Amigos e amigas, blog é um espaço onde o blogueiro coloca suas coisas como uma agenda e a dessa semana é uma crônica que mandei para os jornais. A foto ao lado é da minha família nos idos de uns trinta anos passados, mas que mostra ainda um pouco da época que abordei no escrito e dos cabeludos e cabeludinhos. Espero que curtam.
Blogueiro escritor
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Cabelos e folículos
Nos anos sessenta,
era da contestação, o cabelo e barbas compridos davam o tom. Até então, cabelo
se cortava e usava-se curto, barba raspada e bigodes, se o cliente preferir. De
resto tinha de ser tudo muito sóbrio e o cavalheiro e damas bem identificados
pelo rosto, mas vieram os Beatles e os Rolling Stones, Roberto Carlos, Caetano,
Gil, Jovem Guarda e mudaram a cabeça da juventude. Corromperam, achavam alguns
setores da sociedade mais conservadores na época.
Uma das bandeiras do
movimento nos EUA eram manifestações pela paz e contra a guerra do Vietnam,
aqui havia um antiamericanismo e a oposição aos militares começava incipiente,
porque a contradição estava em solo pátrio e amedrontava, falava-se,
murmurava-se, mas temia-se.
Os velhos criticavam
a juventude de então, os cabelos... Um tio materno, o mais conservador, odiava
o Lula que se fez presidente, não por suas ideias políticas, mas pela barba deste.
Mas Jesus Cristo também era barbudo, tio – dizíamos - então o tio revidava,
“mas era Deus”. Meu pai chegou a proibir filho de trabalhar com ele pelo uso
das costeletas compridas, isso no começo do movimento dos cabeludos, depois meu
próprio pai, careca, passou a usar costeletas maiores e bigodes grossos, talvez
influência do movimento de cursilho de cristandade que participava na igreja,
abrandou. Apelidamos um cavalo do vizinho de Roberto Carlos, pela enorme crina
escovada solta ao lado, divertíamos com esta associação de imagens. Nós,
moleques, emplumávamos e deixávamos a cabeleira na testa, era uma provocação e
dizer que “podíamos”, talvez atrás desse movimento contestatório, e de muitas
ilusões, havia a ideia formal de ser contra a ditadura, a guerra, o
conservadorismo dos mais velhos, também chamados de quadrados.
Minha mãe não
condescendia com os cabeludos, nem com os nossos cabelos compridos, mesmo
moleques, mandava-nos cortar e bem rente para economizar o dinheiro e
protelávamos ao máximo para o exibirmos comprido, mas quando se vinha do
barbeiro, vínhamos tristes. Cortaram nosso barato, os cabelos. A mãe gostava do
Roberto Carlos, mas católica antiga que era, criticava quando este dizia “que
tudo mais vá para o inferno”, bem contestador do mundo que separava da sua
amada, que “o aquecia no inverno”.
A nós o movimento
chegou como marolinha, abrasileirado, “num país sem guerra”, de batalhas
perdidas e violências escondidas nos porões. Os cabelos, somente os cabelos compridos,
as ideias, as paixões das trilhas sonora repetidas nas rádios, os arroubos de
paixão, muita paixão; como dizia meu pai, ficávamos “bêbados” de tanto ouvir
música. Felizmente as drogas não nos invadiram, tínhamos a continência de não
nos associar a elas, apesar de toda a fragilidade inocente de nossa formação e,
afinal, “os culpados” pelas nossas frustrações estavam em casa, entre amor, ódios,
preconceitos, moral católica e, mais distante, o governo, um ente abstrato
vistos nas botas dos ditadores. Hoje, acho que se discutem mais as questões, avançou-se
além das formas de cabelos e folículos.
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Tempo da Tropicália, da Jovem Guarda, do paz & amor, da minissaia, do rock e do twist... tudo generalizado na 'revolução jovem' que não matava, não agredia a ninguém... éramos felizes e sabíamos...
ResponderExcluirAbraço, Célia.