Amigos, o texto que posto hoje não é meu, é de um amigo. Literatura é isso, pôr para fora algo que nos move por dentro, é alma, e ele conseguiu muito bem. Parabéns Cláudio Chirelli. Devo dizer também que esta semana atrasei a postagem, visto que ando muito cansado e com vários problemas de toda ordem e a vida me põe mais limites que já tinha.
O blogueiro tardioGrito de Mãe
Ouvem-se as sirenes das viaturas e dos camburões
com os prisioneiros que se aproximam do fórum. Percebe-se cada vez mais próxima
a sirene em nossos ouvidos, de um silêncio que não percebíamos. Rápidamente, como
passe de mágica os portões abrem-se e numa manobra ensaiada a escolta isola a
área para o camburão que entra veloz, fórum adentro. A ordem é a segurança e
evitar-se alguma fuga ou incidente de fora. Policiais ficam posicionados
afastam pessoas que tentam a aproximação dos presos trazidos ao juiz para
audiência.
Fora, pelos gritos se reconhecem noivas, esposas, e
mães, que tentam avistar, por uma fresta que seja os seus queridos, que,
algemados, saem do caminhão.
No meio do “furacão”, uma mulher, baixa, tez
morena, cabelos negros, olhos miúdos, brilhantes de esperança, no colo uma
criança, a neta, talvez o pai esteja lá dentro, talvez com muitas algemas
imaginárias (não sei), além da culpa que expia.
As sombras descem pesadas sob o sol cadente e
percebem os detentos ao virar de cabeça ao gradil. Quem pode prender um desejo
humano, gritos recomeçam. Muitos nomes se fazem ouvir e recomendações, frases
de efeito, português ruim, mas de entonação precisa.
Há grupos retirados de transeuntes e curiosos, sádicos,
condenando os que passarão pelo julgamento - têm de pagar mesmo, bandido é
bandido, seu lugar é cadeia, etc. Todos estamos sob juízo de alguma forma, não
há justo sobre a terra. Nesse momento a escolta põe alguns a correr. A baixinha,
mãe, continua no gradil com a criança protegida no braço, ninguém a tira do
local.
Os gritos seguem contra ela, os curiosos lançam
impropérios. A escolta, vendo-a indefesa e persistente pelo instinto materno, chamada
de vadia, e p... (cedem, olhando e armados).
Gritos e a mãe está tentando ver o filho, segurando
no peito um crucifixo, igual ao da sala do júri, e seus gritos atraem olhares
que ninguém pode desviar, e que sobressai melódico como que pelo sofrimento –“filho oie, a mãe aqui” e acena. O filho
ergue a cabeça, é advertido, abaixa-se no fluxo da dor, segue apartado à
carceragem.
Após a audiência, o camburão é fechado e a mãe
grita a mesma frase -“filho oie, a mãe
aqui”. Lá de dentro, desta vez julgado, o filho grita – “bença mãe”. A mãe ouve, e responde – “Deus te abençoe filho... juízo filho”,
o filho responde – “amém, te amo, veia”.
Do cartório de paredes e vidraças voltadas ao
jardim do pátio, em meu trabalho, não pude deixar de ver as cenas e, em
lágrimas refletir.
Para aquela mãe os defeitos, os delitos cometidos
pelo filho, não mudavam o amor em seu coração, sem julgamentos e preconceitos.
Essa mãe... À que se compara? O amor dela é
incondicional, não ama apenas com palavras, mas as palavras, quando dizem, são
inquestionáveis, mesmo à sombra de armas. Creio que o amor infinito de DEUS
somente se compara ao AMOR DE MÃE.
CLAUDIO CHIRELLI
Aos interessados, ainda temos exemplares do livro Crises do filho do meio.