos de olhar, certo?
Comecei como
estagiário e agora já estou numa mesa, minha, tenho algumas mordomias já e meu
salário já dá para fazer uma imagem para minha mina. Ah, meu pai que me colocou
aqui, disse que tinha de começar por baixo, ia sofrer e depois galgar como ele,
ter família e tudo mais. Ainda vou ser como ele, como ele não, melhor. Ainda
vou ser chefe dessa porra. Não sou egoísta. Os outros? Que briguem que nem eu.
Competição, meu amigo.
Depois de um tempo,
do sucesso almejado, nos pegamos a fazer caridade, afinal, temos de tirar essa
gente a quem “o governo não olha” da linha da pobreza, mas eles não ajudam,
estou cansado de dar esmola, o nego prefere tênis e droga que uma ajuda. Disse
o rapaz da ajuda aos necessitados, da igreja, que a gente tem de ir de roupa
velha levar as coisas para os pobres. Eu, hein, vou regredir agora, meu! A não
ser que apareça na TV pelos meus quinze minutos de fama e depois vão saber que
eu estou “só ajudando”, sabe.
Tô nessa de
sociologia não, tô mais querendo progredir, ser alguém na vida. Quero curtir,
que daqui a pouco bato as botas. Educação? Eu, hein. Esses caras fugiram da
escola, não querem nem saber de estudar, falam errado, nóis vai, nóis vorta. Eu
fiz cursinho de português, mano, para entrar na repartição, falo inglês. Ah,
penso, em português, claro, mas falo a língua do tio Sam dá status, currículo.
Gíria? Não sou povão, não, cara. Votar? Voto em quem me dá algum, no amigo de
meu pai, ele me deu uma bolsa... cheia de dinheiro, uuu.
Ah, tô saindo com
uma mina da hora, ela tem uns amigos gay, mas tudo bem, ela tá comigo e é
linda, levo-a aos jantares da firma e tudo mais, mas se enche o saco meto-lhe o
pé na b.... a minha “imagem” mano!
Machista, eu? Sou um
cara resolvido. Re-sol-vi-do.
Amigo, se conseguiu
chegar até aqui neste texto e gostou desta AUTOIMAGEM, você já é invisível e
não se deu conta, e faz tanto tempo que não o vejo. Vejo um efeito de óptica,
de espelhos reluzentes, de cores, de imagem do facebook. Cadê você?
“Vim a este mundo
exercer um juízo: a de que os cegos vejam e o de que aqueles que dizem ver
fiquem cegos” (Jesus de Nazaré)
O
amigo invisível
realmente muito bom. Parabéns.
ResponderExcluirObrigado, Bel.Abção.
ExcluirCamilo
Muito boa a Crônica. Parabéns e obrigado pela sua participação e por ter ido assistir!
ResponderExcluirRogério!
Rogério, foi muito bom acompanhar esse processo e as cenas contundentes e por si só explicativas. Abção.
ExcluirCamilo