Amigos (as), ainda às voltas com o Chiquinho, o vira-lata do bairro do meu amigo Ângelo. Não se esqueçam da Gleice, que me permitiu colocar o nome dela nesta crônica de minha inventividade. Espero que curtam. É uma puía, mas é boa e de novo não consegui pôr uma foto sequer, coisas de arquivo e extensões destes.
Blogueiro mentiroso
O Chiquinho voltou?!
Blogueiro mentiroso
O Chiquinho voltou?!
Quando vimos na TV o
cão desaparecido entrar pela porta da capela Sistina avisamos o pessoal do
bairro. Escalaram-nos eu e o Ângelo para buscar o fujão, o Cláudio deu parte da
passagem e pediu sebo nas canelas, mas dona Gleice veio com um terço enorme e
prateado para o papa benzer. Não era para esquecer e o colocou no bolso interno
do paletó dele. A esposa lembrou ainda do cachecol de um vermelho vivo e da
touca cor de carmim e de umas recomendações nos ouvidos dele. Embarcamos para
Roma com uma coleira de reserva, mas uma boa prosa resolveria com o vira-lata.
Enquanto viajávamos
sobre as nuvens o conclave operava às portas fechadas com o Chiquinho dentro,
Deus sabe onde naquelas galerias de quartos; fora, os jornalistas queriam dar
um furo de reportagem no Espírito Santo, quem é o papável eleito? No aparelho
aéreo a trepidação soltava algumas orações presas de um agnóstico contumaz e o
Ângelo dormia como Pedro na barca, enquanto lá fora Jesus pacificava os ventos.
Dizem que brasileiro
tem complexo de vira-lata, ô, alto lá, vira-lata! “Nóis num é porquera, não” e
ah, lembrei que o avião era o mais velho escalado para nossa viagem. As
longarinas abanavam os narizes dos anjos que assopravam mais forte as turbinas
como que intermitentes. Ora, o que o céu da Itália tem de melhor que o nosso?!
“Nóis” fustiga e chega lá, como fizemos com a copa do mundo e muitas outras
coisas. Se cair, do chão não passa.
Chegamos, acordei o
Ângelo. Descemos, ele pegou a malas num bocejo e esperou lendo todos os
informes luminosos rápidos. Eu esperava minha bagagem que passou por mim várias
vezes, sem que eu conseguisse identificar a própria, mas o colega pegou e fomos
buscar o Chiquinho pela praça São Pedro iluminada. Todo mundo procurando o papa
no janelão e nós olhando entre as pessoas, um mundo de gente, para ver o
Chiquinho. Paramos para tomar um cappuccino, sem dinheiro para hotel.
Lembrei-me de que era oriundi, íamos descobrir algum parente, não havia porque
minha família não é muita afeita à religião. Esfriava muito e Ângelo pôs o
cachecol vermelho e a touca carmim e lembrou-se, saudoso, da esposa. Foi a
nossa salvação. Confundiram-no com cardeal e levaram-no até ao vaticano, eu fui
atrás. Passamos pela capela sistina sendo desmontada do conclave pelos
marceneiros e pedreiros e aquele palavrório todo de lá, decididamente não era o
Brasil; porém, não suspeitaram de que éramos simplesmente amigos do Chiquinho.
E o talzinho dormia nuns entulhos dentro, pegamos ele pela coleira que veio sem
rosnar, o terço da dona Gleice ficaria para depois ou eu mesmo benzia. Não,
protestou o Ângelo, já que estamos aqui, ele vai benzer sim. Era abusar da
sorte, mas tentamos subir mais alguns degraus da escada até chegar perto da sua
santidade Francisco. O papa vinha e um guarda suíço também se aproximou, íamos
ser pegos. O meu amigo ajoelhou-se e ergueu o terço da Gleice, o papa abanou a
cabeça e abençoou. Graças a Deus livramo-nos e essa benção mesmo serve, pensei;
mas o colega quis que benzesse também o cachorro, então o papa abaixou fez um
carinho no peludo desgrenhado e foi. Saímos rindo do sufoco com o Chiquinho
para a capela Sistina fora do horário de visita, por certo Michelangelo padeceu
como nós com velas içadas, mas era bela mesmo nas penumbras. Distraímos e o
Chiquinho se soltou da coleira. Ângelo protestou que o papa deu uma benção de
abano ao cão perdulário que fazia festa. Assim voltamos com a coleira abanando
para o Brasil e com o “rabo entre as pernas”, sem o Chiquinho. A tristeza se
apossou de todos, mas de repente no portão ouvimos os latidos do malandro que
entrou e o celular tocou:
- ¿El Chiquito llegó?
(Aos interessados pela minha literatura, vejam as obras indicadas no blog, na folha de rosto deste e, se quiserem, contatem-me no camilo.i@ig.com)
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Seu comentário é valioso. Grato.